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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Rafaela Marques
25/9/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:32
![[fotografo] TV Brasil/Reprodução [/fotografo] [fotografo] TV Brasil/Reprodução [/fotografo]](https://static.congressoemfoco.com.br/2020/09/jair-bolsonaro-discurso-onu-tv-credito-tv-brasil-reproducao.jpg) 
 
 Se a noção de cristofobia pode aparecer neste tipo de maquinação burocrata, a um só tempo ela também é útil porque evoca a tradição cristã do martírio, e cria um dispositivo útil sobre o qual se escora um projeto de poder e hegemonia.
Pois bem. Apesar de tudo isso, cabe dizer que, sem dúvida, no Brasil há preconceito contra um determinado nicho cristão - mais precisamente, contra os evangélicos. No campo intelectual brasileiro, eventualmente formulações equivocadas e reducionistas atribuem o avanço do evangelicalismo ao predomínio da pobreza e à baixa escolarização nos territórios de periferia. Não é possível deixar de observar, também, que o racismo motiva certo ânimo acusatório contra os fiéis, especialmente dirigido aos pentecostais, segmento onde mulheres negras são maioria.
Não é verdadeiro, entretanto, que haja perseguição aos evangélicos, tampouco ao conjunto dos cristãos brasileiros. O discurso presidencial vale-se de um dado empiricamente verificável para alegar uma realidade inexistente. Não há cristofobia no Brasil, ao contrário; líderes evangélicos tem sido bem-sucedidos em eleger prefeitos, governadores e formar coalizões no judiciário. Há uma enorme e lucrativa produção de bens culturais direcionada aos fiéis. De 506 casos de intolerância religiosa registrados pelo Disque 100 no ano passado, 23 foram contra segmentos evangélicos, e a maioria absoluta dos xingamentos, agressões físicas e danos materiais foram direcionados aos adeptos de religiões de matriz africana.
 Artimanhas
Assim como a cristofobia é estratagema poderoso, o mesmo se pode dizer do recurso retórico de afirmação da maioria, também presente no discurso do presidente. De modo recorrente, a ministra Damares Alves, os deputados da bancada evangélica e outros atores interessados vem utilizando o argumento da maioria cristã como passe-livre para justificar o enviesamento das políticas públicas e os privilégios de igrejas. Recentemente, em defesa do ensino religioso nas escolas, membros do Instituto Brasileiro Direito e Religião (IDBR) apresentaram em artigo e em vídeo uma longa exposição sobre o modelo brasileiro de laicidade e o direito à garantia do ensino religioso em escolas públicas. "Em um país com 90% de cristãos, é mais do que natural que a religião predominante que vá grassar na escola pública se conforme com a fé de mais de 90% daquelas pessoas, que é a fé cristã", disse Jean Regina, um dos advogados do Instituto.
Em audiência realizada em agosto do ano passado na Câmara dos Deputados, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, declaradamente um católico conservador, disse que a política externa do governo é contrária ao uso da palavra "gênero" e que este direcionamento expressa a vontade popular. A declaração foi avalizada pela deputada Chris Tonietto (PLS-RJ) e o senador Major Olímpio (PSL-SP). Como consequência óbvia, em junho de 2020 os diplomatas brasileiros seguiram recomendações do Itamaraty para influenciar resoluções voltadas ao combate à violência e discriminação contra mulheres e meninas no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ironicamente, ao operar nestes termos na política externa, o Brasil vem se alinhando à Arábia Saudita, país onde a lei muçulmana (a Sharia, base da constituição do país) interdita o pleno exercício da fé cristã.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
Se a noção de cristofobia pode aparecer neste tipo de maquinação burocrata, a um só tempo ela também é útil porque evoca a tradição cristã do martírio, e cria um dispositivo útil sobre o qual se escora um projeto de poder e hegemonia.
Pois bem. Apesar de tudo isso, cabe dizer que, sem dúvida, no Brasil há preconceito contra um determinado nicho cristão - mais precisamente, contra os evangélicos. No campo intelectual brasileiro, eventualmente formulações equivocadas e reducionistas atribuem o avanço do evangelicalismo ao predomínio da pobreza e à baixa escolarização nos territórios de periferia. Não é possível deixar de observar, também, que o racismo motiva certo ânimo acusatório contra os fiéis, especialmente dirigido aos pentecostais, segmento onde mulheres negras são maioria.
Não é verdadeiro, entretanto, que haja perseguição aos evangélicos, tampouco ao conjunto dos cristãos brasileiros. O discurso presidencial vale-se de um dado empiricamente verificável para alegar uma realidade inexistente. Não há cristofobia no Brasil, ao contrário; líderes evangélicos tem sido bem-sucedidos em eleger prefeitos, governadores e formar coalizões no judiciário. Há uma enorme e lucrativa produção de bens culturais direcionada aos fiéis. De 506 casos de intolerância religiosa registrados pelo Disque 100 no ano passado, 23 foram contra segmentos evangélicos, e a maioria absoluta dos xingamentos, agressões físicas e danos materiais foram direcionados aos adeptos de religiões de matriz africana.
 Artimanhas
Assim como a cristofobia é estratagema poderoso, o mesmo se pode dizer do recurso retórico de afirmação da maioria, também presente no discurso do presidente. De modo recorrente, a ministra Damares Alves, os deputados da bancada evangélica e outros atores interessados vem utilizando o argumento da maioria cristã como passe-livre para justificar o enviesamento das políticas públicas e os privilégios de igrejas. Recentemente, em defesa do ensino religioso nas escolas, membros do Instituto Brasileiro Direito e Religião (IDBR) apresentaram em artigo e em vídeo uma longa exposição sobre o modelo brasileiro de laicidade e o direito à garantia do ensino religioso em escolas públicas. "Em um país com 90% de cristãos, é mais do que natural que a religião predominante que vá grassar na escola pública se conforme com a fé de mais de 90% daquelas pessoas, que é a fé cristã", disse Jean Regina, um dos advogados do Instituto.
Em audiência realizada em agosto do ano passado na Câmara dos Deputados, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, declaradamente um católico conservador, disse que a política externa do governo é contrária ao uso da palavra "gênero" e que este direcionamento expressa a vontade popular. A declaração foi avalizada pela deputada Chris Tonietto (PLS-RJ) e o senador Major Olímpio (PSL-SP). Como consequência óbvia, em junho de 2020 os diplomatas brasileiros seguiram recomendações do Itamaraty para influenciar resoluções voltadas ao combate à violência e discriminação contra mulheres e meninas no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ironicamente, ao operar nestes termos na política externa, o Brasil vem se alinhando à Arábia Saudita, país onde a lei muçulmana (a Sharia, base da constituição do país) interdita o pleno exercício da fé cristã.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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