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Congresso em Foco
3/11/2008 | Atualizado 4/11/2008 às 6:58
Júnia Gama
O crescente número de evangélicos registrado nos últimos anos faz do segmento um atraente nicho de potenciais eleitores. De 1940 a 2000, passaram de 2,6% para 15,4% da população brasileira. Hoje, são cerca de 30 milhões de fiéis em todo o país. Por outro lado, rejeição por parte de setores laicos ou ligados a outras religiões e falta de unidade entre as igrejas têm limitado o poder político do rebanho.
Nessas eleições municipais, a representatividade política da Convenção Geral das Assembléias de Deus (CGADB) apresentou queda de quase 9% em relação ao resultado obtido em 2004. A igreja possui aproximadamente 8,5 milhões de fiéis, segundo dados do IBGE no Censo 2000, o que faz dela a mais numerosa do país, com 28% de todos os evangélicos do país. No pleito de 2004, a CGADB emplacou 1.080 vereadores. Este ano, dos 1.400 nomes lançados, 920 foram eleitos.
O presidente do Conselho Político da CGADB, pastor Ronaldo Fonseca, acredita que não há motivos para preocupação. Para ele, a variação é leve e natural, fruto de um acaso derivado do quociente partidário – que representa o número de vagas que cada partido ocupará, resultado da divisão entre o número total de votos obtidos e de vagas destinadas ao cargo em questão. “Nosso trabalho nessas eleições aumentou. Essa queda é pequena e não muda nada”, avalia.
Apesar de não ser tão significativo, o número representa o descompasso que o segmento vive. O número de fiéis aumenta, mas a penetração política não. O surgimento de igrejas evangélicas com orientações diversas e sem articulação entre si é apontado como um obstáculo para a coordenação do poder de eleição dos fiéis.
"Cresceu bastante o número de igrejas, mas é muito fragmentado. No segmento católico, é bem mais fácil articular, pois é uma única igreja. Nós temos inúmeras denominações, cada uma com um líder", explica o deputado João Campos (PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso.
As facilidades para abrir uma nova igreja evangélica e a ausência de normas rígidas de controle são motivos de fragmentação das vertentes políticas de cada denominação. O pastor Celso Carbonara, de uma congregação da Assembléia de Deus em Brasília, admite a independência. “Não é como abrir um McDonald’s, que toda loja tem que seguir um padrão. É como abrir uma empresa, pode usar o nome sem autorização da matriz”, relata.
João Campos justifica, assim, a dificuldade para obtenção de dados concretos sobre a influência política dos evangélicos. Até o momento, a frente desconhece o número de candidatos eleitos apoiados pelas igrejas este ano e, mesmo, nas eleições passadas. No entanto, o deputado acredita que a diversificação deve ser encarada com otimismo.
“É positivo não ter a supremacia de uma só denominação evangélica. Assim, diversificamos mais a representação", avalia.
Diversidade partidária
De fato, uma tendência das lideranças do segmento é se espalhar pelos mais variados partidos políticos. Criado em 2005 com a intenção de unificar a bancada evangélica no Congresso, o PRB abriga hoje políticos de outras religiões. A abertura se estende também aos candidatos apoiados pela legenda. "Temos um estatuto do partido, mas não entra religião. Seria contra a democracia", revela o pastor Aguinaldo de Jesus (PRB), secretário de Esportes do DF.
Em sua primeira participação nos pleitos municipais, o partido fez este ano mais de 300 vereadores e 37 prefeitos, entre eleitos pela legenda e coligados, afirma o pastor Aguinaldo. Para ele, a estratégia de permitir a entrada de políticos de outros credos é importante para trazer nomes que aglutinam votos.
Entre os "famosos" que compõem a legenda estão o vice-presidente José Alencar, o ministro de Planejamento Estratégico, Mangabeira Unger, ambos católicos, e o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, senador Marcelo Crivella (RJ).
“Orientação”
O potencial dos fiéis como eleitorado reside na relativa facilidade de os líderes evangélicos “orientarem” parte dos fiéis a votar em candidatos escolhidos pela igreja. Pastor Ronaldo admite que, entre a comunidade de baixa renda, é mais fácil direcionar o voto. “Classe mais baixa é mais fácil de ser orientada”, diz.
Segundo pesquisa do IBGE sobre orçamento familiar (2003), o menor rendimento médio mensal do Brasil foi encontrado em famílias com evangélicos pentecostais (R$ 1.271) – os pentecostais representam o maior grupo entre os protestantes brasileiros.
A partir de 2000, a liderança de percentual regional de evangélicos foi ocupada pela região Norte (19,8%), uma das mais carentes do país. Em Rondônia, por exemplo, os evangélicos chegam a 27,2% da população total.
Compromissos e ideais
O Conselho Político da Convenção Geral das Assembléias de Deus foi criado em 2002 para disciplinar a candidatura de membros da igreja e de fora dela. Para evitar que líderes locais conduzissem o rebanho aleatoriamente na direção de candidatos que não interessavam à igreja, a CGADB decidiu interferir no processo.
“Chamamos os candidatos para reuniões e mostramos o que esperamos. Pedimos para que honrem nossos compromissos e ideais. Para ser apoiado, tem que passar pelo crivo do conselho”, explicita o presidente da instituição.
Fora os candidatos da igreja, muitos políticos recorrem ao eleitorado fiel em época de eleições. O deputado João Campos conta que uma das atividades dos líderes evangélicos nesse período é cobrar apoio a determinados candidatos. Mas nem sempre são evangélicos os postulantes que ganham suporte dos fiéis.
“Aquele conceito simplista de que irmão tem que votar em irmão não pode ser absoluto”, diz o deputado. Ele defende que é preciso ter preparo político, capacitação e perfil de candidato, além de sólida formação cristã.
Apoio aos descrentes
O apoio evangélico passou a ser disputado então por políticos de diversas tendências. Já não importa o credo. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), apesar de agnóstico, participou de cultos evangélicos poucos dias antes do segundo turno das eleições no Rio de Janeiro.
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