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22/9/2021 | Atualizado 27/12/2021 às 15:08

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Emanuel e Oxalá estavam preocupados com Jaci. Não conseguiam reunir-se com a amiga há aproximadamente um mês. Estavam com saudade dos encontros e das conversas semanais em que trocavam experiências, saberes e compreensões sobre a importância do espalhar o amor incondicional em uma quadra do tempo em que o ódio ganhava chancela oficial. A ausência do encontro semanal era bastante sentido pelos dois amigos e já comentado em vários lugares e por várias divindades que frequentavam as rodadas de conversas livres. Oxalá não conseguia disfarçar uma certa ansiedade pela suspensão inesperada dos colóquios, pois era a sua vez de contar a narrativa que escolhera sob a inspiração dos Orixás. Mas eles sabiam que Jaci estava iluminando o esperançar de seu povo na luta que travava no terreno de um tribunal criado e composto exclusivamente por não-indígenas. E não é sem razão o esperançar de Jaci e dos povos indígenas que acampam em Brasília a espera de uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Desde que os portugueses aportaram em sua Pindorama, no dia 21 de abril de 1500, Jaci testemunhava a possibilidade de se reconhecer a posse que o seu povo tradicionalmente ocupa no Brasil. Era a última e derradeira chance do Brasil proibir o genocídio indígena, o esbulho das terras tradicionalmente ocupadas, a aniquilação das culturas originárias, o desaparecimentos das primeiras línguas faladas e a proteção das florestas. Enquanto conversavam sobre as injustiças historicamente praticadas contra os povos indígenas, não perceberam que Jaci havia entrado na sala. - Tîa nde pytuna!  - saudou Jaci, iluminando a noite que acabava de iniciar a sua jornada. - Estavam com saudades do meu brilho? - Sempre estamos, Oshupá! - respondeu, animado, Oxalá - Mas estávamos aqui comentando sobre a importância do julgamento do STF para o futuro da humanidade. - Então estou perdoada por não termos nos encontrado nestas últimas semanas? - acarinhou-se Jaci. - Não é o caso de perdoar, mas o de agradecer a você por nos iluminar em sua perseverança. O futuro da Nossa Casa Comum depende do tratamento que damos a todos os habitantes e coisas do planeta - concordou Emanuel. - Essa foi a mensagem deixada pelo nosso Francisco durante o Sínodo da Amazônia - Ixé oro-aûsub, Emanuel! Eu sou muito agradecida à ajuda que vocês estão nos dando - sensibilizou-se Jaci. - Nossos adversários são muito fortes, econômica e politicamente. - Eles apenas mudam de nome ou de época, mas a ganância é sempre a mesma - concordou Oxalá. - E todos eles apoiando e elegendo políticos que são cúmplices dos mais variados genocídios. - Eu fico impressionada como as pessoas se revoltam com a destruição de uma estátua como a de Borba Gato, mas são insensíveis à política de aniquilamento dos povos indígenas, das florestas e dos animais - complementou Emanuel. - Não foi isso que ensinamos a eles. - Não mesmo! - exaltou-se Jaci. - Vocês sabem que não é a falta de saber o que está acontecendo com o nosso povo. Eles sabem muito bem. Denúncias e avisos são externados o tempo todo. Não é preciso ser o seu amigo Tomé que apenas acredita no que os olhos enxergam. Eles sabem. Eles sabem e nada querem fazer. - Deixe o pobre do Tomé em paz, Jaci! Ele mudou muito nos últimos anos e está super espiritualizado - sorriu Emanuel. - Tem uma obra de arte exposta no salão principal do Supremo que denúncia esses crimes, não é Jaci? - Eu fiquei chocada com a descoberta - esbravejou Jaci. - Ele retrata com perfeição a cruel história de meu povo, chacinado sem piedade. Aqueles bandeirantes com garras demoníacas, fortemente armados, cercando o meu povo e ameaçando uma mãe que protegia o seu curumim e o que restava da floresta. A cena deveria sensibilizar o mais frio dos corações. - Eu tenho certeza de que o artista filipino Masanori Uragami pretendia denunciar o que estava acontecendo no Brasil - complementou Oxalá. - Ainda mais quando colocou Brasília e os Poderes da República ao fundo, testemunhando o crime coletivo ali praticado. - Claro que essa era a intenção, Oxalá! - continuou, exaltada, Jaci. - Você não notou o nome e o ano do mural? - Bandeira de Ontem e de Hoje, pintado em 1971 - respondeu, rapidamente, Emanuel, não perdendo a oportunidade para exercer a sua onisciência. -  Isso mesmo, Emanuel! - afirmou Jaci. - O artista avisou ao Poder Judiciário que as bandeiras do passado continuavam ativas no hoje. Mais ainda, que no ano de 1971 nosso povo era exibido como animais presos em paus-de-arara em paradas militares. -  Espero ser esta uma verdade profética - suspirou Oxalá. - E que o STF interprete o quadro como uma advertência de um passado sombrio, proibido no hoje e nunca mais repetido no futuro. -  Assim espero, mas, confesso estou muito preocupada - confessou Jaci. - Com os dois votos já proferidos, o julgamento está empatado e não tem data para acabar. -  Também assim desejo, não podemos permitir que a "bandeirante" tese do marco temporal seja vencedora - apoiou Oxalá. - Nossas irmãs e irmãos quilombolas têm interesse na aplicação da constitucional posse tradicional como razão de existir. -  Sei disso, meu Orixá! - animou-se Jaci. - Daí continuarmos lutando em Brasília e em todo lugar que a nossa ancestralidade aconselhar. E que a suprema profecia de que teremos de volta a nossa Pindorama se concretize logo. -  Não ao marco temporal! - bradaram, conjuntamente, Emanuel e Oxalá! O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. > Leia mais artigos do autor
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