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Dilema na eleição de 2026: continuidade lulista ou renovação de direita

Pleito opõe estabilidade e soberania a uma falsa renovação baseada em nostalgia, conflito e agendas reacionárias.

Antônio Augusto de Queiroz

Antônio Augusto de Queiroz

21/11/2025 11:00

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O cenário para as eleições presidenciais brasileiras de 2026 se configura como um dos mais decisivos do século XXI, apresentando-se superficialmente como um plebiscito binário: a continuidade ou a consolidação do projeto de reestabilização liderado por Luiz Inácio Lula da Silva ou uma renovação regressiva que, nas palavras de sua oposição, promete "corrigir rumos". No entanto, uma análise mais profunda revela um paradoxo intrigante: enquanto o governo atual constrói seu discurso sobre os pilares da experiência, da estabilidade e da normalidade democrática, a oposição, longe de apresentar uma proposta de renovação substantiva para os desafios futuros, apela a um revisionismo do passado recente.

Esta coluna argumenta que, embora o ambiente de superfície possa ser lido como de continuidade, persiste um ambiente profundo de renovação regressiva, onde a mudança almejada por parte do eleitorado não é projetada para o futuro, mas sim uma tentativa de reabilitação de um projeto político anterior, já rejeitado em 2022. A pergunta central é: para os eleitores, o ambiente político no Brasil é de continuidade ou de renovação? A resposta não é simples, pois habita a tensão entre a realidade concreta da gestão Lula e o desejo abstrato ou a insatisfação canalizada pela oposição.

A perspectiva de continuidade lulista é robusta e alinhada com a definição clássica de um ambiente de estabilidade política. A terceira administração Lula, iniciada em 2023, não se apresenta como um governo de ruptura, mas sim de reparação e continuidade de um projeto nacional-desenvolvimentista interrompido. Seus argumentos repousam sobre três pilares fundamentais. Primeiro, a estabilidade econômica e a retomada do desenvolvimento, com prioridade para a recuperação do poder de compra, a geração de emprego e o retorno do Estado como indutor do crescimento. Políticas como o novo arcabouço fiscal, a ampliação do crédito e o reforço de programas de transferência de renda buscam criar um ciclo virtuoso. O controle da inflação e a queda consistente do desemprego são os principais trunfos do Palácio do Planalto, que transmite a mensagem de que a recuperação não será interrompida na hipótese de reeleição do presidente Lula.

O segundo pilar, talvez o mais forte, é a reconstituição institucional e o fim do negacionismo. O governo Lula posicionou-se firmemente contra o legado de conflito institucional e negacionismo científico do governo Bolsonaro. A relação com o Congresso e o Judiciário, embora não isenta de atritos, é de diálogo e respeito às competências constitucionais. O reconhecimento da ciência e a reafirmação da autoridade eleitoral restabeleceram a confiança mínima nas instituições. Para um eleitorado traumatizado pela crise sanitária da covid-19 e pelos ataques às urnas, a "estabilidade" institucional é um ativo poderosíssimo.

O terceiro pilar, por sua vez, se estrutura na defesa da soberania e na inserção internacional renovada, com a política externa sendo um exemplo claro de continuidade de uma marca histórica do Partido dos Trabalhadores. O Brasil retomou seu protagonismo em fóruns multilaterais, com destaque para a agenda ambiental e o combate à fome, reposicionando o país como um ator global responsável. Este projeto de nação soberana contrasta fortemente com o alinhamento automático aos EUAs e a diplomacia beligerante do período anterior em relação a países governados pela esquerda no mundo. Em resumo, o governo constrói sua campanha para 2026 sobre a ideia de que a experiência de Lula foi fundamental para "recolocar o Brasil nos trilhos". A continuidade é sinônimo de segurança, aprofundamento da recuperação e consolidação da democracia, apelando ao eleitor que valoriza a estabilidade e teme o caos.

Lula oferece continuidade institucional, enquanto a oposição aposta em guerra cultural e alinhamento externo arriscado.

Lula oferece continuidade institucional, enquanto a oposição aposta em guerra cultural e alinhamento externo arriscado.Freepik

Contudo, se o ambiente fosse puramente de continuidade, a oposição teria dificuldades insuperáveis. As pesquisas, no entanto, mostram que há uma parcela significativa do eleitorado disposta a considerar uma mudança. É aqui que a análise se torna complexa, pois a oposição não propõe uma renovação voltada para os desafios do futuro, como a disrupção tecnológica e a crise climática, mas sim uma renovação regressiva e penalista - um retorno a elementos do projeto bolsonarista, agora repaginados. Esta oferta política opera em três frentes principais. A primeira é a herança bolsonarista e a agenda da "guerra cultural". Candidatos como Tarcísio de Freitas abraçam parte desse repertório, com discursos sobre a defesa do "conservadorismo" e de "valores familiares" tradicionais. Este é um poderoso motor de mobilização de uma base eleitoral que se sente representada por essa pauta e para a qual a "renovação" significa a restauração de uma agenda moral que consideram ter sido suprimida.

A segunda frente é o discurso de "gestão" versus "ideologia". A oposição tenta se desvincular do estigma do caos associado a Bolsonaro, mantendo a base ideológica. Tarcísio, por exemplo, constrói sua imagem na "eficiência gerencial", na "desburocratização" e na "desestatização", tentando capitalizar a insatisfação com serviços públicos. É uma tentativa de vender continuidade de valores com uma roupagem de competência administrativa, apelando a eleitores cansados da polarização, mas ainda conservadores. O terceiro e mais alarmante elemento é a tentação do conflito e o questionamento da soberania. Setores radicais da extrema-direita chegam a torcer por sanções internacionais e atuam para criar pretextos para intervenção estrangeira, como a classificação de facções criminosas como "terroristas" ou cartéis de narcotráfico. Esta postura representa o extremo de uma "renovação" que é, na verdade, uma implosão, negando a própria soberania nacional em nome de uma aliança ideológica subalterna. Isso cria um dilema existencial: como confiar a liderança do país a forças que, em seu extremo, podem colocar em risco a integridade territorial nacional?

O cerne da disputa sucessória reside, portanto, na gritante desconexão entre os grandes desafios do futuro e o foco da campanha oposicionista. Enquanto o governo Lula, ainda que de forma incipiente, dá passos para regulamentar a inteligência artificial e discutir o impacto da tecnologia no trabalho, a oposição praticamente não tematiza a questão, carecendo de uma visão estratégica para posicionar o Brasil na Quarta Revolução Industrial. Na crise climática, a diferença é abissal. A política ambiental de Lula é um pilar central de sua governança, enquanto a oposição, herdeira de um governo que viu o desmatamento disparar, permanece ambivalente, com setores alinhados a um agronegócio que resiste à regulação. Uma vitória oposicionista em 2026 poderia significar um retrocesso catastrófico na capacidade do Brasil de lidar com - e se beneficiar financeiramente de - a transição ecológica global. Ironia das ironias, a oposição, em sua vertente bolsonarista, é a principal força fomentadora do extremismo político no Brasil atual. Seu projeto não é de superação, mas de acirramento, perpetuando um ciclo de ódio e desinformação que impede o país de enfrentar seus problemas estruturais.

Conclui-se que o ambiente político predominante para 2026 é, pela lógica da estabilidade e da experiência, de continuidade. O governo Lula, ao normalizar a vida política e econômica, cria as condições para que uma parcela da população prefira a segurança do conhecido aos riscos do desconhecido. Sua campanha será baseada na concretude das realizações: emprego, crescimento, paz institucional e respeito internacional. No entanto, este ambiente de continuidade ainda é frágil e está sob cerco. Ele é ameaçado por um forte apelo à renovação regressiva por parte da oposição, e por sistemáticos ataques da mídia que, alinhada aos desejos de agentes do mercado, apenas aponta "fracassos" do Governo e nega os seus êxitos. Esta não é uma renovação projetada para o futuro, mas uma que busca resgatar elementos de um passado imediato - o bolsonarismo -, diluindo seus aspectos mais caóticos e potencializando seus elementos de guerra cultural e alinhamento internacional reacionário. Os eleitores que apoiam a oposição não o fazem, em sua maioria, por uma análise racional de que seus candidatos têm planos melhores para a inteligência artificial ou o aquecimento global. Eles o fazem por identificação ideológica com os valores conservadores, por insatisfação com serviços públicos e custo de vida, e por uma nostalgia do projeto de poder anterior.

Portanto, a eleição de 2026 não será um simples plebiscito entre continuidade e mudança. Será um plebiscito entre dois projetos de país radicalmente diferentes: um que, com todos os seus defeitos e desafios, busca reinserir o Brasil no concerto das nações como uma potência ambiental, pacífica e democrática; e outro que, travestido de renovação, oferece um retorno a um modelo de confronto, de relativização democrática, de negacionismo climático e de submissão a agendas geopolíticas externas, com sérios riscos à soberania nacional e à capacidade do país de enfrentar os desafios decisivos do século XXI. Aos eleitores, caberá decidir se a estabilidade conquistada a duras penas vale a pena ser preservada, ou se o desejo por uma mudança - cujos contornos reais são, na melhor das hipóteses, nebulosos e, na pior, perigosos - falará mais alto. O dilema é, no fundo, entre consolidar um presente de normalidade ou embarcar em uma incerta e arriscada viagem de regresso ao passado.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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