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Aldemario Araujo Castro
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Bets: além da transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos
3/11/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 14:47
 
 
 Até o início do ano de 2020, o clã Bolsonaro não poupava críticas ao Bolsa Família. "Não sei o que passa na cabeça dessas pessoas achar que o socialismo e o comunismo têm como dar certo", disse recentemente o senhor Jair Bolsonaro após referir-se ao Bolsa Família. O Programa Bolsa Família (PBF) é um importante instrumento de transferência de renda do Governo Federal, sob certas condições, que unificou e ampliou vários programas anteriores da mesma natureza. Foi instituído no Governo Lula (registre-se que não tenho a menor simpatia política por este senhor) em 2003 e está regulado pela Lei n. 10.836, de 2004.
Ocorre que a pandemia decorrente da covid-19 e a necessidade de auxiliar a população mais sofrida por intermédio de um auxílio financeiro emergencial fez brilhar os olhos dos inquilinos do poder em relação aos programas de renda mínima. A rápida conversão possui razões estritamente eleitorais. Na mira do clã Bolsonaro está uma possível, mas incerta, reeleição presidencial. Reputo secundário esse ponto. Socorrer os necessitados é um imperativo jurídico, ético, político e econômico, mesmo que a iniciativa governamental mire objetivo dos mais censuráveis.
Observe-se que as fontes financeiras cogitadas pelo governo para instituir um novo programa de renda mínima simplesmente "esquecem" o "andar de cima" da sociedade. O esforço fiscal sempre é dirigido para "os andares de baixo" da pirâmide social (o "mundo do trabalho" em sentido amplo). Veja a lista de hipóteses já levantadas:
a) congelar aposentadorias e pensões pagas pela Previdência administrada pelo Poder Público;
b) realizar cortes em benefícios sociais;
c) reduzir o pagamento de precatórios;
d) suprimir recursos da educação, especificamente os administrados pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb);
e) eliminar ou diminuir deduções (educação e saúde, por exemplo) do imposto de renda da pessoa física;
f) reduzir remunerações de servidores públicos (com redução proporcional da jornada de trabalho).
Até o início do ano de 2020, o clã Bolsonaro não poupava críticas ao Bolsa Família. "Não sei o que passa na cabeça dessas pessoas achar que o socialismo e o comunismo têm como dar certo", disse recentemente o senhor Jair Bolsonaro após referir-se ao Bolsa Família. O Programa Bolsa Família (PBF) é um importante instrumento de transferência de renda do Governo Federal, sob certas condições, que unificou e ampliou vários programas anteriores da mesma natureza. Foi instituído no Governo Lula (registre-se que não tenho a menor simpatia política por este senhor) em 2003 e está regulado pela Lei n. 10.836, de 2004.
Ocorre que a pandemia decorrente da covid-19 e a necessidade de auxiliar a população mais sofrida por intermédio de um auxílio financeiro emergencial fez brilhar os olhos dos inquilinos do poder em relação aos programas de renda mínima. A rápida conversão possui razões estritamente eleitorais. Na mira do clã Bolsonaro está uma possível, mas incerta, reeleição presidencial. Reputo secundário esse ponto. Socorrer os necessitados é um imperativo jurídico, ético, político e econômico, mesmo que a iniciativa governamental mire objetivo dos mais censuráveis.
Observe-se que as fontes financeiras cogitadas pelo governo para instituir um novo programa de renda mínima simplesmente "esquecem" o "andar de cima" da sociedade. O esforço fiscal sempre é dirigido para "os andares de baixo" da pirâmide social (o "mundo do trabalho" em sentido amplo). Veja a lista de hipóteses já levantadas:
a) congelar aposentadorias e pensões pagas pela Previdência administrada pelo Poder Público;
b) realizar cortes em benefícios sociais;
c) reduzir o pagamento de precatórios;
d) suprimir recursos da educação, especificamente os administrados pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb);
e) eliminar ou diminuir deduções (educação e saúde, por exemplo) do imposto de renda da pessoa física;
f) reduzir remunerações de servidores públicos (com redução proporcional da jornada de trabalho).
 Mudando o foco dos debates, aponto uma fonte de financiamento que atinge diretamente o "andar de cima". Trata-se de aumentar a tributação dos juros recebidos pelos bancos nas suas operações de crédito (as mais diversas formas de empréstimos concedidos a pessoas físicas e jurídicas).
Segundo dados do Banco Central do Brasil (BCB), o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$3,7 trilhões em agosto de 2020, sendo R$1,6 trilhão de pessoas jurídicas e R$2,1 trilhões de pessoas físicas. O Indicador de Custo do Crédito (ICC), medidor do custo médio de todo o crédito do SFN, apontou para 17,9% ao ano no mesmo mês de agosto.
Percebe-se, com extrema facilidade, que centenas de bilhões de reais são pagos anualmente por pessoas físicas e empresas na forma de juros bancários no Brasil. Ninguém se iluda. O devedor de bancos no Brasil não paga aquela taxa SELIC baixinha fixada pelo BCB. Esse, apesar de ser um dos principais problemas socioeconômicos brasileiros, inclusive por deprimir o consumo de forma significativa, raramente é objeto de alguma atenção da imprensa ou dos últimos governos, incluído o atual.
A proposta específica, a título de provocação para o debate, reclamando os estudos e ajustes pertinentes, envolve a utilização dos recursos do Programa Bolsa Família (a ser extinto) e os recursos advindos do aumento da tributação dos bancos, como antes posto. Com uma massa de recursos da ordem de R$ 100 bilhões de reais por ano, seria possível viabilizar uma renda básica (com mecanismos inteligentes de ingresso e saída do programa) na casa dos R$ 300 reais mensais para cerca de 30 milhões de beneficiários. Seria, ademais, um importante passo para a implementação da esquecida "renda básica de cidadania", definida pela Lei n. 10.835, de 2004.
Portanto, é preciso muito cuidado com o discurso oriundo do governo Bolsonaro, notadamente na voz do senhor Paulo Guedes, da grande imprensa e do mercado, sobretudo financeiro. O Brasil não se resume ao superávit primário, à corrupção, aos "privilégios" do funcionalismo público (embora existam alguns a serem suprimidos) e aos "demoníacos" gastos previdenciários. A imensa maioria da sociedade brasileira nem imagina o que (e quanto) é "escondido" dela em termos de expedientes institucionalizados de transferência de riqueza (não se trata de corrupção) da imensa maioria da população para um punhado de "escolhidos".
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
> Leia mais textos dos autor.
Mudando o foco dos debates, aponto uma fonte de financiamento que atinge diretamente o "andar de cima". Trata-se de aumentar a tributação dos juros recebidos pelos bancos nas suas operações de crédito (as mais diversas formas de empréstimos concedidos a pessoas físicas e jurídicas).
Segundo dados do Banco Central do Brasil (BCB), o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$3,7 trilhões em agosto de 2020, sendo R$1,6 trilhão de pessoas jurídicas e R$2,1 trilhões de pessoas físicas. O Indicador de Custo do Crédito (ICC), medidor do custo médio de todo o crédito do SFN, apontou para 17,9% ao ano no mesmo mês de agosto.
Percebe-se, com extrema facilidade, que centenas de bilhões de reais são pagos anualmente por pessoas físicas e empresas na forma de juros bancários no Brasil. Ninguém se iluda. O devedor de bancos no Brasil não paga aquela taxa SELIC baixinha fixada pelo BCB. Esse, apesar de ser um dos principais problemas socioeconômicos brasileiros, inclusive por deprimir o consumo de forma significativa, raramente é objeto de alguma atenção da imprensa ou dos últimos governos, incluído o atual.
A proposta específica, a título de provocação para o debate, reclamando os estudos e ajustes pertinentes, envolve a utilização dos recursos do Programa Bolsa Família (a ser extinto) e os recursos advindos do aumento da tributação dos bancos, como antes posto. Com uma massa de recursos da ordem de R$ 100 bilhões de reais por ano, seria possível viabilizar uma renda básica (com mecanismos inteligentes de ingresso e saída do programa) na casa dos R$ 300 reais mensais para cerca de 30 milhões de beneficiários. Seria, ademais, um importante passo para a implementação da esquecida "renda básica de cidadania", definida pela Lei n. 10.835, de 2004.
Portanto, é preciso muito cuidado com o discurso oriundo do governo Bolsonaro, notadamente na voz do senhor Paulo Guedes, da grande imprensa e do mercado, sobretudo financeiro. O Brasil não se resume ao superávit primário, à corrupção, aos "privilégios" do funcionalismo público (embora existam alguns a serem suprimidos) e aos "demoníacos" gastos previdenciários. A imensa maioria da sociedade brasileira nem imagina o que (e quanto) é "escondido" dela em termos de expedientes institucionalizados de transferência de riqueza (não se trata de corrupção) da imensa maioria da população para um punhado de "escolhidos".
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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