Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
23/10/2006 | Atualizado 24/10/2006 às 8:11
O empresário paulista Abel Pereira disse hoje (23) à Polícia Federal (PF), em depoimento que durou mais de três horas, que Luiz Antonio Trevisan Vedoin, cabeça da máfia das ambulâncias, tentou vender para ele documentos contra o candidato derrotado na disputa pelo governo de São Paulo, Aloizio Mercadante (PT).
De acordo com Abel, o material apresentava irregularidades nas emendas de autoria do senador petista para liberação de recursos do Orçamento da União. O empresário ressaltou, no entanto, que não chegou a ver o dossiê oferecido. O empresário é amigo de Barjas Negri, prefeito da cidade e ex-ministro da Saúde do governo Fernando Henrique, em 2002.
Naquele ano, Abel teria facilitado a liberação de recursos extra-orçamentários da União para a compra de 681 ambulâncias do Grupo Planam, dos Vedoin. Por sua atuação como lobista, Abel teria cobrado 6, 5% de propina por negócio realizado, segundo os donos da Planam.
Mercadante foi candidato ao governo de São Paulo. Seu ex-coordenador de campanha Hamilton Lacerda é apontado pela PF como um dos cabeças da trama do dossiê Vedoin, que pretendia envolver José Serra com os sanguessugas. Em nota, o senador classificou a denúncia como factóide e acusou Abel de desviar o foco das acusações contra o PSDB.
Abel disse que se encontrou com Vedoin em agosto no shopping Iguatemi, em São Paulo. Na conversa, Vedoin teria dito possuir documentos que comprovariam interferência de Mercadante para liberar verbas na Saúde. Vedoin teria solicitado que Abel procurasse também Barjas Negri. À PF, o empreiteiro Abel disse ter respondido a Vedoin que não tinha motivos para se envolver com a questão. Afirmou ainda não ter procurado a direção do PSDB nem Barjas. Abel afirmou que em 24 de agosto foi a Cuiabá, onde teria recebido telefonema de Vedoin marcando novo encontro.
Em entrevista aos jornalistas, após o depoimento à PF, Abel admitiu que deixou a negociação do dossiê em aberto durante o encontro em São Paulo. "Deixei [em aberto], pronto. Satisfeito?", respondeu, irritado. Antes, porém, o empreiteiro havia dito com todas as letras que não tinha visto o material contra Mercadante por absoluta falta de interesse. "Não tive interesse (nos documentos) e disse a ele (Luiz Antônio) que não tinha como infiltrá-lo na direção do PSDB porque não sou do partido, não sou filiado a partido nenhum".
O empresário afirmou que abandonou o encontro em Cuiabá após constatar que estava sendo filmado. Ele contou que se reuniu, em seguida, num restaurante, com o empresário Ronildo Medeiros, sócio da família Vedoin. Já à imprensa Abel disse que um dia antes da publicação da revista, tentou falar por telefone com Vedoin e deixou recado. "[Telefonei] porque eu tinha conhecimento de que eles estavam fazendo acusações contra minha pessoa em uma revista."
A PF descobriu que Abel telefonou para um ex-cunhado de Vedoin no dia 14 de setembro - véspera da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha com o R$ 1, 75 milhão que o PT usaria para comprar o dossiê. "Liguei porque sabia que estavam tentando aprontar alguma coisa. O único telefone que eu tinha era o dele (do ex-cunhado)", disse ele. O empresário negou ter recebido os 15 cheques, no valor total de R$ 601 mil, que teriam sido repassados pelos donos da Planam para facilitar a liberação de emendas no Ministério da Saúde. "Nunca recebi nada."
Mercadante diz que empresário tenta desviar foco
Em nota, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) classificou o depoimento de Abel Pereira como "factóide" e acusou o empresário de tentar "desviar a atenção das investigações sobre o esquema sanguessuga, comprovadamente gestado na administração federal do governo anterior". O senador petista ressaltou que nunca propôs emenda que favorecesse a máfia das ambulâncias "[Isso] pode ser facilmente comprovado em consulta ao Orçamento (Siafi) e ao Ministério da Saúde, ou ainda, à CPI dos Sanguessuga e Corregedoria Geral da União, que investigaram exaustivamente essa questão", afirmou.
"Ou Abel estava tentando negociar o silêncio devido a seu esquema no governo anterior ou foi uma armadilha para alguns petistas [tentarem comprar o dossiê contra tucanos], o que levou Lula ao segundo turno e prejudicou minha candidatura", completou. A afirmação de Abel de que se encontrou por três vezes com Vedoin para falar sobre o suposto dossiê prova, diz Mercadante, que o empresário "estava buscando informação para prejudicar minha candidatura ao governo de São Paulo." O advogado de Luiz Antonio Vedoin, Eloi Refatti, afirmou que não existe dossiê contra o petista.
Leia a íntegra da nota:
"Em relação às notícias veiculadas hoje sobre suposto dossiê envolvendo meu nome, de acordo com o empresário Abel Pereira em depoimento à Polícia Federal, informo:
Que não tive nenhuma emenda liberada destinada ao Esquema dos Sanguessugas, o que pode ser facilmente comprovado em consulta ao Orçamento (Siafi) e ao Ministério da Saúde, ou ainda, à CPI dos Sanguessuga e Corregedoria Geral da União que investigaram exaustivamente esta questão.
O esquema foi gestado e teve 70% das liberações de ambulâncias superfaturadas executadas no Ministério da Saúde do governo anterior, com o qual Abel Pereira tinha íntimas relações.
Desta forma, o depoimento é um factóide com o objetivo de desviar a atenção das investigações sobre o Esquema Sanguessuga, comprovadamente gestado na administração federal do governo anterior. Quando o depoente admite que, por três vezes, encontrou-se com os Vedoin para negociar o suposto dossiê, está reconhecendo que, ao contrário do que revelou, estava buscando informação para prejudicar minha candidatura ao governo de São Paulo. Como nada encontrou - e nem será encontrado - o depoente vale-se de um artifício espúrio e criminoso, patrocinado certamente por seus aliados neste momento de disputa eleitoral.
O que precisa ser investigado é se esta negociação patrocinada por Abel Pereira tinha como objetivo comprar o silêncio dos Vedoin e/ou montar uma grande armadilha para prejudicar a vitória de Lula no primeiro turno e a minha ida para o segundo turno. Armadilha que pode ter sido montada e que contou com a participação inaceitável de petistas envolvidos com a tentativa de compra de um dossiê, como já afirmei, sem o meu conhecimento ou participação, porque jamais me associaria a uma iniciativa desta natureza.
Diante da acusação inverídica e caluniosa, cabe à Polícia Federal esclarecer com celeridade toda este episódio.
Senador Aloizio Mercadante"
Temas
REAÇÃO AO TARIFAÇO
Leia a íntegra do artigo de Lula no New York Times em resposta a Trump
VIOLÊNCIA DE GÊNERO
Filha de Edson Fachin é alvo de hostilidade na UFPR, onde é diretora