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31/10/2021 | Atualizado 27/12/2021 às 15:19

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Foto: Divulgação/Brasília Orgulho

Foto: Divulgação/Brasília Orgulho
Oxalá chegou mais cedo ao encontro semanal com Emanuel e Jaci. Eles haviam marcado a reunião na Terra Indígena Ashaninka, porque queriam conhecer a tradição do povo que coletava, protegia e guardava as sementes de árvores da Amazônia. O local tinha sido uma sugestão de Ceuci, que estava abismada com a rápida devastação da floresta por garimpeiros, madeireiros e fazendeiros, quase todos clandestinamente apoiados por quem devia combatê-los. Mas desta vez Oxalá não estava sozinho. Ele foi em companhia de Oxumaré, que queria conhecer o estado das coisas nascidas nas florestas criadas a pedido de Olorum, e, catalogadas, propor aos Orixás um movimento em defesa da biodiversidade amazônica como forma de garantir a fartura, o equilíbrio e a propriedade permanente da humanidade sobre as coisas da terra. A antecipação do horário causou um grande susto em Jaci, pois estava entretida na leitura de um livro muito antigo. - Axé, minha Oshupá! - cumprimentou, Oxalá! - Desculpe ter chegado antes e ainda mais sem avisar que estava acompanhado! - Arroboboi, Oxumaré! - saudou Jaci, gritando de alegria ao perceber quem era o inesperado visitante. - Que saudade, Cobra-arco-íris, finalmente Olorum liberou você para nos visitar! - Eu também estava com saudade de sua luz - correspondeu Oxumaré, após um longo abraço em Jaci. - Desculpe o susto, mas eu tinha pedido a Oxalá que não avisasse a você, pois gosto de surpresas. - E Jaci também não gosta? - sorriu Oxalá. - Quem escolheu a noite como rotina sabe dos segredos, dos quereres, dos espantos e das traquinagens de nossas criaturas. - O que não impede conhecer as coisas através dos livros - gargalhou Oxumaré. - O que você estava lendo? - Na verdade eu estava relendo os livros "Tratado da Província do Brasil" e "História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil" - respondeu, Jaci. - Quero anotar o que o historiador Pero de Magalhães Gandavo registrou sobre a nossa fauna e flora. - Eu gosto muito desses dois livros, especialmente pela originalidade - pontuou Oxumaré. - Acho que esteve no Brasil ente 1558 e 1572, não foi? - Eu não conto o tempo pelo calendário de Emanuel - brincou Jaci, ao ver o seu amigo chegando. - Mas foi na época em que a nossa Pindorama começou a ser retalhada em capitanias hereditárias, sob o comando de um tal de Mem de Sá. - Eu gosto muito desses livros, embora escrito por um português católico muito conservador - disse Oxumaré, olhado de soslaio para Emanuel. - Principalmente naquele trecho em que ele reconhece que a homoafetividade era nativa no Brasil. - E desse assunto Oxumaré entende bem - complementou, sério Oxalá. - O seu lado Frekuen é encantador. - "Algumas índias há que também entre eles determinam de ser castas. As quais não conhecem homem algum de nenhuma qualidade, nem o consentirão ainda que por isso as matem. Estas deixam todo exercício de mulheres e imitam os homens e seguem os seus ofícios, como se não fossem fêmeas. Trazem os cabelos cortados da mesma maneira que os machos, e vão à guerra com seus arcos e flechas, e à caça, perseverando sempre na companhia dos homens, e cada uma tem mulher que a serve, com quem diz que é casada, e assim se comunicam e conversam como marido e mulher." - recitou Oxumaré, a anotação do historiador sobre a homoafetividade nativa no Brasil. - Também era absolutamente normal que os homens cuidassem dos filhos recém-nascidos, que as crianças fossem criadas "sem nenhuma maneira de castigo", e mamassem "até a idade de sete, oito anos", que vivessem "livres de toda cobiça e desejo desordenado de riquezas", "porque todos são iguais e em tudo tão conformes nas condições, que ainda nesta parte vivem justamente, e conforme a lei da natureza" - complementou Emanuel, exercitando a onisciência. - Eu também li esses livros, pois sei que em nome de meu Pai, e sem a aprovação Dele, cometeram e ainda comentem vários crimes e atos de homofobia, racismo e machismo. - É lamentável tudo isso - concordou Oxumaré. - É desalentador quando usam do amor que pregamos para espalharem o desamor que combatemos. - Sumé já disse a Tupã que não entende como e quando se fez essa mudança - também lamentou Jaci. - Até mesmo ousaram criminalizar o amor que brota do coração de forma diferente ao batimento moral que chamam de normal. - Pois é! A todo momento sacam da quadra moralista uma agressividade dessa - concordou Emanuel. - Vocês sabem que Sebastião, Joana d'Arc, Perpétua, Elredo, Galla, Sérgio e Baco, santificados em tudo que fazem, são constantemente agredidos por essas vozes moralista e estranhamente religiosas, não é? - O moralismo sempre esteve fora do armário - pontuou Oxumaré. - Infelizmente para aprisionar na gaveta do medo toda a forma de amar que queremos livre. - O arco-íris de Oxumaré é o mesmo arco-íris que liga todas a criaturas do Aiê ao Orum que habitamos - reafirmou Oxalá. - E não há diferenças entre elas. - Como detentora dos segredos da noite, aprendi que os arautos da moralidade teimam fazer do mundo o habitat da desigualdade por interesse próprio - encerrou Jaci, ao perceber a aproximação de seu povo Ashaninka, com várias cestas de sementes. - Mas vários deles, inclusive, frequentando, na clandestinidade da alma e do corpo, os ambientes que tanto condenam. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. > Leia mais textos do autor
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