O Senado tem uma segunda chance de ficar de bem com a opinião pública. O projeto de resolução do Conselho de Ética pedindo a cassação do presidente licenciado da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve chegar ao plenário na semana que vem. Para os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Demóstenes Torres (DEM-GO), é uma segunda chance para reabilitar a imagem do Senado, desgastado com uma crise que se arrasta desde maio e cujo pivô é o próprio presidente da instituição.
“Tomara que não aconteça o que aconteceu da outra vez: massacre aqui e absolvição no plenário. Mas eu acredito que dessa vez o Senado está consciente. São tantas as quebras de decoro, tantas as infrações que não dá para segurar o Renan”, afirmou Demóstenes. “Tanto é que mesmo os aliados se envergonharam, digamos assim, de tentar alguma coisa”, ressaltou o parlamentar goiano.
Para Renato Casagrande, o voto aberto no colegiado na quarta-feira (14) – 11 a 3 – favoreceu o placar “elástico” contra Renan. “A minha expectativa é de que o plenário do Senado possa aproveitar essa outra oportunidade que o Conselho de Ética está dando. Na primeira oportunidade, o plenário não aproveitou e não resolveu a situação. Nessa segunda oportunidade, a minha expectativa é de que o Senado possa aproveitar e resolver de forma definitiva a crise que se abateu no Senado.”
O senador capixaba afirmou ao Congresso em Foco que Renan não tem mais condições de voltar à presidência da Casa. “Independente do resultado no plenário do Senado, as condições do senador Renan Calheiros de presidir o Senado são inexistentes. O retorno dele à presidência seria o retorno efetivo da crise, da obstrução, da paralisia.”
“Cínicos!”
Na primeira acusação, a de que Renan recebeu dinheiro de empreiteira para pagar despesas particulares, o senador foi condenado no Conselho e absolvido no plenário. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), entende que a opinião pública considera os parlamentares “cínicos”. “Diz que são uns cínicos, pois dizem uma coisa no Conselho de Ética e outra no plenário”, avalia o tucano.
Ele acredita que os cenários de agora são diferentes dos de 12 de setembro, tanto a favor como contra Renan. “Antes ele tinha a seu favor o poder da presidência; agora, não. Antes, tinha a seu favor a urgência do governo em votar a CPMF; agora, não. Antes, tinha contra si o desgaste diário; agora, adota um perfil discreto”, reflete Virgílio.
Para o senador, não é possível dizer ainda se há condições de se obterem os 41 votos para cassar o alagoano. Renan foi absolvido por 40 votos a seu favor, 35 contra e seis abstenções. Pressionado por novas denúncias, desta vez de espionar dois colegas do Senado, teve de se afastar da presidência da Casa por 45 dias.
Sem troca
Fiel escudeiro do presidente licenciado, Wellington Salgado (PMDB-MG) não acredita que o companheiro volte a ocupar o maior posto do Senado. “Existem forças que tornam difícil a volta de Renan à presidência”, admite. Entretanto, ele nega que exista um acordo para absolver o alagoano em troca da cadeira antes ocupada por ele. “Isso nem foi conversado no Senado, nem o governo participa disso”, rechaça Salgado.
Mas a realidade é outra. Peemedebistas de expressão já trabalham com a saída definitiva de Renan da presidência. Em troca, viria a absolvição dele dos processos a que responde. A proposta não é aceita por todos, mas é uma tentativa que tem a simpatia de alguns peemedebistas e petistas.
Além do uso de “laranjas” para comprar rádios, o alagoano ainda enfrenta mais duas acusações no colegiado: a de ser beneficiário de um esquema de desvio de verbas em ministérios controlados pelo PMDB, que corresponde a quarta representação; e de tentar montar um esquema para espionar Demóstenes e outro senador goiano, Marconi Perillo (PSDB).
Almeida Lima (PMDB-SE), que é o relator da quarta representação contra Renan, deve pedir o arquivamento da denúncia contra o peemedebista alagoano. Ao sair da sessão que aprovou o relatório de Jefferson Péres (PDT-AM), pela cassação do aliado, Almeida Lima evitou fazer previsões sobre o que acontecerá no plenário. “Não devo achar nada sob hipótese. Achar já é hipótese. O que vai acontecer em plenário eu não sei, sobretudo porque o voto é secreto”, disse ao Congresso em Foco.
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