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O Senado como Poder Moderador na atual conjuntura

Rejeitar PEC da Blindagem é teste do papel do Senado como guardião da Constituição.

Antônio Augusto de Queiroz

Antônio Augusto de Queiroz

23/9/2025 15:00

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O Brasil e o mundo enfrentam uma crise profunda da democracia representativa, marcada pela fragmentação política e pela polarização desenfreada, que impede um consenso mínimo tanto na sociedade quanto entre os Poderes do Estado. Neste contexto, o sistema de freios e contrapesos, essencial para a estabilidade democrática, falha. Instituições que poderiam mediar conflitos, como o Congresso Nacional, o Executivo, o STF e até as Forças Armadas, encontram-se paradoxalmente no epicentro das disputas. É nesta ausência de uma autoridade moderadora que o Senado Federal surge, por sua natureza, composição e atribuições constitucionais, como a instituição mais apta a assumir o papel de poder moderador.

Embora o modelo constitucional atual não preveja formalmente essa figura, parece indispensável que haja uma instância de moderação e ponderação capaz de resolver impasses em momentos de crise. Esta não é uma função de governo, mas de garantia da ordem constitucional e do equilíbrio institucional. E são as características únicas do Senado e sua atual composição que o capacitam para esta delicada missão na conjuntura.

O Senado é uma instituição centenária, cuja composição é deliberadamente desenhada para conferir serenidade e perspectiva de longo prazo. Diferente da Câmara dos Deputados, que reflete com maior imediatez a volatilidade da opinião pública, o Senado exige de seus membros idade mínima de 35 anos, assegurando, em tese, integrantes com maior trajetória, experiência política e equilíbrio amadurecido. Além disso, os senadores representam as unidades federativas em pé de igualdade, o que confere uma visão nacional e federativa, contrabalançando paixões regionais ou majoritárias exacerbadas na Câmara baixa.

As próprias atribuições constitucionais do Senado são intrinsecamente moderadoras. Para além da função legislativa, a Casa detém competências de controle que a posicionam como um veto player qualificado. Cabe a ela aprovar a nomeação de altas autoridades do Judiciário, do Ministério Público e de agências reguladoras. Esse poder de sabatina e confirmação é um instrumento crucial de moderação, impedindo que indicações puramente políticas ou de qualidade duvidosa alcancem cargos de extrema relevância. Da mesma forma, a competência para autorizar operações de crédito externo e interno confere ao Senado um papel central na moderação das contas públicas, atuando como freio a impulsos gastadores irresponsáveis.

A mais grave dessas atribuições é a função judicante: processar e julgar o Presidente da República, o Vice-Presidente e os Ministros do STF nos crimes de responsabilidade. Este é um poder imenso do sistema de freios e contrapesos, cujo exercício requer sabedoria. Só pode e só deve ser usado para sanar crises institucionais profundas e não por razões ideológicas e de ordem política ou persecutória. O fato de essa competência ser conferida ao Senado, e não à Câmara, é um reconhecimento claro da expectativa de uma postura mais ponderada, menos sujeita aos ventos da conjuntura imediata.

Senado deve exercer função moderadora no atual cenário de crise.

Senado deve exercer função moderadora no atual cenário de crise.Jonas Pereira/Agência Senado

O desenho do processo legislativo também sinaliza esse papel. Enquanto as proposições de iniciativa externa, inclusive dos outros poderes e órgãos de maior impacto, têm entrada na Câmara, Casa mais permeável às demandas populares, ao Senado cabe o papel de casa revisora. Sua função é revisar, com mais calma e profundidade, os textos aprovados pelos deputados, contendo excessos, corrigindo imperfeições e incorporando uma visão de Estado mais ampla - a chamada "sabedoria senatorial". A cultura institucional do Senado tende a privilegiar a negociação e o acordo, em contraposição a possíveis radicalismos.

Na crise atual, a necessidade de mecanismo semelhante ao de poder moderador é premente. O Executivo é parte do conflito; o STF, acionado para resolver impasses, tem sua legitimidade contestada por uma das partes; e a Câmara dos Deputados mostra-se, por vezes, refém de grupos de interesse e de uma lógica de curto prazo. É neste vácuo que o Senado deve se erguer. Felizmente, nas lideranças majoritárias atuais, parece existir um entendimento dessa responsabilidade histórica. A existência de uma maioria com perfil mais negociador e menos ideológico é um ativo inestimável para a tarefa de compreender os anseios populares filtrando os excessos radicais.

Um exemplo claro e iminente desse papel moderador será o exame da chamada PEC da Blindagem, recentemente aprovada na Câmara. Essa proposta, que condiciona processos contra parlamentares à autorização prévia da casa legislativa por voto secreto, é um escárnio ao Estado Democrático de Direito, nascido de um movimento de autopreservação de setores do Congresso ameaçados pela Justiça. A confirmação no Senado do texto aprovado na Câmara representaria um grave retrocesso, criando uma imunidade quase total, estimulando a infiltração do crime organizado na política e corroendo a confiança da população.

Por tudo isto, fica patente o papel crucial do Senado no equilíbrio e na pacificação do País. Espera-se que, ao receber a proposta, a Casa a analise com o rigor necessário. Rejeitá-la ou modificá-la substancialmente será um sinal claro de que o Senado cumpre sua missão de guardião da Constituição, contendo os excessos de uma Câmara que, neste caso, age por instinto de sobrevivência, não pelo bem público.

Nesse cenário, é preciso lembrar que em 2026 ocorrerá a renovação de 2/3 do Senado, e as forças de extrema-direita no país, responsáveis pela atual fragmentação e polarização, definiram como prioridade máxima eleger uma maioria qualificada do Senado da República. Um triunfo da extrema-direita no pleito de 2026 para esses postos significaria o fim da prudência e do equilíbrio nas relações de poder, criando condições para uma ação revanchista dos senadores bolsonaristas contra os ministros do Supremo Tribunal Federal, por estes terem defendido a democracia e punido extremistas e golpistas por seus atos violentos contra o Estado Democrático de Direito.

É, portanto, imperativo o atual Senado da República assumir esse papel moderador. A história institucional brasileira mostra que, nos momentos mais críticos, como na redemocratização, foi no Senado que se encontraram as saídas mais equilibradas. Diante da disfunção do sistema de freios e contrapesos, o Brasil precisa resgatar o espírito moderador inscrito na arquitetura do seu Senado. Cabe aos atuais senadores a honrosa tarefa de colocar a instituição a serviço da pacificação nacional. O momento exige moderação, sabedoria e coragem cívica. E é no Senado Federal que essa esperança, talvez a mais realista no cenário atual, deve ser depositada. O Brasil precisa que o Senado cumpra, na atual conjuntura, um papel de Poder Moderador.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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