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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Guilherme Lacerda
9/4/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 17:28
A insensatez da medida permite-nos indagar em que país esses diretores "técnicos" vivem. É difícil de acreditar que as decisões sejam movidas exclusivamente por equações econométricas de modelos limitados que geram resultados de livros textos, sem qualquer aderência a uma realidade distante dos seus frios números. Qualquer analista mediano constata que as elevações recentes na inflação foram geradas exclusivamente por pressões de oferta, advindas da taxa de câmbio, do comportamento dos mercados externos, dos reajustes frequentes nos combustíveis, de dificuldades de abastecimento causadas por interrupções temporárias e da incapacidade governamental de fazer estoques reguladores.
As estruturas dos índices de preços mostraram que a elevação maior se deu no núcleo de bens básicos, em especial alimentação, e não se trata de uma alta generalizada. O último fator que afeta atualmente os preços é a demanda. O poder de compra das famílias e a redução da massa salarial detectada indicam quão débil está a demanda doméstica. O consumo das famílias medido como percentual do PIB decresceu de 64.76% em 2019 para 62,71% em 2020, ou seja, dois pontos percentuais em um PIB que teve um decréscimo de 4,1%. As estimativas preliminares para o desempenho do varejo nesse primeiro trimestre de 2021 indicam uma queda ao redor de 5,5% em comparação com o último trimestre de 2020. Dados não faltam para mostrar uma retração generalizada da renda pessoal no país.
A elevação da Selic tem um impacto direto sobre a dívida pública. A sua rolagem custará mais e com isso haverá a necessidade de destinar recursos orçamentários adicionais para pagá-la, diminuindo ainda mais os já escassíssimos recursos necessários para atender às carências sociais e para investimentos. Com um PIB nacional de R$ 7,4 trilhões e aceitando o argumento de que a dívida pública se aproxima de 85% desse total, uma alta de 3% na taxa básica como pode ocorrer esse ano e como cobra o mercado financeiro (projeções Focus) implicará em uma sobrecarga de aproximadamente 189 bilhões de reais ao ano, ou seja, mais de quatro vezes o total destinado ao raquítico auxilio emergencial para os grupos sociais que não tem como sobreviver. Esse recurso adicional a ser pago de juros será deslocado desnecessariamente do orçamento público para todos os detentores de aplicações financeiras, concentrando ainda mais a renda no país.
Além disso, uma elevação de juros nesse momento, mesmo que a taxa real ainda se mantenha negativa, reduz o estímulo para se investir porque eleva o custo de financiamentos, em uma economia que mantém juros na ponta em valores exorbitantes, sem paralelos em outros países.
Assim sendo, pergunto aos leitores se não estamos de fato diante de uma profunda estupidez, que acaba sendo aceita como se fosse uma medida inevitável. Alguns jornalistas e articulistas da grande mídia e os economistas sempre ouvidos irão argumentar que não havia outra alternativa a não ser essa. Porém, eles não conseguem explicar o nexo causal que sustenta suas argumentações. Alguns aceitam a decisão sem entender e outros, porque a entendem muito bem e atuam em causa própria, defendendo os seus próprios interesses. Portanto, nessa seara econômica, tal como nos âmbitos social e político, vão se naturalizando medidas e discursos inconsequentes, sem que se vislumbre no horizonte a interrupção que resgate o país de um filme de horror.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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