Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Trump e o retorno do protecionismo radical: a geoeconomia à porta
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Trump 2025: um retorno que ameaça muito mais que apenas os EUA
Diplomacia em crise
18/8/2025 15:00
A grande maioria dos analistas políticos nos Estados Unidos e na Europa já esperava que o novo mandato de Donald Trump fosse marcado por medidas radicais. Suas promessas de campanha apontavam para reformas profundas na política externa americana e para uma revisão da ordem internacional construída após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, poucos poderiam imaginar a intensidade e a abrangência das primeiras ações adotadas pela Casa Branca - muito menos a linguagem agressiva dirigida a parceiros históricos de mais de setenta anos.
Hostilidade com aliados ocidentais
O discurso do vice-presidente americano em seu primeiro encontro com os aliados europeus foi emblemático. Em tom ríspido, acusou a Europa de ter vivido confortavelmente sob a proteção da OTAN, sem contribuir de forma justa para os bilhões de dólares que os EUA gastaram ao longo de décadas em defesa coletiva.
A postura se repetiu diante de outros parceiros estratégicos. Em um encontro televisionado, Trump e seu vice trataram com hostilidade um presidente ucraniano visivelmente fragilizado, gesto que levou a revista The Economist a descrever o comportamento da liderança americana como "mafioso".
A surpreendente aproximação com a Rússia
Se a linguagem contra aliados já causava tensão, Trump foi além em 15 de agosto de 2025, ao receber com pompa o presidente russo em uma base aérea no Alasca. O gesto, inesperado, teve forte carga simbólica: o local escolhido aponta para o Ártico como palco geopolítico do futuro, em função do degelo e da abertura de novas rotas marítimas rumo à Ásia.
A estratégia é clara: Trump enxerga a Rússia como peça-chave no enfrentamento do verdadeiro rival americano - a China. Contudo, segundo relatos de bastidores, o encontro terminou sem que os EUA conseguissem arrancar concessões de Moscou, levando à percepção de que "Putin ganhou tudo que queria".
Ainda assim, o que muitos analistas internacionais interpretaram como fraqueza pode, na verdade, esconder um cálculo estratégico: substituir a dependência da OTAN por uma aliança sólida com Moscou, isolando a China em um futuro arranjo geopolítico.
Uma nova lógica geopolítica
Esse movimento consolida o traço mais marcante do atual governo Trump: a tentativa de redefinir as alianças internacionais. Em sua lógica, a Europa deixa de ser o principal parceiro militar e o eixo estratégico passa a se concentrar no Indo-Pacífico e no Ártico, com vistas a conter o poder econômico e tecnológico da China.
Nesse redesenho, o caráter democrático dos aliados não é critério fundamental. Pelo contrário, o governo americano demonstra um pragmatismo extremo: a prioridade é compor um bloco de força capaz de rivalizar com Pequim, mesmo que isso signifique se aproximar de regimes autoritários.
Os riscos para a governança global
Essa guinada coloca em xeque os valores que sustentaram a ordem internacional desde 1945, baseada na cooperação transatlântica e na defesa da democracia liberal. Ao desprezar a Europa e reabilitar a Rússia como parceira estratégica, Trump inaugura uma governança mundial mais instável, marcada por nacionalismos, jogos de poder e menor peso de princípios democráticos.
Críticos alertam que, ao privilegiar alianças de conveniência, o governo americano não apenas enfraquece a OTAN, mas também compromete a credibilidade das instituições multilaterais que garantiram relativa estabilidade ao sistema internacional nas últimas décadas. Trump, no entanto, acredita estar construindo as pontes que manterão os EUA como potência geoeconômica incontestável - e não será a absorção definitiva da Crimeia pela Rússia que o fará recuar dessa estratégia.
Em síntese
Trump não apenas rompe com a tradição diplomática americana: ele inaugura um período em que a realpolitik se sobrepõe aos valores democráticos. O trumpismo projeta um mundo mais fragmentado, em que a busca por poder imediato pode custar caro à governança global no futuro. É, sem dúvida, uma aposta de alto risco - ainda mais quando conduzida por um presidente já idoso, sem herdeiros políticos capazes de sustentar esse projeto no longo prazo.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
Ataque à soberania
A dissimulação e a violência como armas da extrema-direita no Brasil
Bússola moral
Conflito institucional