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Dulce Pereira
Iara Brandão
15/4/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 16:19
Viviane Guimarães Gomes é doutora em Bioquímica e trabalha com coronavírus no Laboratório de Virologia Molecular/UFRJ [fotografo]Mariana Maiara[/fotografo][/caption]Apesar do Brasil ser um país aonde a maioria da população se autodeclara negra e mais de 50% serem compostos por mulheres, os homens brancos ainda tomam conta dessas áreas de pesquisa. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o percentual de mulheres negras doutoras professoras de programa de pós graduação é inferior a 3%.
Pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no ano de 2015, apenas 7% do total de bolsas de produtividade foram destinadas a mulheres negras. Essa mesma pesquisa mostra que das 91.103 bolsistas da instituição cursando pós-graduação, em formato de Iniciação Científica, Mestrado ou Doutorado, mulheres negras que realizavam pesquisas voltadas para ciências exatas são pouco mais de 5.000, ou seja apenas 5,5%. Na relação do CNPq, mulheres são 35% do total de bolsistas que receberam para pesquisar dentro das áreas em questão. Entre essas, as pretas são apenas 4%.
Ao tentar ingressar nesses espaços, além de entrarem em um ambiente dominado por homens, as mulheres negras também precisam enfrentar as barreiras que o racismo impõe. Racismo esse que está fundado na estrutura de todas as instituições e relações sociais, num país que foi o último a abolir a escravidão no continente americano.
Além do racismo, o machismo e as pressões sexistas também contribuem para que elas acreditem que não podem ocupar esse lugar. Historicamente as mulheres são ensinadas desde pequenas que existem coisas, brinquedos, comportamentos, lugares e tipos de trabalho que são masculinos e outros que são mais "recomendados" para as mulheres. As atividades "voltadas" para o feminino são sempre aquelas que estão ligadas ao cuidado com o outro, com os afazeres domésticos, com as questões ligadas a padrões de beleza.
Nas instituições de ensino onde existe um número significativo de pessoas negras (escolas públicas, pré-vestibulares comunitários e sociais), as vivências nos mostram que que o sonho possível para a maioria das mulheres negras está fundado, não só nesses valores, mas aonde existe referência, onde estas conseguem achar que é possível chegar. As escolhas sobre carreira e vida profissional estão referenciadas, muitas vezes, nas faculdades de psicologia, serviço social, pedagogia (e nos demais cursos de licenciatura), enfermagem, comunicação, entre outros. E, em número menor, estão as "pretensões" para engenharia, física, matemática, astronomia e cursos afins. E mesmo a gente tendo vivido um período em que existam bolsas, incentivos acadêmicos e várias iniciativas para a inserção das mulheres negras nesses espaços, a aspiração às ciências exatas ainda são menores.
Sabemos que estamos em franco processo de mudança. Vemos um questionamento crescente nas novas gerações de jovens levando adiante a luta feminista e antirracista, mas carecemos de referências que nos tragam a dimensão do sonho possível.
Identificar as mulheres negras e cientistas é o primeiro passo importante na construção do processo de mudança do cenário de desigualdade econômica, social e de acesso à educação, onde as vivências das mulheres negras são marcadas pela exclusão e invisibilidade dos espaços acadêmicos e políticos que produzem conhecimento científico nas área das ciências exatas e tecnológicas.
Para que isso aconteça, histórias como a da biomédica Jaqueline Goes de Jesus, mulher negra e nordestina que movimentou as mídias por ser uma das coordenadoras da equipe que sequenciou o genoma do vírus SARS-CoV-2 em 48 horas, e de muitas outras cientistas negras precisam ser conhecidas não só na atualidade, mas pelas gerações futuras.
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A doutora Jaqueline Goes fotografo]Divulgação/UFBA[/fotografo][/caption]> Leia mais textos da autora
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