O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou ontem não ver problemas no encontro que teve, na semana passada, com o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, na casa do senador Heráclito Fortes (PFL-PI). Bastos afirmou que foi Dantas quem pediu a reunião para dar explicações sobre as denúncias divulgadas pela revista Veja.
"Ele disse que iria me entregar uma carta dizendo que nunca tinha investigado ou passado informação nenhuma a órgão de imprensa. Foi uma conversa como outra qualquer. Não entendo por que tanta celeuma", afirmou o ministro
O encontro, segundo Bastos, foi acompanhado pelos deputados petistas José Eduardo Cardozo (SP) e Sigmaringa Seixas (DF), que poderiam comprovar a impessoalidade da reunião. "O encontro foi um pedido dele. Aceitei e levei duas testemunhas", disse o ministro. Na carta endereçada ao ministro, Dantas contesta a afirmação de que teria encomendado um dossiê contra autoridades do governo, segundo informou Veja na semana passada.
"Em respeito à verdade e a Vossa Excelência, asseguro-lho que não sou responsável, não forneci informações e nem tive participação nessa reportagem divulgada pela revista Veja nessa última semana trazendo a lista de pessoas que supostamente teriam contas bancárias no exterior", diz a carta, com data do dia 15 deste mês.
Ontem, o jornal Folha de S. Paulo publicou entrevista em que Heráclito Fortes nega qualquer acordo entre Dantas e Bastos durante o encontro em sua casa. Segundo a revista Veja desta semana, na reunião teria ficado acertado que a Polícia Federal não investigaria o banqueiro para que, em contrapartida, informações contra o governo não fossem divulgadas.
A oposição no Senado criticou Thomaz Bastos e cobrou explicações. "Como ministro, fica difícil justificar esse encontro. Afinal de contas, a PF, que responde ao Ministério da Justiça, é responsável pela investigação. Agora, essa investigação fica sob suspeita", disse o líder da oposição, Álvaro Dias (PSDB-PR). Para o líder do PFL, José Agripino (RN), "o problema é por que Thomaz Bastos procurou ter a conversa com Dantas ou vice-versa".
Comissão isenta Bastos
A Comissão de Ética Pública da Presidência arquivou ontem representação do líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que apontava um suposto desvio de função do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) ao indicar o advogado Arnaldo Malheiros Filho para o ex-ministro Antonio Palocci se defender da acusação de violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
"Optamos pelo arquivamento, pois a comissão não viu uma transgressão de conduta ética do ministro. Ele apenas indicou um advogado a Palocci, como poderia ter indicado um médico ou um arquiteto. Não há evidência de que houve auxílio técnico", disse o presidente da comissão, Fernando Neves.