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A mulher e o camelo - uma cultura machista e patriarcal

11/11/2017 8:00

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"Cultura difícil de ser combatida, tanto que basta acompanhar o dia a dia da construção de ódio contra as mulheres, principalmente se negras"
"No livro do Gênesis, os primeiros grandes patriarcas hebreus (Abraão, Isaac, Jacó) têm muitas mulheres, como cabe a um próspero sheik do deserto. Como distinguir o esplendor do reino de Salomão, sem lembrar das setecentas mulheres do seu harém, entre as quais brilhava, inclusive, uma filha do faraó do Egito?" "Nesse universo patriarcal, falocrático, poligâmico, a mulher só pode ter uma existência, uma condição ontológica rarefeita, essencialmente subalterna, secundária, menor, algo entre os camelos e rebanhos e os humanos plenos, que são os machos." Retiro estas frases do livro "Vida", escrito por Paulo Leminski. "Vida" (Editora Sulina, 1998) traz a publicação de quatro "biografias": Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trótski. As frases estão presentes na "biografia" de Jesus. Ao lê-las, lembrei-me de que todas as viajantes, por turismo, do Ocidente, que vão ao Marrocos ou regiões próximas, voltam dizendo que um homem ofereceu um determinado número de camelos por ela. É uma piada com fundo de verdade, como geralmente são as piadas. Quanto valia uma mulher na época em que viveu Jesus? O que tinha mais valor, uma mulher ou um camelo? A pergunta pode ser feita também para o longo período da história antes do nascimento de Jesus, em que se trata no Gênesis. O livro do Gênesis coloca a mulher e seus direitos sempre subordinados ao homem. Leminski também chama a atenção para a descrição de como Javé Deus criou a primeira mulher: a partir da costela de um homem, quando todos os homens nascem de mulheres. Cito Leminski por estar lendo o livro no momento das declarações das candidatas a miss no Peru, e pelos inúmeros casos de violência contra a mulher no Brasil. Não sei como é hoje, mas anos atrás me chamava a atenção que a maioria das candidatas a miss, no Brasil, quando perguntadas o que tinha lido, não sei por quais razões, respondiam: "O Pequeno Príncipe". Era uma resposta confortável, até por que nenhum 'jornalista' seguia a entrevista perguntando o que significou para ela a leitura do livro. Este é só um registro. [caption id="attachment_315182" align="alignright" width="300" caption=""Cultura difícil de ser combatida, tanto que basta acompanhar o dia a dia da construção de ódio contra as mulheres, principalmente se negras""][fotografo]Reprodução[/fotografo][/caption]Vou para o Peru, onde as candidatas a miss, que ao microfone, ao invés de declarar as suas medidas físicas, decidiram denunciar a violência contra a mulher. Poucos exemplos: "Meu nome é Camila Canicoba e represento o departamento de Lima. Minhas medidas são: 2.202 casos de feminicídios registrados nos últimos nove anos no meu país"; "Sou Diana Rengivo, de Ucayali, e mais de 300 mulheres em meu departamento são agredidas física e psicologicamente"; e "Minhas medidas são: 81% dos agressores das meninas menores de 5 anos são próximos da família", afirmou Melody Calderón, representante de La Libertad. No Brasil, dados do DataSUS mostram que, no período 2005 a 2015, portanto em 10 anos, mais de 47 mil mulheres foram assassinadas, todas vítimas de agressões: sufocamento, armas de fogo, objetos cortantes e agressões sexuais. Conta simples: são 4.700 mulheres assassinadas ao ano; 391,66 por mês; 13,05 por dia. Ou seja, na média, mais que uma mulher a cada duas horas. E são assassinadas pelo simples fato de serem mulheres. De onde vem tudo isso: vem de uma cultura machista e patriarcal, construída ao longo da civilização. E isto está demonstrado não só no comentário de Leminski, mas nos livros de história e na própria Bíblia, que não deixa de ser um livro de história. Cultura difícil de ser combatida, tanto que basta acompanhar o dia a dia da construção de ódio contra as mulheres, principalmente se negras. Mais um registro, este do descaso do poder público em relação ao combate da violência contra a mulher. Semana passada, uma mulher, vítima de violência, foi até a Delegacia da Mulher em Curitiba para registrar um Boletim de Ocorrência. O policial que a atendeu estava usando uma camiseta estampada com o nome de um candidato a presidente (me nego a escrever o seu nome), ex-militar, que tem um comportamento machista e violento contra as mulheres. Para muitos homens, até hoje, como este candidato, a mulher só tem a função de ser camelo: é para trabalhar e ser montada.?
<< Do mesmo autor: Dilacerada - a professora vítima dos novos tempos de opressão << Outros artigos do Dr. Rosinha
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Direitos humanos violência violência contra a mulher mulher feminicidio machismo mulheres negras cultura patriarcal delegacia da Mulher camelo

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