Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Congresso em Foco
30/7/2025 9:11
Às vésperas da entrada em vigor do tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros, o presidente Lula fez um apelo direto ao povo americano e enviou um recado claro ao ocupante da Casa Branca: quer diálogo, mas não aceitará intimidação.
"Tenha certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência", afirmou Lula em entrevista ao jornal The New York Times, publicada nesta quarta-feira (30). "Eu trato todos com grande respeito. Mas quero ser tratado com respeito."
A declaração foi dada em um momento de forte tensão entre os dois países. Trump confirmou que as novas tarifas entram em vigor nesta sexta-feira (1º), sob a justificativa de que o governo brasileiro estaria promovendo uma perseguição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado político. Lula rejeita a alegação. "Talvez ele não saiba que aqui, no Brasil, o Judiciário é independente", disse.
"Não somos um país pequeno diante de um grande"
Durante a entrevista, concedida no Palácio da Alvorada, Lula classificou as medidas de Trump como uma violação da soberania nacional. Disse reconhecer o peso econômico, militar e tecnológico dos Estados Unidos, mas deixou claro que o Brasil não aceitará ser tratado com inferioridade.
"Em nenhum momento o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um país grande", declarou. "Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados."
O presidente também criticou o estilo de comunicação de Trump, que anunciou o tarifaço em sua própria rede social, a Truth Social. Para Lula, isso está longe dos padrões diplomáticos: "O comportamento do presidente Trump desviou de todos os padrões de negociações e diplomacia", afirmou. "Quando você tem uma divergência comercial, uma divergência política, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato."
Consequências para os dois lados
Lula alertou que a população americana também será penalizada caso as tarifas sejam mantidas. Segundo ele, produtos como café, carne e suco de laranja, cuja produção brasileira abastece amplamente os EUA, devem ficar mais caros.
"Nem o povo americano nem o povo brasileiro merecem isso. Porque vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde", afirmou.
A sinalização de retaliação comercial também foi feita. Lula disse que o Brasil pode reagir com tarifas próprias, caso Trump mantenha a decisão. O governo brasileiro já formalizou pedido de diálogo, e o vice-presidente Geraldo Alckmin tem liderado as negociações com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Ele sinalizou que alguns produtos considerados escassos nos EUA, como o café, podem ficar de fora do aumento tarifário.
Bolsonaro e Trump: paralelos e interesses
A entrevista também abordou o papel de Jair Bolsonaro no centro da crise. Lula lembrou que, assim como Trump, o ex-presidente brasileiro tentou se manter no poder após perder as eleições. A diferença, segundo ele, é que "quatro anos depois, Trump voltou ao poder, enquanto Bolsonaro agora enfrenta a prisão".
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou o uso de tornozeleira eletrônica por Bolsonaro antes de seu julgamento. Trump, por sua vez, tem pressionado Lula a abandonar as ações judiciais contra o ex-presidente brasileiro, o que o petista rechaça publicamente.
Em 9 de julho, Trump chegou a enviar uma carta ao Palácio do Planalto, chamando o processo contra Bolsonaro de "vergonha internacional" e comparando os processos brasileiros aos seus próprios. "Me aconteceu, multiplicado por 10", escreveu.
STF na mira da Casa Branca
A reportagem do New York Times também menciona a crescente tensão entre os Estados Unidos e o Supremo Tribunal Federal. O governo americano revogou os vistos de Moraes e de outros ministros da Corte, além de seus familiares, sob a justificativa de que decisões judiciais no Brasil têm censurado redes sociais e perseguido adversários políticos.
O deputado Eduardo Bolsonaro tem atuado nos bastidores em Washington para que o nome de Moraes seja incluído em sanções da chamada Lei Magnitsky, voltada a punir autoridades estrangeiras por violações de direitos humanos.
Ao ser informado sobre essa possibilidade, Lula reagiu com preocupação: "Se o que você me diz é verdade, é mais grave do que eu imaginava. A Suprema Corte de um país tem que ser respeitada não só por seu próprio país, mas pelo mundo."
Isolamento diplomático
Lula também lamentou o fato de não ter conseguido estabelecer diálogo com Trump desde sua eleição. Afirmou que enviou uma carta ao republicano, mas que nunca obteve resposta. "Todo mundo sabe que eu pedi para estabelecer contato", disse. "O que impede é que ninguém quer conversar."
Em declaração recente, Trump afirmou que "talvez" fale com Lula "em algum momento", mas que "agora, não". Dias depois, publicou outra carta em defesa de Bolsonaro: "Esse julgamento deve terminar imediatamente!"
A entrevista ocorre num momento crítico da relação entre Brasil e Estados Unidos, e revela o esforço de Lula para combinar firmeza e diplomacia diante de um adversário imprevisível. O presidente aposta na construção de uma resposta internacional racional, mas deixa claro que não aceitará ser pressionado.
Temas
LEIA MAIS
OSCAR DA POLÍTICA
Votação do Prêmio Congresso em Foco termina nesta quarta; participe
Câmara dos Deputados
Veja quem foram os deputados que mais gastaram cota parlamentar no ano