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Congresso em Foco
2/11/2007 0:00
Edson Sardinha e Soraia Costa
A influência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre os 12 governadores que acompanharam na Suíça, na última terça-feira (30), o anúncio do Brasil como sede da Copa de 2014 não se limitou às comemorações em Zurique. Dois dias após a festa na Europa, 75 deputados e quatro senadores pediram ontem (1º) a retirada de seus nomes do requerimento de criação da CPI do Corinthians e praticamente enterraram as chances de criação da comissão parlamentar de inquérito.
Os responsáveis pela coleta das assinaturas acusam governadores dos estados que disputam o direito de sediar os jogos da Copa de abortarem as investigações sobre denúncias de crimes de lavagem de dinheiro e de sonegação fiscal, envolvendo o segundo clube mais popular do país e o fundo de investimentos MSI, em troca de contrapartidas da CBF.
Entre os que mais pressionaram os parlamentares, segundo eles, estão os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). Alguns congressistas “arrependidos” admitiram aos autores do requerimento ter recebido telefonemas de seus estados com apelos para que retirassem seus nomes da lista.
O argumento é o mesmo propagado pela CBF: as investigações no Congresso poderiam levar a Fifa a voltar atrás em sua decisão e tirar do país a condição de sede da Copa de 2014. A vinculação entre as duas coisas, no entanto, foi descartada pelo próprio presidente da entidade máxima do futebol, o suíço Joseph Blatter.
"Não tratamos ainda do assunto totalmente. Mas ele não tem influência sobre o processo da candidatura do Brasil", disse Blatter a um grupo de jornalistas, após reunião com o comitê executivo da entidade no início da semana.
Barganha política
Mas, nos bastidores, parlamentares admitiram que, em troca da retirada da assinatura dos parlamentares, dirigentes esportivos e governadores negociaram apoio político para a escolha das cidades que irão sediar os jogos daqui a sete anos. A confederação tem até 31 de outubro de 2008 para selecionar, entre as 18 capitais que estão na disputa, no máximo 12 cidades.
“É um absurdo. Os governadores estão pagando a conta antecipadamente”, disse ao Congresso em Foco Silvio Torres (PSDB-SP), autor na Câmara do requerimento de criação da CPI, ao lado do deputado Dr. Rosinha (PT-PR).
Em 2001, Silvio foi relator da CPI da Nike. No relatório final, o deputado atribuiu 13 crimes ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e pediu o indiciamento do cartola e de outras 32 pessoas.
Ontem pela manhã, antes mesmo da confirmação da retirada das assinaturas, Dr. Rosinha já previa a debandada. “É um movimento suprapartidário. Em todos os partidos tem gente pedindo a retirada de assinaturas. Dizem para o deputado: ou você tira a assinatura, ou sua cidade não será sede de jogo”, afirmou o petista.
Apesar de reconhecer o desgaste das comissões parlamentares de inquérito nos últimos anos, o paranaense defende o início da apuração, pelo Congresso, das denúncias que associam o futebol a crimes como lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O deputado também nega que as investigações possam atrapalhar a realização do Mundial. “Quem pode prejudicar a Copa não é a CPI, mas os dirigentes corruptos”, rebateu. As estimativas iniciais dão conta de que a Copa deve demandar investimentos da ordem de US$ 10 bilhões no país.
CPI inviabilizada
Caso os pedidos de desistência sejam confirmados até a próxima quarta-feira (7), quando o ato de criação da CPI deverá ser lido em sessão conjunta do Congresso Nacional, o requerimento irá para o arquivo. Isso porque o regimento comum das duas Casas exige o apoio conjunto de, pelo menos, 171 deputados e 27 senadores para abrir uma comissão parlamentar de inquérito mista (leia mais).
No Senado, onde Teixeira esteve na semana passada para conversar sobre o assunto com os senadores, retiraram seus nomes Adelmir Santana (DEM-DF), Cícero Lucena (PSDB-PB), Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e Garibaldi Alves (PMDB-RN). Antes desses quatro, já haviam retirado o apoio os tucanos Tasso Jereissati (CE) e Eduardo Azeredo (MG). A relação dos deputados que voltaram atrás não foi divulgada pela Secretaria-Geral da Mesa.
Com as baixas, o número de assinaturas na Câmara deve cair de 209 para 134, anulando o apoio mantido por 34 parlamentares no Senado. “Do mesmo jeito que retiraram, vou atrás deles pra conseguir essas assinaturas de volta. Não vou desistir. Vou tentar até o último momento”, promete Silvio.
Responsável pelo requerimento no Senado, Alvaro Dias (PSDB-PR) é menos otimista que o colega e já admite apresentar um novo pedido de CPI – composta apenas por senadores – para investigar uma série de denúncias de irregularidade no futebol brasileiro.
Entre 2000 e 2001, o senador presidiu a CPI do Futebol, que apontou a existência de indícios de evasão fiscal, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e apropriação indébita em transações de dirigentes esportivos e da própria CBF.
Interferência indevida
Em discurso duro na tribuna do Senado, o tucano reagiu à intervenção dos cartolas e dos governadores para impedir a criação da CPI do Corinthians. “Essa interferência indevida afronta o Congresso Nacional. É compatível com a dignidade do mandato parlamentar sucumbir diante de uma intervenção dessa natureza?”, questionou.
“Por que temem tanto a instalação de uma CPI. Se dizem que termina sempre em pizza, por que temem? Ou querem que a corrupção seja privilégio dos políticos? No futebol não há corrupção? São todos santos?”, ironizou.
Em entrevistas, Teixeira disse que a investigação sobre a parceria milionária entre o Corinthians e a multinacional MSI, proposta no Congresso, seria apenas uma “fachada”. Por trás disso, segundo ele, a real intenção dos parlamentares era “atingir” a Copa de 2014.
Alvaro Dias afirma que, em princípio, a CBF não será o alvo das investigações. "Vamos investigar a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas envolvendo clubes, diretores e jogadores. A intenção, pelo menos inicialmente, não é investigar a CBF", declarou à reportagem.
O senador, no entanto, defende que o governo federal tome a dianteira da organização do mundial de futebol. “Querem, a pretexto da realização de uma Copa, que fechemos os olhos para a corrupção. É preciso alertar o governo de que a CBF, pelos dirigentes que tem, não tem condições para comandar um evento desse porte”, afirmou. "Tem que ter parceria, fiscalização e transparência. É um projeto muito grande para ficar em mão só", argumentou.
Aécio nega pedido
Procurado pela reportagem, o governador de Minas, Aécio Neves, negou que tenha pedido a parlamentares mineiros que retirassem a assinatura do requerimento de criação da CPI do Corinthians. “Não existiu nenhuma orientação do governador Aécio Neves. Ele não manteve qualquer conversa nesse sentido, nem assumiu qualquer compromisso sobre a CPI”, informou sua assessoria de imprensa.
O Congresso em Foco deixou recado com a assessoria de imprensa do governador do DF, José Roberto Arruda, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Os dois foram apontados por parlamentares como os governadores mais empenhados em convencer deputados e senadores a recuarem do apoio à CPI do Corinthians.
Ao lado do presidente Lula e de outros dez governadores, eles acompanharam na Suíça, nesta semana, o anúncio da indicação do Brasil para sediar a Copa em 2014. Também integraram a comitiva os governadores Binho Marques (PT-AC), Eduardo Braga (PMDB-AM), Jaques Wagner (PT-BA), Cid Gomes (PSB-CE), Alcides Rodrigues (PP-GO), Blairo Maggi (PR-MT), Ana Júlia Carepa (PT-PA), Eduardo Campos (PSB-PE), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e José Serra (PSDB-SP).
Disputa interna
Ao todo, 18 das 27 capitais brasileiras concorrem para sediar os jogos do Mundial. São elas: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Maceió (AL), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio Branco (AC), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
O pedido de criação da CPI do Corinthians ganhou força com a divulgação de um relatório de 72 páginas da Polícia Federal. Nele, os policiais apontam fortes indícios da prática de uma série de crimes, como os de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, no período em que o fundo de investimentos comandou o departamento de futebol do clube paulista.
Acusados de envolvimento com as irregularidades, o então presidente Alberto Dualib e o seu vice Nesi Cury tiveram de deixar a direção do Corinthians. Mas, de acordo com os autores do requerimento, as investigações não devem se concentrar no Timão. Os parlamentares querem quebrar a caixa-preta das transações dos jogadores brasileiros para o exterior. “Queremos saber do registro no Banco Central. O dinheiro foi para onde? Enriquecendo dirigentes em paraísos fiscais ou foi para os clubes?”, disse Alvaro Dias.
Matéria publicada em 02.11.2007. Última atualização às 4h53 de 03.11.2007.
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