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EFEITO ELEITORAL
Congresso em Foco
4/11/2025 7:59
O ano de 2026 promete ser dominado por operações policiais de grande repercussão: tanto por motivações políticas quanto pela necessidade de resposta à crescente percepção de insegurança. Com as eleições se aproximando, não apenas cresce a cobrança do eleitor por resultados concretos, como também a pressão de candidatos dispostos a enfrentar diretamente o crime organizado, tanto a nível eleitoral quanto nacional.
A próxima eleição terá um tempero especial no debate sobre segurança pública: o instituto Genial/Quaest publicou uma pesquisa de opinião dias antes da megaoperação policial no Rio de Janeiro, onde se observou que 70% dos brasileiros enxergam o enfrentamento ao crime organizado como um problema a ser encarado pelo Governo Federal, aumentando a pressão para que candidatos ao Planalto se debrucem sobre o tema.
Nesse debate, operações policiais em larga escala se mostram um poderoso instrumento eleitoral. O Rio de Janeiro trouxe um exemplo concreto: a operação contra o Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha ocupou os trending topics do X ao longo da semana com termos como "BOPE", "Comando Vermelho", "Cláudio Castro" e "Rio de Janeiro".
Vitória política de Castro
O governador Cláudio Castro colheu fartos frutos eleitorais da operação: em meio a críticas de organizações de defesa dos direitos humanos, seu número de seguidores nas redes sociais duplicou ao longo da semana. Na capital fluminense, a ação policial foi bem recebida: pesquisa realizada pela Atlas Intel identificou 62,2% de aprovação por parte dos moradores, em especial os da Zona Oeste, a maior e mais populosa do município. Entre os residentes das favelas, a aprovação foi ainda maior, chegando a 87,6%.
Politicamente, a operação rendeu a Cláudio Castro o apoio da maioria dos governadores do Sul, Centro-Oeste e Sudeste, que concordaram em criar o "Consórcio da Paz". A entidade, formada inicialmente pelo Rio de Janeiro e outros seis Estados, permitirá uma articulação direta na área de segurança pública entre seus membros, todos eles com visões contrárias à do Governo Federal sobre o tema.
Entre os membros, estão dois pré-candidatos confirmados ao Planalto (Ronaldo Caiado, de Goiás, e Romeu Zema, de Minas Gerais), e um dos nomes cogitados como sucessores eleitorais de Jair Bolsonaro (Tarcísio de Freitas, de São Paulo). Para Cláudio Castro, a projeção nacional é preciosa: seu sucessor em 2026 terá de enfrentar Eduardo Paes, prefeito com mais de 67% de aprovação na cidade do Rio de Janeiro segundo levantamento do Paraná Pesquisas em agosto.
Disputa por espaço
Em ano pré-eleitoral, já é possível identificar as semelhanças e diferenças na abordagem entre Governo Federal e governadores de oposição no tratamento da segurança pública. Candidatos do campo conservador se concentram em demonstrações de força, a exemplo da recente operação no Rio, bem como da Operação Escudo, carro-chefe da gestão de segurança pública do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
No entorno do governo Lula, o foco são operações de grande impacto institucional. Desde o início de sua gestão, as grandes operações a nível federal miram a desidratação de recursos financeiros das facções criminosas: ainda em 2023, o Governo Federal deflagrou uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem em portos e aeroportos do Rio de Janeiro e São Paulo, mirando rotas de entrada e saída de drogas. Em 2025, foi a vez da Operação Carbono Oculto, a primeira já feita para investigar a atuação do crime organizado no mercado financeiro.
Posição de desconforto
A abordagem econômica ao crime não demonstrou alcançar o mesmo apelo popular e midiático do emprego direto da força, e não resolve um problema histórico enfrentado não apenas pelo presidente Lula, mas por seu próprio grupo político, recorrentemente tratado como leniente pelo campo conservador. E essa reputação negativa é muito bem explorada por seus adversários.
Na semana anterior à operação, a questão do enfrentamento ao crime organizado rendeu uma crise de imagem para o petista, que, em meio às críticas ao governo Trump por suas operações em águas internacionais, afirmou que os traficantes "também são vítimas dos usuários". Mesmo admitindo o ato falho e reconhecendo o erro de sua fala, o estrago estava feito: o discurso já havia tomado conta das redes sociais, inclusive de parlamentares da oposição.
A crise de imagem, sucedida de uma ação policial da oposição com forte apoio popular (ainda que polarizado), forçou o governo a rever sua conduta em relação à segurança pública. Mesmo com a maior parte da bancada federal do PT do RJ contrária à operação, o presidente Lula proferiu uma manifestação neutra horas após a operação, quando já era possível averiguar o clima geral da opinião pública.
Em seu próprio partido, a ala mais pragmática também está evitando as críticas ao uso da força contra facções criminosas. O vice-presidente nacional do PT e prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, chegou a defender expressamente a operação no Rio. Em suas redes sociais, afirmou que "ninguém enfrenta fuzil com beijinhos. Se enfrenta fuzil dando tiro em quem está com fuzil".
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) também reforçou o discurso voltado à segurança pública em suas redes sociais, dando ênfase à PEC que tramita na Casa. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, concluiu o texto inicial do projeto de lei que regulamenta o enfrentamento a facções criminosas, já enviado ao Congresso. Na Secretaria de Comunicação Social, o tema também virou prioridade da publicidade governamental, com ênfase em propostas legislativas e no saldo da Carbono Oculto.
Efeito limitado
O direcionamento do governo no debate sobre segurança não foi suficiente, até o momento, para reverter a opinião pública favorável a Cláudio Castro. Pesquisa Datafolha publicada no último sábado (1º) revelou que o governador fluminense se encontra no ápice de sua popularidade, com 40% da população da zona metropolitana do Rio avaliando sua gestão como bom ou ótimo, 23% como regular e 34% como ruim ou péssimo.
Enquanto isso, o presidente Lula enfrenta uma avaliação negativa no RJ: 60% dos entrevistados em uma pesquisa da Quaest publicada no domingo expressaram uma opinião negativa a respeito de sua gestão em segurança pública. O mesmo número de pessoas avalia que o presidente de fato quis dizer que "traficantes são vítimas dos usuários".
Os próximos capítulos responderão se o ajuste de direcionamento do discurso oficial pode ou não colaborar para o governo conseguir angariar apoio eleitoral na pauta de segurança pública. O que ficou claro com a operação no Rio de Janeiro é que operações de grande impacto midiático são o caminho mais efetivo até o momento para atrair a simpatia do eleitor interessado no tema.
Com a segurança pública no centro da pauta em 2026, o próximo ano promete uma nova escalada de grandes operações policiais: tanto por iniciativa do Governo Federal, quanto por iniciativa de governadores, muitos dos quais já estão com os olhos virados ao Planalto.
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