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Congresso em Foco
26/5/2006 | Atualizado às 2:44
Edson Sardinha*
Dono de uma extensa ficha criminal, o técnico judiciário Hélio Ortiz é apontado pelas polícias civil e federal como o chefe de uma quadrilha que vinha fraudando concursos públicos no país desde 1981. O bando é acusado de fraudar concursos e vestibulares de universidades de diversos estados por meio da venda de gabaritos das provas. Preso em maio do ano passado, ficou poucos dias na cadeia e ainda se mantém, mesmo que suspenso, como funcionário do Tribunal de Justiça do DF.
Em depoimento prestado à CPI do Tráfico de Armas em agosto, Ortiz desdisse tudo o que havia dito a polícia: negou qualquer envolvimento com fraudes em concursos públicos. Disse ter confessado participação no crime porque foi torturado. E abusou do exercício de dar declarações contraditórias ao contestar qualquer relação com grupos criminosos.
"Aves combatentes"
Ao explicar por que viajava com tanta freqüência ao Rio de Janeiro, Ortiz arrancou risadas dos parlamentares, num raro momento de descontração em seu depoimento. Alegando não ter contato com nenhum integrante do Comando Vermelho, o técnico judiciário revelou que criava "aves combatentes" para ganhar um dinheiro extra. "Galo de rinha?", questionou o relator, Paulo Pimenta (PT-RS). "Não, aves combatentes", repetiu. "De briga?", insistiu o deputado. "Eu vendia essas aves", admitiu. Às gargalhadas o petista se desculpou: "O senhor me desculpa, mas que foi engraçado essa 'aves combatentes'". O depoente acabou entrando no clima: "Coloca aí aves exóticas, fica melhor".
O efeito Duda
Um negócio lucrativo para quem, como ele, diz ter vendido até 90 aves por ano. Cada galo treinado não sai, segundo Ortiz, por menos de R$ 2 mil. A atividade renderia ao técnico, cujo salário é de R$ 4,5 mil, um lucro anual de cerca de R$ 150 mil. Em outro momento de descontração, ele admitiu ter vendido uma "ave combatente" ao publicitário Duda Mendonça, que foi preso há dois anos por apostar em uma rinha de galos. "Eu já vendi em Salvador uma vez, cinco anos atrás", disse. "Geralmente ele não compra, porque se o Duda se interessar num galo, o preço sobe", completou.
Do TJ para a Câmara
Apesar do negócio lucrativo e do salário nada desprezível, Ortiz decidiu trabalhar na Câmara, em 2003, cedido pelo Tribunal de Justiça, para ganhar metade do que recebia no Judiciário. Quando foi preso, o técnico estava lotado no gabinete do deputado Severiano Alves (PDT-BA) havia cinco meses. Antes, trabalhou por um ano e três meses com a deputada Elaine Costa (PTB-RJ).
A explicação de Ortiz não satisfez a CPI. Ele contou que trocou de serviço porque acreditava que, ao trabalhar na Câmara, conseguiria de graça um medicamento que custa mais de R$ 7,5 mil, indicado para o tratamento de uma doença de sua mulher. "Mas eu vim para cá para isso", insistiu.
A assessoria de Elaine Costa não retornou o contato feito pela reportagem. Em viagem, Severiano Alves informou, por meio da assessora de imprensa, que contratou Ortiz a pedido de um amigo, sob o argumento de que se ele não fosse requisitado pelo deputado, o técnico teria de trabalhar por tempo integral no Tribunal de Justiça e assim não teria tempo de cuidar da mulher que estava com câncer.
O deputado, segundo a assessora, ficou com pena e contratou Ortiz, que nem aparecia no gabinete, por cerca de R$ 250. Assim que estourou o escândalo da máfia dos concursos, ele foi exonerado.
No caminho das pedras
Ortiz irritou os deputados ao insistir que não tinha relação com grupos criminosos. Admitiu ter "passado cola" em vestibulares. Em troca, teria recebido R$ 3 mil pelo serviço. E relatou encontros inusitados com os advogados do cantor Belo e de Jorge Nascimento Dutra, preso por estelionato e fraude em concursos públicos. Segundo interceptações telefônicas feitas pela polícia com autorização judicial, o técnico oferecia seus conhecimentos para facilitar a liberação de habeas-corpus para presos.
Na versão dele, o que o movia era um sentimento altruísta. Contou ter sido procurado num dos corredores da Câmara por um advogado que se apresentou apenas como Airton, que trabalharia para Belo. Mas não soube dizer por que foi o escolhido entre os mais de 17 mil funcionários do Congresso para uma oferta incomum: acompanhar de graça o advogado pelos tribunais superiores e a Polícia Federal. "Não sei. Não sei porquê", limitou-se a responder.
*Colaborou Paulo Henrique Zarat
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