Fábio Góis
Um contraponto marca o redesenho das lideranças de bancada no Senado e na Câmara para 2008. Enquanto, entre os deputados, algumas disputas já se acirram com a proximidade das eleições municipais, no Senado, os líderes devem continuar os mesmos. Um deles, aliás, está nessa posição há oito anos: José Agripino (RN), à frente do PFL e do DEM. Já o senador Artur Virgílio (PSDB-AM) vai para o sexto ano na liderança da bancada tucana (fora os quatro anos em que liderou o partido na era FHC).
À medida que se aproxima o pleito de outubro, os partidos na Câmara usam como termômetro as condições de elegibilidade de seus deputados em seus redutos. Os futuros líderes sabem que, uma vez no comando de seus partidos, terão os holofotes da grande mídia, de forma que a visibilidade obtida reforçará sua imagem perante o eleitorado. Já no Senado, instituição conhecida pelo “espírito de equipe” que une seus membros, as mudanças serão quase nulas.
Em ano de eleições municipais, o posto de líder de bancada em ambas as Casas costuma render bons dividendos eleitorais e políticos. Além da visibilidade na imprensa, ser líder amplia o quadro de funcionários disponível (o que significa mais verba), mais influência nas decisões de temas caros aos partidos. Até a cota postal e telefônica ganha um reforço.
Entretanto, liderança no Parlamento significa mais responsabilidade, algum desgaste e, quase sempre, muita dor de cabeça. Em partidos grandes, por exemplo, algumas correntes internas não raro apresentam divergências político-ideológicas, sem contar os embates com outras legendas. Aí entra o papel mediador do líder. Função que pode representar o esgotamento físico-psíquico ao final de cada ano. É caso da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), que admitiu ao Congresso em Foco estar estafada ao final de seu terceiro ano (não-consecutivo) na liderança petista (leia abaixo).
O peso das urnas
Mal começou o ano de eleições municipais, as bancadas partidárias na Câmara já analisam a situação nos estados para operar mudanças significativas em seus comandos. Ao contrário do Senado, algumas bancadas sinalizam tendência de renovação. Tudo indica que, no próximo pleito eleitoral, a maioria dos partidos terá como critério de escolha dos novos líderes a elegibilidade em prefeituras das principais cidades brasileiras.
À exceção do PMDB – que já reconduziu o deputado Henrique Alves (RN) –, as siglas aguardam apenas o fim do Carnaval para redesenhar seu formato. As atividades do Congresso estão previstas para começar já no dia 6 de fevereiro, uma quarta-feira de cinzas.
Reconduzido ao posto de líder desde o fim do ano passado, Alves, que é primo do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), diz que não tem pretensões eleitoreiras com a liderança e que lá continuará por “aclamação” da legenda.
A medir pelas palavras de seu líder na Câmara, o PMDB não tem nas eleições municipais a prioridade do partido neste ano. Entretanto, com ministérios-chave ocupados por seus membros – a exemplo de Edison Lobão (Minas e Energia), Nelson Jobim (Defesa) e Hélio Costa (Comunicações), só para citar três dos seis ministérios –, a força política da maior bancada do Senado e na Câmara continua.
Recife
O provável futuro líder do PT não quer nem saber de disputar a prefeitura de Recife. O nome mais provável para suceder Luiz Sérgio (RJ) é o do deputado Maurício Rands (PE), que revelou semana passada ao Congresso em Foco que a bancada resolveu retirar sua candidatura ao comando da capital pernambucana.
“Ontem (quarta-feira, 29), o partido retirou as candidaturas todas para apoiar o candidato do prefeito João Paulo Cunha (PT)”, revelou Rands, referindo-se ao secretário de Planejamento Participativo de Recife, João da Costa. A decisão, segundo Rands, tem o objetivo de dar continuidade ao legado petista com a influência do atual prefeito, que foi reeleito e tem bons índices de aceitação junto à população recifense.
Apesar disso, a bancada do PT na Câmara não confirmou qual será seu próximo líder. Mesmo com o Maurício Rands no páreo, a assessoria da liderança informou ao Congresso em Foco que outro nome pode surgir até a reunião marcada para depois do carnaval com parlamentares da legenda. Segundo a assessoria, ainda não há data definida para o encontro.
Segundo Rands, a decisão sobre o novo líder petista será anunciada no próximo dia 12, sem maiores “controvérsias”. “Vamos ver se ratificamos isso [sua candidatura]. Até agora não surgiu outro nome. Tenho conversado com os deputados e as deputadas e nenhum se opôs ao meu nome. Acho que não teremos mais controvérsias”, disse o deputado à reportagem.
Serra x Alckmin
Se no PMDB e no PT o clima é de harmonia, o PSDB tem lá suas divergências internas. Em São Paulo, é peculiar a correlação entre a liderança do partido na Câmara e a prefeitura da maior metrópole da América do Sul. Dois tucanos de peso – José Serra e Geraldo Alckmin – tentam emplacar seus pupilos na liderança da legenda na Câmara, Arnaldo Madeira (SP) e José Aníbal (SP), respectivamente.
Alckmin quer disputar a prefeitura de São Paulo. Mas conta com a oposição de Serra, que prefere apoiar a reeleição do atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM).
Caso Aníbal seja eleito novo líder tucano, crescem as chances de Alckmin, seu aliado, vir a ser candidato à prefeitura paulistana. A posse de Aníbal seria um indicativo de que boa parte dos deputados vê com bons olhos a hipótese de Alckmin disputar o pleito contra Kassab, o atual prefeito.
Entretanto, a outra “corrente” tucana na Câmara pode atrapalhar tais planos. Caso Arnaldo Madeira, alinhado ao governador José Serra, seja o novo líder, crescem as chances de o PSDB se retirar da disputa e apoiar a reeleição de Kassab. Pesquisa do Datafolha realizada no final do ano passado mostra que Alckmin tem 26% das in