Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
Como as emendas impositivas podem interferir no sistema eleitoral
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
28/12/2017 7:30
<< "Sessão legislativa de 2017 foi uma das piores de todos os tempos", lamenta analista políticoAntes de tratar desses motivos, lembremos que a média histórica de renovação, considerando as sete últimas eleições para a Câmara dos Deputados, foi de 49%. Parte importante dessa renovação decorre da desistência de parlamentares da tentativa de reeleição. Em média, pelo menos 100 dos 513 deputados não tentam renovar seus mandatos, seja por abandono da vida pública, seja para concorrer a outros cargos na disputa eleitoral, conforme tabela a seguir.
| Ano da eleição | Composição da Câmara no ano da eleição | Nº de candidatos à reeleição | Índice de recandidatura | Nº de reeleitos | Índice de reeleição¹ | Nº de novos | Índice de renovação² |
| 1990 | 495* | 368 | 74,34% | 189 | 51,35% | 306 | 61,82% |
| 1994 | 503** | 397 | 78,92% | 230 | 57,93% | 273 | 54,28% |
| 1998 | 513 | 443 | 86,35% | 288 | 65,01% | 225 | 43,86% |
| 2002 | 513 | 416 | 81,09% | 283 | 68,02% | 230 | 44,83% |
| 2006 | 513 | 442 | 86,16% | 267 | 60,41% | 246 | 47,95% |
| 2010 | 513 | 407 | 79,33% | 286 | 70,76% | 227 | 44,25% |
| 2014 | 513 | 387 | 75,43% | 273 | 70,54% | 240 | 47% |
| *A transformação dos territórios do Amapá e Roraima em Estados aumentou em oito deputados a composição da Câmara que, na Legislatura de 1991-1995 passou de 495 para 503 deputados. ** Na Legislatura 1995-1999 passou de 503 para 513 deputados, em razão de lei complementar que regulamentou o aumento da bancada de São Paulo de 60 para 70 deputados previstos na Constituição de 1988. ¹ O índice de reeleição da Câmara considera apenas os deputados no exercício do mandato que são candidatos à reeleição. ² O índice de renovação é calculado na composição total da Câmara. | |||||||
[/caption]
Em terceiro porque houve redução de 90 para 45 dias do tempo de campanha eleitoral, facilitando a vida dos candidatos à reeleição, que tem nome conhecido e serviços prestados, em detrimento dos novos postulantes.
E, em quarto, porque o detentor de mandato dispõe de uma série de outras vantagens comparativas em relação a quem aspira ocupar seu lugar, conforme segue:
1) Disputa a vaga no exercício do mandato;
2) Já tem bases eleitorais consolidadas;
3) Tem cabos eleitorais fidelizados;
4) Dispõe de recursos e meios para angariar apoio, como:
4.1) as emendas individuais, cujo valor anual supera R$ 14,7 milhões de reais (valores para 2018), fato que impulsiona o engajamento de vereadores e prefeitos;
4.2) a quota ou verba de gabinete entre R$ 30 e R$ 38 mil reais por mês para despesas diversas decorrentes do exercício do mandato, como passagens áreas, telefonia e material de expediente, consultoria, hospedagem, impressão de material, combustível, locação de veículos e aluguéis de escritórios políticos, etc;
4.3) verba de R$ 78 mil mensais para a contratação de pessoal para o gabinete em Brasília e/ou no estado de origem; e
4.4) poder, prestígio e acesso aos veículos de comunicação, muitas vezes por interesse dos próprios veículos em manter boa relação com os detentores de mandatos.
O desgaste dos atuais detentores de mandato certamente irá diminuir suas votações individuais, mas não terá o condão de evitar a reeleição. É que os pequenos partidos que surgem com perspectiva de renovação, se não fizerem coligações, dificilmente conseguirão atingir a cláusula de barreira. E também haverá aumento das abstenções, dos votos brancos e nulos, reduzindo o número de votos necessários para ocupar uma vaga, desde que o partido ou coligação atinja o quociente eleitoral.
O que tende a acontecer - e mesmo assim em menor escala - não será uma renovação real, mas uma mera circulação no poder, com a substituição de representantes de uma oligarquia local por outra. Ou seja, quem não conseguir se reeleger terá sua vaga ocupada, majoritariamente, por ex-prefeitos, ex-governadores, ex-deputados federais, estaduais ou distritais, ex-vereadores, ex-secretários, ex-ministros, etc, por endinheirados, por parentes de caciques regionais e por celebridades, como os jogadores de futebol.
Nos casos dos setores populares, é fundamental que haja uma articulação em nível estadual e nacional, como o objetivo de unir esforços para aumentar sua representação no Congresso, sob pena de ampliação dos retrocessos, com a eleição de um Congresso ainda mais conservador que o atual.
Para tanto, é indispensável que os movimentos sociais, os trabalhadores do setor privado e os servidores públicos priorizem candidaturas e concentrem votos nelas, além de os partidos do campo popular só fazerem coligação na eleição proporcional onde houver identidade programática, sob pena de acontecer o que ocorreu em 2014, quando votos dados aos candidatos identificados com os trabalhadores ajudaram a eleger dezenas de deputados de partidos contrários ao seu ideário.
Como haverá grande escassez de recursos, é preciso que haja criatividade e solidariedade no campo popular, potencializando o financiamento eleitoral coletivo, principalmente mediante a "vaquinha online" (crowdfunding) e também a comercialização de bens e serviços e a promoção de eventos de arrecadação, como jantares e outros eventos, conforme autoriza a legislação eleitoral.
Por isso a importância de não fazer coligação, nas eleições proporcionais, com partidos sem unidade programática, para evitar transferir votos dos assalariados e do campo popular para as forças antagônicas as suas convicções; não pulverizar os votos e apoiar os candidatos comprometidos com os interesses dos trabalhadores; e denunciar todos aqueles que votaram contra seus interesses.
Do mesmo autor:
<< Congresso teve produção "grande e ruim" em 2017 << Reforma da Previdência pode comprometer reeleição, sim!
Tags
Temas
Política
Eleições e território
Serviços públicos
Política global