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Inteligência artificial

A dieta de bolso da IA: o risco silencioso de uma nutrição genérica

O cardápio rápido do algoritmo pode aumentar as doenças e a desigualdade no Brasil.

Régis de Oliveira Júnior

Régis de Oliveira Júnior

5/12/2025 8:00

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A inteligência artificial (IA) entrou de maneira definitiva na vida do brasileiro, alcançando até o prato de comida. No entanto, o que esses sistemas entregam é um protocolo frio, sem a capacidade de compreender o indivíduo e é potencialmente perigoso.

No Brasil, onde o acesso a um nutricionista particular é caro, com consultas que variam de R$ 150 a R$ 500, a atração pela "dieta de bolso" é imensa. Pesquisas no Google Trends mostram mais de 500 mil consultas mensais por termos como "dieta fácil", levando milhões a plataformas como ChatGPT, Gemini, Copilot e DeepSeek em busca de planos alimentares "milagrosos" e gratuitos.

Para milhões de brasileiros, ter um nutricionista é um luxo. Nesse cenário, a IA pode parecer uma alternativa acessível. Aplicativos gratuitos ou de baixo custo conseguem orientar usuários na contagem de calorias e macronutrientes, sugerir receitas simples e baratas e ensinar a ler rótulos. Ferramentas como essas têm o potencial de melhorar a educação alimentar básica, sobretudo em locais com poucos profissionais.

O risco, porém, está na tentativa da IA de tomar o lugar do profissional sem considerar a complexidade do metabolismo humano. Diversos estudos indicam falhas graves: os chatbots erram em detalhes importantes, como a estimativa de vitaminas e minerais essenciais.

Um dos maiores problemas é o viés algorítmico: se o sistema é treinado com dados de dietas majoritariamente de fora, ele pode recomendar planos inadequados à nossa diversidade genética.

Isso nos leva a uma desvantagem biomédica relevante: o Brasil é um dos países mais geneticamente diversos do mundo. Um estudo recente do Programa Genomas Brasil sequenciou mais de 2.700 brasileiros e revelou cerca de 8 milhões de variantes genéticas não catalogadas em outros bancos. Essa diversidade, resultado da mistura entre europeus, africanos e indígenas, sugere que uma recomendação nutricional genérica pode não fazer sentido para a maioria da população.

A máquina vê a alimentação apenas como números, ignorando fatores essenciais como hábitos, alergias e histórico de saúde. Casos reais alertam para os perigos dessa delegação.

Planos alimentares genéricos feitos por algoritmos desconsideram hábitos, metabolismo e variantes genéticas brasileiras, criando riscos silenciosos à saúde.

Planos alimentares genéricos feitos por algoritmos desconsideram hábitos, metabolismo e variantes genéticas brasileiras, criando riscos silenciosos à saúde.Freepik

O chatbot Tessa, nos Estados Unidos, foi suspenso por incentivar restrição calórica em pessoas com distúrbios alimentares, demonstrando a ausência de sensibilidade humana. A restrição dietética irresponsável, como a sugerida por um sistema sem supervisão, aumenta o risco de desequilíbrios nutricionais, especialmente para as famílias de baixa renda.

Da mesma forma, a IA pode, sem saber do histórico clínico, sugerir a combinação de suplementos que sobrecarregam órgãos como rins ou fígado, gerando um custo alto para o sistema de saúde.

A importância do nutricionista é inegável. Esse profissional, que atua na promoção, manutenção e recuperação da saúde, é o único capaz de fazer o cuidado clínico, psicológico e humano.

O Brasil conta com cerca de 194.018 nutricionistas ativos em 2024, após um crescimento de 22% no número de profissionais em apenas três anos, o que demonstra a vitalidade e a demanda por essa área. O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) tem se posicionado ativamente, demandando a regulamentação do uso da IA, alertando que o algoritmo não tem humanidade e escuta ativa, que são fundamentais para a mudança no estilo de vida do paciente.

Outro ponto importante é que o algoritmo falha na compreensão da biodisponibilidade dos alimentos. Não basta comer proteína, o corpo precisa absorver. O nutricionista orienta sobre as combinações corretas, como a vitamina C junto ao feijão para otimizar a absorção do ferro.

A economia imediata ao seguir um plano alimentar automatizado é uma ilusão, pois ela se reverte facilmente em gastos com medicamentos e consultas médicas complexas no futuro.

A estrutura regulatória no país precisa acompanhar a velocidade da tecnologia. Enquanto a Europa classifica sistemas de IA em saúde como "alto risco", a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil precisa definir claramente se os apps de dieta que impactam diretamente a tomada de decisões clínicas se enquadram como SoftwareMédico e exigem registro.

A Anvisa já discute o registro de aplicativos de saúde, mas faz uma distinção entre os que geram ou interpretam dados clínicos (sujeitos a registro) e os de bem-estar (não sujeitos). O caminho certo é o investimento em IA treinada com dados brasileiros e a capacitação ética dos profissionais, garantindo que a tecnologia cumpra seu papel como aliada, e não como substituta irresponsável.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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