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Trump, Epstein e o fim do silêncio: o escândalo que racha a extrema-direita e expõe o duplo jogo do presidente

De símbolo da cruzada moral à peça central de um escândalo abafado: Trump mergulha na crise que jurou combater.

Gisele Agnelli

Gisele Agnelli

25/7/2025 16:30

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A mais recente crise política do governo Trump II vem do próprio passado, da base trumpista e dos fantasmas que a extrema-direita cultivou como arma, e que agora volta-se contra ela. O caso Jeffrey Epstein, por anos reduzido a uma névoa conspiratória, ressurge com força após revelações de que o nome de Donald Trump aparece nos arquivos reexaminados do Departamento de Justiça. E o mais explosivo: a reativação do escândalo foi detonada por ninguém menos que Elon Musk, até então um dos principais aliados do presidente.

Donald Trump e Jeffrey Epstein frequentaram o mesmo círculo de elite por mais de uma década, entre o final dos anos 1980 e meados dos 2000. Fotos, vídeos, registros de voos, agendas telefônicas e testemunhos comprovam a proximidade: jantares na mansão de Epstein no Upper East Side, festas privadas em Mar-a-Lago com líderes de torcida, e pelo menos sete voos registrados nos jatos privados de Epstein com Trump, Melania e até Tiffany ainda criança.

Trump chegou a elogiar Epstein em 2002: "Cara fantástico. Dizem que gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas são bem jovens." Uma frase que hoje ecoa como confissão involuntária. Ao menos três mulheres alegam que foram aliciadas ou abusadas por Epstein após encontros intermediados em eventos ligados a Trump. Maria Farmer relatou que Epstein a apresentou a Trump em seu escritório, e que este a encarou de maneira "intimidante e sexualizada". Stacey Williams, modelo da Sports Illustrated, afirmou ter sido apalpada por Trump em uma visita com Epstein à Trump Tower. Virginia Giuffre, que denunciou o príncipe Andrew, foi recrutada por Maxwell quando trabalhava em Mar-a-Lago como atendente de spa aos 17 anos.

Também merece ser lembrada a denúncia feita por Karen Johnson, sob pseudônimo de Katie, que acusou Trump de estuprá-la aos 13 anos durante uma festa organizada por Epstein, em 1994. A ação foi registrada na Justiça em 2016 e retirada pouco antes das eleições, com a denunciante alegando ameaças. Embora não tenha sido julgada, o caso foi considerado juridicamente admissível e os autos foram arquivados com base em depoimentos detalhados. A acusação permanece como um alerta incômodo sobre a frequência com que acusações de abuso envolvendo homens poderosos são descartadas ou silenciadas: especialmente quando envolvem vítimas vulneráveis.

Trump vira alvo de sua própria base com reabertura do caso Epstein.

Trump vira alvo de sua própria base com reabertura do caso Epstein.Daniel Torok/Casa Branca

O afastamento entre os dois homens se deu em 2004, após a disputa por uma mansão em Palm Beach, vencida por Trump. Desde então, o magnata passou a minimizar a relação. Em 2019, após a prisão de Epstein, Trump declarou: "Não sou fã dele. Não falo com ele há 15 anos." Ignorou o próprio histórico documentado de encontros, bilhetes, viagens e elogios públicos.

No entanto, os arquivos reabertos pela atual gestão, e deliberadamente não divulgados, contradizem essa narrativa. Recentemente o New York Times e o Wall street Journal trouxeram reportagens revelando que a procuradora-geral Pam Bondi teria alertado Trump que seu nome constava nas transcrições do grande júri sobre o caso Epstein. Outra matéria do Wall Street Journal revelou um bilhete de aniversário supostamente escrito por Trump a Epstein com o esboço de uma mulher nua e a frase: "Que cada dia seja mais um segredo maravilhoso." O governo prometeu então "abrir tudo", mas recuou. Esse recuo abriu a caixa de Pandora. Pesquisas da Reuters/Ipsos (data e amostra) indicam que 69% dos americanos desaprovam a forma como Trump tem lidado com o caso Epstein.

A revolta explodiu nas redes sociais. Tucker Carlson, Megyn Kelly, Charlie Kirk, Glenn Beck, Jack Posobiec, Roseanne Barr e até Alex Jones romperam o silêncio. Tucker, por exemplo, acusou Bondi de sabotagem e insinuou ligação de Epstein com serviços de inteligência estrangeiros. Roseanne pediu para que Trump "aprenda a ler o ambiente". Elon Musk foi direto: "Se ele tem algo a esconder, precisa cair." Dias depois, Musk rompeu publicamente com Trump, desferindo o golpe que reativou a controvérsia. O próprio Trump perdeu a linha: chamou seus críticos de "idiotas úteis dos democratas" e descreveu o caso Epstein como "coisa chata de que ninguém se importa". O resultado? Revolta generalizada entre influenciadores, religiosos, apoiadores de base e até membros do Mar-a-Lago. A crítica não vem somente dos democratas. Vem de dentro do partido republicano.

Em resposta à pressão, Trump orientou Pam Bondi a pedir a liberação das transcrições do grande júri na Flórida. O pedido foi negado em 23 de julho de 2025. A decisão coincidiu com outra manobra reveladora: o líder da maioria republicana na Câmara, Mike Johnson, encerrou antecipadamente os trabalhos legislativos e adiou qualquer nova sessão sobre o caso para setembro. A tática parece ser: ganhar tempo, desmobilizar a pressão e controlar a narrativa.

O tempo, no entanto, parece estar contra Trump. Surpreendentemente as feridas mais profundas parecem ter sido reativadas, especialmente para eleitoras conservadoras e mães de classe média, segmentos que foram cruciais na virada eleitoral de 2016 e 2020, e que podem hoje ser um calcanhar de Aquiles.

Jeffrey Epstein se tornou o símbolo de uma elite intocável, perversa e blindada. As teorias conspiratórias sobre sua morte ganharam força porque o Estado falhou em dar respostas. E agora, diante da promessa não cumprida de Trump de "revelar tudo", o próprio presidente se torna parte da conspiração que jurava combater. A base MAGA que jurava "proteger as crianças" agora questiona seu próprio messias. A extrema-direita que condenava o "estado profundo" e clamava por "transparência total" sobre os arquivos secretos de Epstein agora cobram coerência.

O caso Epstein é a radiografia incômoda da promiscuidade entre poder, misoginia e impunidade. O fato de Donald Trump, já condenado civilmente por agressão sexual, protagonista de confissões públicas de abuso, e agora mencionado nos arquivos de uma das maiores redes de exploração sexual de menores, ocupar novamente a presidência dos Estados Unidos é mais do que um escândalo: é a institucionalização da violência de gênero como elemento tolerado na política de Estado.

Trump é o produto de um sistema que sempre tolerou, a violência sexual dos poderosos, desde que convenientemente silenciada. Sua relação com Epstein expõe o funcionamento de redes de proteção masculina, corporativa e estatal que transcendem partidos. É por isso que o caso incomoda tanto: porque rompe a ilusão de que a indignação moral é monopólio de um campo político. Porque mostra que a pedofilia institucional não se restringe a "ilhas de degeneração", mas pode ser o cimento oculto de alianças, favores e pactos de silêncio.

A implosão do pacto de silêncio não foi fruto da justiça institucional, mas da pressão popular e de um racha inesperado na própria base trumpista. Elon Musk, antes símbolo da simbiose entre tecnopoder e autoritarismo, rompeu com Trump e, com raiva, resolveu reabrir a ferida. Influenciadores conservadores abandonaram a negação. A farsa do "homem que drena o pântano" começa a ruir sob o peso de sua própria sujeira.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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