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Indústria

O preço da lata e o prato do brasileiro

Taxar aço importado sem alternativa nacional não protege a indústria, apenas exporta empregos e inflaciona a cesta básica.

Thaís Fagury

Thaís Fagury

19/12/2025 10:00

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Enquanto Brasília se prepara para o recesso e o país projeta o cenário econômico de 2026, uma pressão inflacionária silenciosa ganha força nos bastidores. O alvo é a mesa das famílias de baixa renda. A ameaça nasce do lobby para taxar o aço das latas de alimentos, uma manobra que converte protecionismo industrial ineficiente em conta mais cara no caixa do supermercado justamente em um ano sensível para a economia nacional.

Pode parecer um tema árido, restrito à indústria, mas a repercussão é imediata no bolso do eleitor e no futuro do planeta. A lata de aço é a embalagem mais democrática e sustentável que existe. Ela conserva itens fundamentais da cesta básica — como a sardinha, o milho, a ervilha, o leite em pó e a carne em conserva — dispensando refrigeração e conservantes químicos. Além disso, o aço é infinitamente reciclável, pilar de uma economia circular real.

Hoje, porém, a fabricação dessas embalagens no Brasil vive um momento dramático. O setor depende de um tipo específico de aço laminado e temos apenas um fornecedor nacional: um monopólio privado.

Não bastasse a posição dominante — o fabricante local detém mais de 60% do mercado brasileiro —, a empresa pleiteia ao governo medidas para dificultar a entrada do aço importado, alegando defesa comercial. Na prática, busca induzir o governo a sobretaxar as indústrias de embalagens que precisam importar lâminas para garantir sua produção.

A realidade do chão de fábrica em 2025 desmontou a tese de que a importação é predatória. A prova cabal é o comportamento do setor ao longo deste ano: mesmo com o encarecimento do produto estrangeiro e a volatilidade cambial, as fábricas continuam importando. A pergunta que Brasília precisa fazer é: por que alguém pagaria mais caro deliberadamente se houvesse uma opção nacional viável?

Taxar aço importado sem alternativa nacional não fortalece a indústria e pode elevar o custo da cesta básica e eliminar empregos.

Taxar aço importado sem alternativa nacional não fortalece a indústria e pode elevar o custo da cesta básica e eliminar empregos.Freepik

A resposta é técnica e pragmática: a indústria de embalagens não importa por capricho, mas por sobrevivência. O monopólio local não consegue atender a demanda com a qualidade, o prazo e a tecnologia necessários. Encastelado por tarifas protetivas, o fornecedor único não apresenta incentivos claros para modernização — não se veem investimentos estruturantes há pelo menos 20 anos.

As empresas de embalagem preferem arcar com o custo extra da tarifa a paralisar suas linhas de produção ou colocar no mercado latas defasadas, com riscos de ruptura. Não é uma escolha de preço; é falta de opção técnica.

O problema é que essa conta não fecha sozinha. Se o governo ceder à pressão do monopólio e elevar as barreiras tarifárias agora, o custo de produção da lata vai disparar. Numa economia de margens apertadas, esse custo será inevitavelmente repassado ao preço do alimento nos primeiros meses de 2026. Um estudo da consultoria Tendências aponta que o impacto pode gerar um aumento de mais de 6% em produtos essenciais.

É justo que a população pague a conta para proteger a margem de lucro de um monopólio ineficiente? E mais: faz sentido punir economicamente uma embalagem naturalmente circular, empurrando o consumo para materiais menos sustentáveis?

Além da inflação e do retrocesso ambiental, há o risco social. A cadeia de latas é formada por dezenas de empresas que geram milhares de empregos diretos. Se a matéria-prima fica artificialmente cara, essas fábricas perdem competitividade. O risco calculado é o fechamento de quase 4.700 postos de trabalho. Estamos falando de demissões reais para garantir a reserva de mercado de um único CNPJ.

O Brasil precisa decidir suas prioridades para o próximo ciclo. Política industrial moderna não se faz criando barreiras para proteger empresas da inovação às custas da sociedade. O governo tem nas mãos a decisão: proteger a comida acessível, o emprego e a sustentabilidade, ou blindar um monopólio que parou no tempo.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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