Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Comunicação política
30/10/2025 11:00
"Crossfit é pra todo mundo, mas não pra qualquer um." Essa frase, comum entre praticantes da modalidade, poderia também estar pendurada na porta de qualquer comitê eleitoral. Assim como crossfit exige técnica, intensidade e gera pertencimento, uma campanha política vive sob as mesmas exigências: narrativa estruturada, execução consistente e construção de comunidade.
No crossfit, iniciantes e atletas experientes podem executar o mesmo WOD (workout of the day), mas em intensidades diferentes. A lógica é dar pertencimento sem descuidar da execução. Na comunicação política, a estratégia é equivalente: a mensagem central permanece, mas a entrega se adapta a diferentes públicos. O eleitor de classe média e o morador da periferia não querem discursos opostos. Eles querem sentir que estão dentro da mesma história, mesmo que com pesos diferentes. Sentir que o candidato fala com ele, mas não só pra ele. Isso cria coerência e gera confiança. E confiança é o que transforma engajamento em voto.
Outro aprendizado é a comunidade como força motriz. A "tribo" do crossfit - que celebra progresso, compartilha esforço e fortalece vínculos - é a analogia direta a uma campanha bem sucedida. Importa mais conquistar gente que se sinta parte da missão do que apenas "ganhar likes". Nem sempre um candidato ganha porque tem mais verba ou mais seguidores nas redes sociais, ele ganha quando tem gente que acredita junto. A métrica, neste caso, não é "quantas curtidas", mas "quão forte é o sentimento de pertencimento".
Uma pesquisa sobre redes sociais dos candidatos presidenciais de 2018 e 2022, do EPJ Data Science, mostra que houve uso massivo de imagens de celebração, personalização e proximidade, evidenciando que construir vínculo emocional gera engajamento. Mapear quem "pertence" à causa, cultivar rituais de envolvimento e transformar engajamento em identidade, e não apenas olhar para as métricas de vaidade, é essencial.
No treino, aumentar a carga sem técnica resulta em lesão. Na comunicação política, aumentar o "volume" (posts, lives, anúncios) e querer "viralizar" sem estrutura narrativa resulta em ruído ou dispersão. No crossfit não vence quem faz mais rápido hoje, mas quem mantém o ritmo a longo prazo. Da mesma forma, uma campanha que mira "o hype" pode até atrair atenção, mas dificilmente sustenta engajamento.
O estudo Political communication strategies on Instagram mostra como o Instagram do Lula foi usado com consistência ao longo do ano eleitoral de 2022, valorizando o "modo de fazer" da campanha com narrativa coerente, caracterizada pela adaptação estratégica dos públicos, levando em consideração o calendário eleitoral do país, a personalização política em torno do candidato e o uso de imagens que evocavam simultaneamente autoridade e afeição. Logo, para se posicionar com força e mobilizar o público é preciso mais resistência narrativa do que lampejos de visibilidade.
No esporte o suor faz parte da performance. Na comunicação política, a vulnerabilidade, os bastidores, humanizam e geram confiança. Candidatos que se engajam nas redes não apenas como figuras públicas, mas como pessoas reais, geram maior interação.
Em resumo: as lições do crossfit - intensidade escalável, comunidade engajada, técnica antes da carga, resistência ao invés de velocidade, autenticidade, métricas relevantes e transformação da dor - são perfeitamente aplicáveis à comunicação política. Em última análise, campanhas eleitorais e crossfit são sobre superação. São sobre transformar esforço em resultado e caos em ritmo. São sobre pessoas que, mesmo diante da exaustão, continuam porque acreditam em algo maior. Na academia, é o atleta contra o relógio. Na política, é o comunicador contra o tempo, a opinião pública e a incerteza. Em ambos, vence quem entende que o verdadeiro adversário não é o outro, mas sim a própria falta de consistência.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
Temas