Em entrevista a quatro emissoras de rádio de São Paulo e do Rio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou as denúncias referentes ao mensalão e disse que nunca teve conhecimento de qualquer irregularidade no governo. "Se colocou na cabeça do povo brasileiro que havia mensalão. Virou até refrão de música", afirmou. Lula atribuiu a série de denúncias contra o seu governo à proximidade da sucessão presidencial.
O presidente respondeu a perguntas sobre outros temas polêmicos, como o caso Celso Daniel, a permanência do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a reeleição. O petista também foi questionado sobre a pesquisa CNT/Sensus, divulgado na última quarta, que apontou queda significativa da aprovação de seu governo.
Citando os laudos emitidos pela Polícia Civil de São Paulo e pela Polícia Federal, Lula afirmou que o assassinato do ex-prefeito de Santo André foi um "acidente de percurso", que não teve qualquer motivação política.
"Não acredito em crime político em hipótese alguma. Eu acho que assaltaram, seqüestraram e depois perceberam o tamanho do peixe, como diz na gíria policial, e resolveram matar, de forma irresponsável e por medo", disse.
Sobre a queda nos índices de aprovação popular, foi enfático: "A pergunta que faço é: que presidente resistiria ao bombardeio que estou sofrendo desde junho? Estou dizendo isso para mostrar que houve momentos nesses últimos tempos em que notícia boa não era publicada."
Veja alguns dos principais pontos da entrevista concedida pelo presidente Lula às rádios Capital AM (SP), Tupi (SP), Globo (RJ) e Tupi (RJ):
Reeleição
"No momento certo vou dizer se sou ou não sou [candidato], mas tenho que esperar meu momento para dizer. Isso não mexe com minha cabeça, não me preocupa, não durmo e acordo pensando nisso, é conseqüência de um trabalho que a gente faz."
"Tenho um mandato a cumprir, tenho um ano e um mês ainda para cumprir esse mandato. Não tenho que decidir agora se sou candidato ou não. Quem tem que decidir são meus adversários que estão aí dando trombada, xingando e ficando nervosos."
Antonio Palocci
"O Palocci é uma figura extremamente importante nesse momento político e econômico do Brasil. O Palocci foi convidado por mim, continuará e será o meu ministro da Fazenda. Isso não tem discussão, especulação."
"O Palocci é um homem de uma competência acima da média das pessoas que já passaram pela Fazenda no Brasil."
"Mexer no Palocci é a mesma coisa que pedir para o Barcelona tirar o Ronaldinho de jogar, deixa ele jogando, ele está bem. De vez em quando, o Ronaldinho perde um gol, de vez em quando o Palocci pode dizer alguma coisa que alguém não goste, mas isso faz parte da vida. No geral, as coisas estão indo muito bem. E podem melhorar, trabalhamos para melhorar."
"Gostaria que eles (ministros) debatessem entre eles e que só fosse para a imprensa o resultado final, que é isso que interessa para o povo brasileiro."
Caso Celso Daniel
"Tenho a convicção de que a morte do Celso Daniel foi um acidente e foi um crime comum. Não acredito em crime político em hipótese alguma."
"Lamentavelmente, uma parte do Ministério Público de São Paulo, toda vez que vai chegando a eleição, levanta esse caso."
"Se amanhã descobrirem que não foi crime comum, todos nós vamos mudar nossa versão, mas o que eu tenho agora é o resultado final da Polícia Civil e da Polícia Federal."
Mensalão
"O que o presidente da República tem que fazer é não fugir da sua responsabilidade. E eu sou daqueles que querem apurar a verdade doa a quem doer. Agora, tem critérios. Eu não posso enforcar para depois julgar. Primeiro, eu preciso julgar para tomar as outras atitudes."
"Só tem três possibilidades de o presidente saber [de irregularidades]: ou se ele participou da reunião, ou se alguém que participou contou para ele, ou se a imprensa denunciar."
Presidência
"Eu tenho consciência que Deus foi muito generoso comigo. Sair de onde eu saí e chegar a ser presidente da República."
"Peço todo dia que eu tenha saúde, que o povo brasileiro tenha saúde, que as coisas possam melhorar para todos nós."
"Se a gente trabalhar de forma combinada tudo será mais fácil. E é isso que eu espero deixar para o próximo presidente da República."
"O problema no Brasil é que cada um quer inventar o 'ovo de Colombo'. Cada um que entra acha que tem um coelho na cartola que vai ser a maior novidade do mundo."
Empregos
"No Brasil, de 1980 até 2002, temos uma situação desagregadora do ponto de vista do emprego. Nós, em 35 meses, criamos 3 milhões e 600 mil empregos de carteira assinada."
"A geração de emprego está bem, ela pode crescer e o ano que vem certamente vai crescer muito mais."