Em duas oportunidades, o presidente Lula desferiu ataques à oposição ontem: ao inaugurar a pedra fundamental da Universidade Federal de Sorocaba, no interior de São Paulo, quando disse que "a oposição anda nervosa"; e ao participar de um ato público em Salto (SP), que transferiu para a União a responsabilidade de gerir a escola técnica local. Nessa segunda solenidade, Lula disse que incomoda a oposição o fato de ele ser um governante que simboliza a "diferença".
Em Sorocoba, Lula disse que a oposição anda nervosa por causa do crescimento da economia durante seu mandato.
"São 176 mil novas vagas com carteira assinada só em fevereiro. Os empregos e as vagas nas universidades estão aparecendo. As pessoas estão comprando arroz e sacos de cimento pela metade do preço do que pagavam antes", ressaltou Lula. "Falta muito, eu sei, mas em quatro anos vamos fazer mais do que eles fizeram em 50 anos", prometeu.
O presidente voltou a falar sobre os números de vagas criadas no programa de expansão das universidades federais. Segundo ele, só em São Paulo nos últimos 14 meses, 63 mil jovens ingressaram nas universidades. Em todo o país, também nesse período, o número chega a 204 mil novos estudantes. Ele destacou que, desse total, 40% são de afrodescendentes.
Na solenidade, estudantes entraram em choque com integrantes da CUT e acabaram expulsos do evento a socos, pontapés e queimaduras de cigarro. Os estudantes reclamavam da falta de livros, laboratórios equipados e professores nas universidades.
Oposição inconformada
Na solenidade seguinte, ocorrida em Salto, o presidente Lula afirmou, durante o discurso, que a oposição não se conforma com o fato de o Brasil ser governado por alguém que representa "a diferença".
"Na política é assim", afirmou. "Em 2002, nós derrotamos aqueles que governavam o Brasil desde que Cabral descobriu o Brasil, é a mesma gente. Se você pegar a árvore genealógica, você vai perceber que é a mesma coisa, sim, é quase tudo a mesma coisa. Ou seja, nós somos a diferença, e isso os deixa inconformados. Então, eles ficam torcendo, ficam torcendo, trabalhando, eu acho que até rezando para não dar certo".
Lula completou: "Mas eles não sabem que, antes de eu chegar lá, eu apanhei muito neste país. Antes de eu chegar lá, eu apanhei muito e aprendi, como dirigente sindical, como é que se faz as coisas. E, portanto, nós vamos enfrentar, com a mesma sobriedade que enfrentamos momentos muito mais difíceis. E, se Deus quiser, vocês vão ver o que vai acontecer no final do ano".
Reação dos oposicionistas
O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), reagiu à declaração de Lula de que a oposição está nervosa por causa do crescimento da economia em sua gestão.
Segundo o líder oposicionista, Lula desconhece o que acontece no país e no exterior, afirmando que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) está muito aquém de outras economias emergentes com as quais o país disputa espaço no cenário mundial.
"O Brasil cresce anualmente menos de 2,5% desde que Lula assumiu, enquanto o Chile, por exemplo, cresce acima de 6% ao ano. Para não falar da Índia, da Rússia e da China, países emergentes que disputam espaço com o nosso, e cujas economias estão crescendo ao redor de 7%", afirmou Aleluia.
A seguir, veja a íntegra do discurso de Lula no município de Salto, no qual ele também destacou os avanços que o país tem obtido na área de educação:
"Meu querido companheiro Fernando Haddad, ministro da Educação,
Meu querido companheiro Aloizio Mercadante, senador da República e líder do governo,
Meu querido companheiro Arlindo Chinaglia, líder do governo,
Minha querida companheira Iara Bernardi, deputada federal,
Meu caro deputado Sílvio Torres,
Meu caro prefeito de Salto, José Geraldo Garcia,
Companheiros,
Senhores prefeitos Efaneu Nolasco Godinho, de São Roque; João Paulo Ismael, de Campos do Jordão; José Pereira de Aguilar, de Caraguatatuba; Cláudio Maffei, de Porto Feliz; Herculano Júnior, de Itu e Carlos Aymar, de Araçariguama,
Meu caro Nelson Nicolau, prefeito de São João da Boa Vista,
Senhor Garabed Kenchian, diretor-geral do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo,
Meu caro Luiz Carlos Batista, presidente da Câmara Municipal de Salto,
Meu caro Benito César Begossi, presidente da Fundação Saltense de Educação e Cultura,
Senhora Eloíza Antunes de Oliveira, presidente da Fundação Cultural de Caraguatatuba,
Aqui tem mais um monte de secretárias e secretários, se eu ler toda a nominata, vai ter muito candidato a vereador e deputado na próxima eleição.
Eu quero agradecer aos prefeitos, aos secretários de educação, aos secretários de cultura, mas, sobretudo, quero agradecer ao povo de Salto. E dizer para vocês que, quando fazemos uma visita para dar seguimento a uma escola técnica que começou a ser construída em 2001, que estava paralisada por 'n' problemas, é porque nós nos convencemos de que se o Brasil quiser dar um salto de qualidade na sua participação internacional, na melhoria da qualidade dos produtos que fabricamos, na colocação de valor agregado naquilo que nós vendemos, não tem outro caminho se nós não fizermos um forte investimento na educação brasileira. E fazer investimento na educação brasileira significa a gente cuidar da creche à universidade, cuidar do ensino fundamental, do ensino técnico e também da universidade.
Eu sei que o que eu vou falar aqui pode mexer com algumas pessoas que não estão aqui, com algumas pessoas que vão disputar a importância política logo, logo, cargos e assim por diante. Mas, vamos pegar os dados históricos para a gente ver.
Cada um de vocês, quando chegar em casa, poderia tentar entrar na internet e perguntar, desde a primeira universidade feita no Brasil, em 1920, quantas universidades cada presidente da República fez. Isso para vocês perceberem que se cada presidente da República tivesse assumido um compromisso de criar uma determinada quantidade de universidades durante o seu mandato, certamente o Brasil teria hoje o dobro de estudantes universitários que tem e, portanto, teria muito mais respeitabilidade na sua formação tecnológica, científica e profissional do que tem hoje.
Se vocês pegarem o que aconteceu de 1995 a 2002, vocês vão perceber que, no Brasil, foi feita apenas uma universidade, a Universidade de Palmas, na cidade de Tocantins, que ainda sim fomos nós que tivemos que colocá-la para funcionar.
Pois bem, nós, como disse o ministro da Educação, nós estamos fazendo quatro universidades federais novas, estamos transformando seis faculdades em universidades e estamos criando - cada dia aumenta uma, porque cada dia uma cidade pede -, mas nós já estamos com 42 ou 43 extensões universitárias. O que é uma extensão universitária? É você pegar um conjunto de cursos de uma universidade federal, tipo São Carlos, e levar para outras cidades. Nós estamos levando para Diadema, estamos levando para Guarulhos, já levamos para Santos, estamos levando agora para Sorocaba, Osasco já está reivindicando a sua e, portanto, nós vamos ver. Obviamente que os prefeitos deram o prédio, o que ajuda barbaridade, porque vai ficar mais barato a gente fazer isso.
E o que vai acontecer com as extensões universitárias? Os jovens das cidades do interior não têm mais que sair da sua cidade ou da sua região para tentar fazer um curso na Universidade Federal da Paraíba, de Goiás, de Pernambuco ou de São Paulo. Não, ele pode fazer a sua universidade na sua região, porque não é o jovem que tem que viajar o Brasil inteiro à procura de uma vaga na universidade, é a universidade que tem que estar mais próxima da juventude.
Depois, as escolas técnicas. A escolas técnicas, o Fernando Haddad disse muito bem aqui, em 1998 alguém resolveu que o governo federal não deveria mais ser responsável pelo ensino técnico, que o governo federal deveria fazer convênio com as ONGs, com entidades e com prefeituras ou estados, e se eles assumissem a administração, então poderia-se fazer escola técnica. Acontece que tudo isso tem custo, e nem a prefeitura, nem as ONGs e nem o estado têm dinheiro disponibilizado para fazer aquilo que o governo federal tinha a obrigação de fazer. E mais importante é que gerenciar uma escola dessa exige mais responsabilidade e muito mais peso que uma entidade, por mais séria que seja, se ela for pequena e não tiver recursos.
O que nós estamos fazendo aqui, hoje? Nós estamos pegando uma escola técnica que estava para ser dirigida por uma ONG e estamos assumindo a responsabilidade de trazê-la para os braços do governo federal e assumir a responsabilidade de que o ensino técnico volta a ser prioridade neste país. E volta a ser prioridade por outra razão: é porque o Brasil precisa ter o cidadão, a gente diria, o faxineiro e o engenheiro, mas tem que ter o técnico no meio. E isso vai permitir que a gente possa qualificar a juventude brasileira. E nós sabemos que a melhoria do ensino passa pela melhoria das condições de trabalho dos professores brasileiros, dos educadores brasileiros, que ganham... Houve um tempo em que ser professora neste país era até motivação para os nossos maiores compositores fazerem músicas. Todo mundo lembra de A Normalista, lembra de A Professorinha. Hoje, ser professor é quase um martírio, porque ganha mal, é mal tratado, não tem a sua função reconhecida e não tem um processo de requalificação dos nossos professores.
Nós agora - o companheiro Fernando Haddad falou na outra cidade, mas não falou aqui - nós vamos começar o maior programa de aprimoramento dos nossos educadores a distância, nós vamos formar e preparar melhor os nossos professores. Logo, logo, vai ter uma propaganda na televisão dizendo o que é isso, porque a gente precisa melhorar a qualidade de ensino e para isso precisamos melhorar a qualidade dos nossos professores.
E aí entra uma outra coisa importante, falta, me parece, uma coisa só no Senado para ser votada, que é o Fundeb. O Fundeb é o Fundo Nacional da Educação Básica. Nós iremos colocar, até 2008, mais 4 bilhões e 300 milhões no ensino básico neste país. E para isso nós aumentamos os anos de escolaridade do ensino fundamental, de 8 para 9 anos. O que acontecia no Brasil? Uma família que tinha um salário razoável poderia colocar a sua criança na pré-escola. Essa criança entrava na pré-escola com seis anos e com sete anos ia para o ensino básico. Só que tem outra família que não tem possibilidade de colocar a criança numa pré-escola. Então, na mesma sala de aula, entrava uma criança que já tinha um ano de escola, que já tinha brincado com lápis, já tinha brincado com papel, já tinha aprendido a escrever o nome, já tinha desenhado, já tinha aprendido que um mais um é dois, já tinha aprendido uma série de coisas, entrava na mesma sala e sentava do lado de uma criança que não tinha tido nenhum contado com a escola.
Aí aparecem alguns engraçadinhos e falam: "ah, porque tal criança é burra e tal é inteligente". Não. É que uma criança foi tratada decentemente e a outra não foi tratada decentemente; uma criança teve oportunidade e a outra não teve oportunidade. Então, nós fizemos a mudança para as crianças entrarem com seis anos na escola para que todos possam entrar no mesmo grau de preparação. E aí, sim, o ensino vai se tornar, cada vez mais, de qualidade.
Vocês sabem o que nós descobrimos? Nós descobrimos que quando foi criada a universalização do ensino fundamental no Brasil, nós tínhamos um problema: é que a gente fazia a propaganda em que tinha todas as crianças na escola, mas a gente não preparou as crianças, depois do ensino fundamental, para o segundo grau. Então, em dez estados do Brasil, e normalmente nos estados mais pobres da federação, as crianças terminavam a oitava série e não tinham como continuar na escola porque não tinham dinheiro. Nós criamos o Fundebinho, colocamos 400 milhões de reais a mais, salvamos as crianças do Nordeste brasileiro para terem escola e a agora, com o Fundeb, não vamos ter mais problemas, se Deus quiser. E, também, nós proibimos qualquer ministro falar... quando o Fernando Haddad vai pedir dinheiro para a educação, a gente vai discutir no Orçamento e dizer: "não, nós não podemos gastar com a educação". Nós precisamos mudar a conceituação dos nossos dirigentes de que o dinheiro para educação não é gasto, dinheiro para educação é investimento, é investimento que tem retorno muito rápido.
Eu vou contar uma história para vocês. Esses dias, este moço aqui (refere-se ao ministro da Educação, me procurou para dizer que se ele tivesse R$ 18 milhões, ele conseguia transformar esses Cefets em Cefets federais. O Congresso Nacional ainda não votou o Orçamento, mas a gente, por medida provisória, vai liberando verba de custeio. Eu disse ao Fernando: pode fazer que nós te daremos a verba da Presidência da República e colocamos para a gente federalizar, porque o dinheiro que a gente não põe na educação agora a gente vai gastar - aí, sim, é gasto - criando cadeias, criando Febem, criando um monte de coisas e contratando policial. O que a gente não investir em educação agora, a gente vai ter que investir em segurança depois. Então, fica muito mais barato a gente colocar mais dinheiro na educação para formar as nossas crianças, formar os nossos adolescentes, formar os nossos universitários.
Eu estava dizendo agora, em Sorocaba: em todos esses anos, desde que o Brasil é Brasil, e desde que começou a universidade aqui, no Brasil... eu vou dar um exemplo, todo o sistema público de São Paulo, todo o sistema público, entre o estadual e o federal, representa 91 mil alunos na universidade, USP, Unicamp e as outras que vocês conhecem.
Pois bem, só o ProUni, que nós criamos no ano passado, colocou, em São Paulo, 64 mil novos jovens na universidade brasileira. Jovens da periferia, jovens pobres, que fizeram escolas públicas, que jamais poderiam pagar uma universidade. Porque o jovem estuda na escola pública, presta vestibular, passa, e quando, em fevereiro, vai se matricular, pedem logo mil reais, 800 reais, 900 reais de matrícula, e essa menina e esse menino voltam para casa sem nada e perdem a esperança.
Pois bem, agora, só aqui em São Paulo, nós, praticamente, estamos criando, em um ano e meio, mais alunos do que tem a USP e a Unicamp juntos. E, se Deus quiser, até junho vai ter mais 46 mil novos alunos no Brasil inteiro. Então, nós vamos chegar a praticamente 250 mil novos jovens estudantes na universidade, e 30% deles, ou um pouco mais, afrodescendentes, dando oportunidade a jovens, mulheres e homens negros que normalmente não tinham oportunidade na universidade.
É só a gente ir na USP, na PUC, na Unicamp, a gente ir em banco, a gente ir na escola de medicina para ver se tem negros. Você encontra um em cada um milhão. Por quê? Porque no Brasil, lamentavelmente, embora a Constituição diga que todos nós somos iguais perante a Lei, uns são mais iguais do que outros e, ainda, negros e índios eram segregados neste país, não na lei, mas na prática e no comportamento.
Pois bem, é isso que eu vim fazer aqui. Dizer para vocês que é com muito orgulho que eu saio daqui vendo a alegria do prefeito e da sua gente, a alegria de uma cidade que sabe que depois que ela receber uma escola, que vai ter não sei se 1.800 ou 3 mil alunos. A gente, enquanto pais, a gente tem a tranqüilidade de saber que o filho da gente se levantou às sete horas da manhã e foi para uma sala de aula, que às sete horas da noite foi para uma sala de aula. Duro é quando a gente é pai - e eu tenho cinco filhos - e eles se levantam de manhã e a gente não sabe para onde eles foram, não têm emprego e não têm escola.
E nós precisamos de escola para facilitar o emprego, porque todo mundo aqui sabe que um trabalhador que tem profissão, quando ele sai com a carteira para procurar emprego ele, pelo menos, faz uma ficha na empresa. O que não tem profissão, nem o guarda da empresa o atende, porque pergunta: o que sabe fazer? Nada. Se não sabe fazer nada, então não tem emprego.
Então, acreditar na formação profissional é acreditar que no século XXI o Brasil vai se transformar na grande Nação que poderia ter sido transformada no século XIX ou no século XX. E nós, agora, não vamos mais perder essa oportunidade.
No mais, eu quero agradecer a vocês. Quero agradecer a cada homem, a cada mulher e a cada criança, e dizer para vocês: podem ter certeza de uma coisa, a única coisa que eu quero da vida é, ao terminar o meu mandato, poder comparar o que nós fizemos em quatro anos, para o povo deste país, com tudo o que foi feito nos últimos 30 ou 40 anos, na educação, na saúde, no mundo do trabalho, para que a gente possa saber quem é quem no Brasil.
Acho que todos vocês precisam ter consciência do que o Brasil está vivendo, apesar dos debates políticos acalorados, sempre foi assim, porque política é assim, política é que nem futebol. Eu duvido que a gente convença um corintiano a torcer para um palmeirense, duvido. E duvido que a gente convença um palmeirense a torcer para o Corinthians, duvido. Torcer para o Santos, do Aloizio Mercadante, ou para o São Paulo já é difícil, imagina o Palmeiras torcer para o Corinthians e o Corinthians torcer para o Palmeiras!
Na política é assim. Em 2002 nós derrotamos aqueles que governavam o Brasil desde que Cabral descobriu o Brasil, é a mesma gente. Se você pegar a árvore genealógica, você vai perceber que é a mesma coisa, sim, é quase tudo a mesma coisa.
Ou seja, nós somos a diferença, e isso os deixa inconformados. Então, eles ficam torcendo, ficam torcendo, trabalhando, eu acho que até rezando para não dar certo. Mas eles não sabem que antes de eu chegar lá, eu apanhei muito neste país. Antes de eu chegar lá, eu apanhei muito e aprendi, como dirigente sindical, como é que se faz as coisas. E, portanto, nós vamos enfrentar, com a mesma sobriedade que enfrentamos momentos muito mais difíceis. E, se Deus quiser, vocês vão ver o que vai acontecer no final do ano.
Muito obrigado a todos vocês, um grande abraço e até outro dia, se Deus quiser."