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24/5/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 16:54

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Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante passeio de moto na cidade do Rio de Janeiro [fotografo] Alan Santos/PR [/fotografo]

Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante passeio de moto na cidade do Rio de Janeiro [fotografo] Alan Santos/PR [/fotografo]
Sabe-se exatamente do que são capazes os fanáticos antigos, esmerilhados no fanatismo. Nunca nos surpreendem com uma mudança de posição a tudo o que praticaram ao longo da vida. Uma vez canalha, sempre canalha, diz o poeta e professor Cineas Santos, velho amigo flamenguista, adaptando o slogan de seu time à natureza moral do bicho homem. Mesmo aqueles canalhas fanáticos que mal conhecemos de vista ou de chapéu, como diria Machado de Assis, deles sabemos bem o que esperar. Mas, de pessoas próximas, amigos das antigas ou de parentes com os quais perdemos o contato e que sempre tivemos na conta de inteligentes e equilibrados, oh, dor! Desses, quando os reencontramos e nos surpreendem com a revelação de que são ou se tornaram bolsonaristas assumidos, aí a pancada é forte; a revolta, imensa; e a primeira reação é a de não haver explicação racional para tal atitude. Ora, se até outro dia pareciam pessoas normais, com vocação democrática, aparentemente solidárias e compreensivas! Então, que diabo de bebida deram a elas para, de repente, mudarem tanto e nos decepcionarem assim? Do que já li e continuo lendo a respeito, nenhuma teoria isoladamente satisfaz e resolve o enigma. O mais provável é que essa opção político-ideológica radical e repulsiva que agora aflora, na verdade sempre existiu. Mantinha-se em estado de latência, aguardando o momento de se expor. Conheço casos de filhos ou netos de esquerdistas conhecidos que, de repente, revelaram-se bolsonaristas contundentes. Amigos da mais absoluta confiança, dos quais não suspeitava, de uma hora pra outra me apareceram orgulhosos de apoiar Bolsonaro e suas atitudes, expondo convicções fascistas até então insuspeitas. E o pior não é o choque de realidade, mas a inexplicabilidade da opção. Como foi capaz? O que explica? O homem é produto do meio e das circunstâncias A cientista política Carolina Botelho e o neurocientista Paulo Boggio, em artigo para o Le Monde Diplomatique, lembram que todas as pessoas "possuem crenças construídas a partir de suas percepções sobre a sociedade, carregam valores, vontades, paixões, ódios, um conjunto de ideias que são reveladas por meio do voto, tudo isso dentro de um contexto social no qual a política, a economia e a cultura disputam espaços. Além disso, somos uma espécie gregária; andamos em grupos. Ou seja, não somos humanos sozinhos, mas sim pelos nossos relacionamentos, o que torna necessário, para qualquer análise, compreender como as interações sociais se dão". Até aí morreu Neves. Nietzsche já dizia que somos o produto do meio. E Ortega Y Gasset, que o homem é o homem e sua circunstância. Mas o problema é outro. É justamente, como posto na abertura dessa reflexão, quando pessoas que exibiam até outro dia uma personalidade político-ideológica insuspeita, de repente bandeiam-se publicamente para "o lado escuro da força", onde se reúnem os maiores inimigos da ordem Jedi, para quem conhece um pouco dos fundamentos em que se baseou a famosa série "Star Wars". São esses os que batem no peito e defendem justamente o que simboliza o mais retrógrado, o mais deplorável, o mais perigoso e o mais condenável no mapa dos valores políticos, sociais e morais. E não se envergonham disso, pelo contrário..., se orgulham! O que as levou a isso? Que detergente foi usado para efetuar tão profunda lavagem cerebral? Na maioria das vezes, essas pessoas são as que se decepcionaram com os políticos corruptos e que, por isso, não simplesmente os condenam, mas estendem a condenação à própria atividade política, caminho fácil e direto para a adoção de soluções simplistas como as autoritárias, que as eximem do custo de raciocinar e de se responsabilizar pelos resultados, que apenas transferiram para algum salvador da pátria, o que as exime de qualquer responsabilidade. Autoritarismo se aprende na família e na escola Muito do que estamos vivendo tem origem num sistema educacional - e familiar! - que prima pelo utilitarismo. Nas famílias, a educação é, em muitos casos, exclusivamente dedicada a vencer na vida. Nas escolas, o ensino é quase inteiramente voltado à absorção de conhecimentos para o exercício de algum ofício, em detrimento do arcabouço das "humanidades", justamente os conteúdos da filosofia, das artes, da sociologia e até da antropologia, entre outros ramos do conhecimento que contribuem para a formação de uma consciência crítica e funcionam como barreira à reação automática e simplista diante de alguma dificuldade. Sim, a educação é subversiva. Ela ajuda as pessoas a pensar. E pensar é perigoso! Ditadura é um sistema político simples, rápido e barato, bem dentro da fórmula "passuelista" segundo a qual "um manda, o outro obedece" e tamos conversados. Bem mais fácil é delegar a alguém a tarefa de pensar e decidir por nós do que pensarmos pelas nossas próprias cabeças e decidirmos com base no que aprendemos com o que a reflexão crítica nos ensinou. A democracia é trabalhosa, sim, e é custosa, sim, embora, entre os regimes políticos à disposição no mercado, continue insuperável. Diante da inexistência de espaços para a reflexão crítica na escola e na família, é possível entender um pouco do atual quadro político, social, moral e econômico, de gênero, no qual estamos enterrados, onde tudo só parece ter solução pelos extremos, com base em estereótipos que o tempo consolida e repete. Refletindo sobre essas pessoas que nos surpreendem por se revelarem de repente autoritárias, falso moralistas e/ou fundamentalistas religiosas, a gente se dá conta que são as mesmas que nasceram e cresceram em ambientes autoritários, cultivando valores discutíveis como o de vencer na vida a qualquer custo, sem noção alguma de solidariedade, tolerância ou de justiça social. Essas pessoas são as que vão combater, por exemplo, o sistema de cotas raciais nas universidades, porque foram educadas a considerar os negros como sub-raça, mesmo que da boca pra fora definam-se como contrárias ao racismo. São as mesmas que acreditam em qualquer notícia surpreendente recebida pelas redes sociais, tais como remédios mágicos, revelações bombásticas sobre a vida íntima de personalidades insuspeitas, sem falar na devoção irrestrita a líderes religiosos milagreiros etc. Para elas, tudo o que for fácil e rápido, é crível e digno de crédito. Ainda não há explicações satisfatórias Há estudos e pesquisas demonstrando que tais pessoas, principalmente as mais jovens, são as mais suscetíveis aos discursos radicais de direita. E, se antes não se assumiam por algum tipo de pudor, agora, com um governo ostensivamente defensor de tais "valores", perderam a vergonha de se expor. As raras exceções - a gente conta nos dedos - de bolsonaristas arrependidos apenas confirmam a regra. Na verdade, nunca foram inteiramente bolsonaristas. Apoiaram o capitão e seu ideário fascista num primeiro momento, como única saída disponível diante da inexistência de opções que as satisfizessem. Escrevo com base na minha experiência pessoal e na de alguns amigos que usaram e continuam usando meu ombro para desabafar seu desapontamento a esse respeito. Mesmo sabendo de todas as explicações acima mencionadas, quando alguém nos surpreende com a revelação de que é um apoiador de Bolsonaro e sua tropa de insanos, a notícia dói, marca, machuca. Porque todas as explicações oferecidas até agora pelos estudiosos são insuficientes para uma tomada de posição tão sem sentido. Os estudiosos ainda não formularam explicações convincentes, o que apenas agrava a dor e a decepção. > Leia mais textos do autor.   O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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