Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
22/5/2006 22:04
Rafaela Céo
Para o jornalista Alberto Dines, "a imprensa não inventou" a atual crise política, mas dá prosseguimento a uma obsessão iniciada há 14 anos. "Depois do caso Collor, a imprensa resolveu que derrubar presidentes era seu grande objetivo. Todo mundo quis derrubar o seu. É a caça aos presidentes", diz o editor do site de acompanhamento da mídia Observatório da Imprensa.
Nesta entrevista ao Congresso em Foco, o jornalista diz que a cobertura da crise mostrou que as revistas brasileiras precisam ser repensadas, sob pena de se transformarem numa "mídia secundária". "As revistas brasileiras trazem numa semana uma matéria de capa sobre sexo; na semana seguinte dão um escândalo sem comprová-lo. Isso tira a seriedade", observa.
Com meio século de carreira profissional - marcada por passagens por veículos como Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, O Pasquim e Manchete - Dines também aponta falhas na cobertura dos jornais e dos portais de notícia na internet. O primeiro, por não dar conta do volume de informações do dia-a-dia. O segundo, por ainda estar engatinhando.
Apesar das ressalvas, o jornalista considera injusto atribuir à imprensa, como têm feito alguns integrantes do governo, responsabilidade pelo prolongamento da crise. "A culpa não é da imprensa. São as partes que não conseguem se libertar daquilo que aconteceu. A duração da crise é prolongada porque toda hora aparecem coisas que não estão sendo inventadas. De repente, aparece a Operação Sanguessuga que foi revelada pelo próprio governo, pela Polícia Federal. E tudo hoje está sendo atraído pela crise."
Congresso em Foco - Como o senhor avalia o papel que as revistas tiveram nesta crise política?
Alberto Dines - A revista Veja começou essa coisa toda, com o vídeo da propina. Aquele vídeo, transcrito sem nenhuma indicação de como foi obtido, não é ético. Mas, de certa forma, foi bom jornalismo porque divulgou uma coisa que de outra forma não se saberia. A coisa é muito sutil. Do ponto de vista técnico, aquela matéria não se faz. Em países civilizados, você pega um vídeo desse e parte para a investigação. No episódio da crise, todas as revistas mostraram que precisam ser repensadas. Caso contrário, elas tendem a se transformar numa mídia secundária. As revistas brasileiras trazem numa semana uma matéria de capa sobre sexo; na semana seguinte dão um escândalo sem comprová-lo. Isso tira a seriedade.
Mas esse é um problema específico das revistas?
Temos aí um problema específico dos nossos semanários de informação que ficou muito visível neste último ano. As revistas brasileiras precisam ser repensadas. Caso contrário, serão espirradas da imprensa séria. Luiz Garcia, no último programa do Observatório da Imprensa, comentou que apesar da desqualificação progressiva dos semanários, os grandes jornais diários reproduzem o conteúdo. Os jornais sabem que aquilo é meio irresponsável, mas atribuem a uma revista e tiram o corpo fora. Mas, no cômputo geral, as revistas foram muito mais sensacionalistas do que os jornais.
Quais foram os pecados dos jornais?
Os jornais não foram sensacionalistas. Eles têm outros pecados. Tinham que fazer um trabalho duplo. Eles cobriam o dia-a-dia, o que é um trabalho insano, dado o volume de fatos ilícitos que surgiam a cada dia. Diante desse volume, acho que eles não deram conta. Não foi encontrada uma fórmula para dar continuidade a essa cobertura. Uma notícia é lançada, mas no dia seguinte é esquecida. E só é retomada dois meses depois. Mas eles estão se esforçando. Além do dia-a-dia, os jornais são obrigados no fim de semana a fazer matérias mais analíticas. As revistas deveriam fazer esse trabalho, mas como ficaram circunscritas ao trabalho das denúncias.
Esta é a primeira grande crise política acompanhada em tempo real pela internet. A mídia online está dando conta do recado?
A mídia online está nascendo agora. Aqui e em qualquer parte do mundo, há a presença de alguns veículos de mídia online interessantes. Alguns blogs são realmente atentos. Mas também tem muita tapeação. Tem blog que é atualizado com firulas, sem trabalho investigativo constante. De qualquer forma, como a internet virou uma realidade palpável na vida brasileira, as pessoas estão se informando pelo meio online. Mas os grandes portais de notícias do Brasil estão muito aquém do que podiam estar fazendo. Os veículos da web, tanto os portais quanto os blogs, ainda têm um longo caminho a percorrer. Há pouca gente nas redações.
O governo se queixa de perseguição da mídia. É possível atribuir alguma responsabilidade à mídia pela dimensão da crise política?
A duração da crise é prolongada. A culpa não é da imprensa. São as partes que não conseguem se libertar daquilo que aconteceu. Os partidos mais responsáveis deveriam fazer um pacto para que certos assuntos não entrassem na disputa eleitoral porque prejudicam o país.
A mídia era mais condescendente com o governo Fernando Henrique Cardoso?
A mídia persegue todos os governos. O Itamar Franco foi perseguido por coisas pessoais. Aquele foi um trabalho sórdido da imprensa e sem nenhum respeito pela pessoa dele. Depois do caso Collor, a imprensa resolveu que derrubar presidentes era seu grande objetivo. Todo mundo quis derrubar o seu. É a caça aos presidentes. Tomara que essa caça se arrefeça um pouco e imprensa fique um pouco mais tranqüila.
Temas
PEC da Blindagem
Silvye Alves pede desculpas por voto a favor da PEC da Blindagem
IMUNIDADE PARLAMENTAR
PEC da Blindagem
Em vídeo, Pedro Campos diz que errou ao apoiar PEC da Blindagem
PEC da blindagem
Artistas brasileiros se posicionam contra a PEC da Blindagem