Após duas semanas de embates, governo e oposição cederam na criação de uma CPI mista, composta por deputados e senadores, para apurar denúncias de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada em troca de apoio ao governo. Os oposicionistas, que queriam que a apuração se restringisse ao mensalão, aceitaram que as investigações também se voltassem para a suspeita de que, em 1997, deputados teriam recebido dinheiro para aprovar a emenda constitucional que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Estender as apurações ao governo FHC era o principal motivo da insistência dos governistas em criar na Câmara a CPI da Compra de Votos. Mas, para votar a criação da comissão, os deputados tinham de limpar a pauta antes da sessão conjunta do Congresso. Para abrir caminho para a votação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou no jogo, ao retirar a urgência constitucional de cinco projetos de lei e ao anular uma medida provisória, que obstruíam as votações.
Com 17 senadores e 17 deputados, a CPI do Mensalão deve começar os seus trabalhos somente em agosto, quando deve haver nova disputa pela relatoria e a presidência da comissão.
PL na berlinda
No dia em que era criada, a CPI ganhou mais um personagem para investigar: o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas. Entre setembro de 2003 e janeiro de 2004, Lamas esteve na agência do Banco Rural, no Brasília Shopping, por dez vezes. O local é apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos endereços para o pagamento do mensalão. A data de oito dessas visitas coincide com os dias em que foram registrados saques na ordem de R$ 1,77 milhão das contas da SMP&B Comunicação, agência do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, Jacinto negou, inicialmente, ter feito visitas à agência do Banco Rural. Confrontado com o registro de suas entradas na portaria, ele admitiu ter ido ao local para tratar da elaboração da nova logomarca do PL pela SMP&B. "Eventualmente, eles marcaram lá comigo para apresentar alguma proposta nova. (.) Eu acho que foi isso. Eu estive com um ou outro lá", disse o ex-tesoureiro ao Correio. "Com o Marcos Valério eu nunca encontrei lá. Tudo o que eu tratei com ele eu tratei na Câmara ou em Belo Horizonte.", acrescentou. O tesoureiro deixou o cargo em fevereiro, após 20 anos à frente das finanças do partido.
|