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OLHARES NEGROS
16/10/2021 | Atualizado às 19:33
Fachada da Vila Isabel, que decidiu homenagear Martinho da Vila com um samba enredo. Música fala, dentre outras coisas, sobre reforma agrária. Foto: Mariana Maiara[/caption]
As escolas de samba mostram um caminho com sua forma peculiar de contar histórias. Para o carnaval de 2022 elas refletem sobre suas tradições, como a Mocidade ao evidenciar sua preocupação com o meio ambiente com seu enredo sobre Oxossi , o orixá das matas. que caça e preserva a natureza.. Na Portela teremos a manutenção das tradições do samba ao falar do Baobá, árvore sagrada, que mostra a africanidade da comunidade preta. Já a Grande Rio trata da capacidade de transformação da sociedade, mostrando o orixá EXU, responsável por comunicação e mudança. Elas sabem que a luta contra o racismo vem de longe, sendo que após 150 anos da Lei do Ventre Livre as mulheres pretas continuam sem ter liberdade para seus filhos, pois ela só é assegurada numa sociedade democrática e equânime, que aceite a diversidade e possibilite oportunidade igual para todos. Por conta disto o Salgueiro traz o enredo Resistência, evidenciando a luta pelos direitos humanos da população preta em nosso país.
A pressão dos grupos econômicos mais poderosos vem sendo exercida desde sempre, apresentando uma lógica política de que a riqueza do país deve beneficiar quem investe e não as pessoas do povo. Assim, os mais ricos são beneficiados em detrimento da população menos favorecida, basicamente a comunidade preta, não considerada cidadã, apesar de todas as leis criadas incluindo o 13 de maio e a Constituição de 1988.
A Constituição de 1988 é conhecida como democrática, mas o Brasil não é uma democracia racial porque a discriminação racial e o racismo são, ao mesmo tempo, uma prática e uma ideologia que assolam, implacavelmente, o cotidiano das pessoas negras, suas famílias e suas comunidades. . As elites e os brancos pobres não foram preparados para aceitar a mudança racial. Permanece intocada a questão da raça, da relação entre patrões e empregadas/os e de segurança pública.
Os policiais continuam perseguindo e matando a comunidade negra, como nos anos 30. Segundo o relatório do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESC) de 2019, intitulado A Cor da Violência: a bala não erra o alvo, nossa sociedade está organizada para usar o racismo como motor da violência. Apresentam em seu relatório números que comprovam que praticamente todos os mortos em ações policiais em cinco estados brasileiros são negros. Assim sendo, o debate de segurança pública em nossa sociedade tem de ser centrado em raça. Segundo nossa Constituição de 1988 todos são iguais perante a lei, mas verificamos que não são tão iguais assim. Comprovamos tal desigualdade neste momento de pandemia com mais de seiscentos mil mortos, sendo os que mais adoecem e morrem os das comunidades pobres e pretas. Conceição Evaristo em 2008, no seu Poemas de Recordação e outros momentos, esclarece:
"Os ossos de nossos antepassados
Colhem as nossas perenes lágrimas
Pelos mortos de hoje.
Os olhos de nossos antepassados,
Negras estrelas tingidas de sangue,
Elevam-se das profundezas do tempo
Cuidando de nossa dolorida memória.
A terra está coberta de valas
E a qualquer descuido de vida
A morte é certa.
A bala não erra o alvo, no escuro
Um corpo negro bambeia e dança
A certidão de óbito, os antigos sabem
Veio lavrada desde os negreiros."
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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