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Autoritarismo
26/8/2025 10:00
No coração político do Brasil, uma longa e perigosa saga continua a se desenrolar. Enquanto parte da oposição ao atual governo encena obstruções aos trabalhos do Congresso Nacional utilizando simbolismos vazios em nome de uma pretensa justiça seletiva, o povo assiste, entre a perplexidade e a fadiga, às diversas tentativas de transformar o país em uma marionete.
Se compararmos o cenário atual vivido no país, encontraremos grandes semelhanças com a história do jovem bruxo dos livros de J.K Rowling, Harry Potter. Nos episódios finais da saga, Harry e seus amigos embarcam em uma árdua busca para encontrar e destruir as horcruxes. Sete itens utilizados pelo lorde das trevas Valdemort para dividir sua alma e assim evitar sua total aniquilação.
Ao que parece, o Brasil ganhou roteiro semelhante. Alguns atores políticos criam horcruxes para manterem vivos os ideais apregoados nos anos de chumbo, evocando fantasmas de ameaças inexistentes, atuando para obscurecer a opinião pública e assim defenderem propósitos escusos de um grupo político pequeno, porém organizado e barulhento.
Ao menor sinal de responsabilização pelo cometimento de atos espúrios, estes, recorrem às câmeras, invocam "liberdades" e inventam "perseguições", enquanto bloqueiam votações, ameaçam ministros do Supremo Tribunal Federal, se alegram com as tentativas de influência estrangeira nos poderes constituídos, tendo como justificativa um imaginário de guerra moral que pouco diz respeito à realidade.
A democracia, ao que parece, é, para estes atores uma máscara, útil até o momento em que passa a cobrar coerência e responsabilidade.
Há algo profundamente perturbador em assistir à elite política de um país que tenta negar a si mesma o dever de amadurecer (mais parecem crianças que perderam a partida e querem roubar a bola do jogo). Há algo de trágico quando senadores e deputados eleitos para representar o povo se comportam como personagens de uma fábula distorcida, em que os uns são redimidos por aplausos e os outros são desacreditados por cumprir a lei. É como se as instituições fossem obrigadas a atravessar um labirinto de espelhos, onde nada é o que parece e, mesmo diante dos fatos, preferem a ficção.
No terceiro filme que compõe a saga de Harry Potter, Sirius Black declara algo que nos serve de exemplo: "Todos temos luz e trevas dentro de nós. O que importa é o lado do qual decidimos agir." O problema é que parte da classe política já escolheu agir pelas trevas, aquelas que confundem imunidade com impunidade, mandato com imunidade moral, eleição com salvo-conduto. E, nesse processo, testam até onde podem esticar os limites da tolerância democrática sem que haja reação.
Há quem precise se proteger de sua própria amnésia histórica e institucional, pois o Brasil já pagou caro quando alguns flertaram com o autoritarismo.
Mais grave ainda: muitos dos que hoje se dizem indignados com a falsa ideia de "autoritarismo" do Judiciário foram coniventes, e, por vezes, entusiastas, de um governo que atacou jornalistas, criminalizou adversários, incentivou atos golpistas e desdenhou da dor coletiva em meio a uma pandemia. Esta celeuma não convence. É puro teatro, encenação de ocasião. Um oportunismo que, na melhor das hipóteses, revela falta de autocrítica; na pior, má-fé deliberada.
E como ignorar os espetáculos ridículos protagonizados por alguns desses parlamentares? As cenas de ocupação das mesas da presidência da Câmara e do Senado, os discursos em tom messiânico, as faixas, os gritos, os vídeos de pseudoexilados que celebram a possibilidade de mais sanções estrangeiras caso seus caprichos não sejam atendidos. É inevitável lembrar das palavras da professora Minerva McGonagall: "Babuínos bobocas balbuciando em bando."
Sim, o Brasil vive tempos sombrios, mas não porque um ex-presidente foi responsabilizado por seus atos, nem porque aqueles que atacaram as sedes dos Poderes no fatídico 8 de janeiro foram punidos, isso é a luz que ainda conseguimos manter acesa. O que torna esses tempos sombrios é o número crescente de líderes dispostos a abandonar o bom senso em troca de curtidas, likes, manchetes e um lugar cativo no panteão da desinformação. Como alertou o diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore, "nosso mundo jamais enfrentou ameaça maior do que a que enfrenta hoje", a ameaça de que a verdade se torne irrelevante.
E neste cenário, fazer o certo não é negociável. É necessário. E, por isso mesmo, exige coragem. "Tempos difíceis nos aguardam, e em breve teremos que escolher entre o que é certo e o que é fácil." Quem escolher o fácil, a omissão, o cálculo político, a conveniência, talvez consiga sobreviver ao presente. Mas não escapará da História.
O que está em jogo não é apenas o destino de um político. É o pacto civilizatório que nos permite viver em sociedade. É a fé nas instituições. É a certeza de que a lei vale para todos, mesmo para os que se julgam acima dela.
O Estado Democrático de Direito não é uma entidade mística que se mantém por inércia. Ele depende de vigilância, coragem e escolhas. A escolha é clara, ou o Congresso se afirma como pilar da democracia ou será lembrado como cúmplice de sua erosão.
Que não se diga depois que não houve avisos.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].