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O bom e velho jornalismo: último refúgio contra fake news

Em tempos de desinformação e IA, o rigor jornalístico segue sendo o único antídoto confiável contra o caos informativo.

Paulo José Cunha

Paulo José Cunha

29/10/2025 17:00

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As fake news operam sem desgaste em seu poder de desinformação. Depois de disparadas no ambiente virtual entram numa espiral infinita turbinada pelos algoritmos, circulando à velocidade da luz e causando danos à verdade em círculos centrífugos que se ampliam exponencialmente. O pior efeito dessa circulação absolutamente livre de qualquer freio de contenção é que o famoso "Veja errou", jargão das antigas redações, simplesmente não causa efeito algum nos dias atuais. Ora, se no ambiente analógico a correção de uma informação errada ou falsa (a primeira resultante de um erro de apuração e a segunda, publicada com o claro objetivo de desinformar) já não tinha muito efeito, no ambiente digital qualquer tentativa de repor a verdade é, apenas, inócua. A informação original, normalmente mais bombástica e, portanto, mais atraente, mesmo mentirosa, corre pelo ambiente virtual milhões de vezes mais depressa do que a informação falsa original. Sem falar que o poder de convencimento de uma correção é infinitamente menor do que o dano causado pela mentira original.

Que fique claro: não estou generalizando. Ainda na semana passada, num grupo de professores, jornalistas e pesquisadores de que faço parte foi postado um vídeo mostrando um estádio de futebol construído em algum país árabe sobre um prédio, numa altura que quase alcançava as nuvens. Apesar do absurdo, um colega, desses que reputamos bem informado, foi enganado pelo vídeo e resolveu divulgá-lo. Eu próprio, conhecedor da seriedade profissional do colega, imediatamente dei crédito e nem me dei ao trabalho de checar. Até porque, convenhamos, ninguém tem tempo nem saco pra ficar checando tudo o que recebe a toda hora. Por isso não percebi a farsa, tamanha a precisão das imagens geradas por IA. Até outro colega informar que era tudo fake. Nessa altura, se alguém viu, acreditou e repassou aquele vídeo falso a seu círculo de contatos, o mal já tinha sido feito. Ainda bem que não repassei! E olha que era apenas uma mentira "leve", sem maiores consequências. Mesmo assim, mentira.

Outro dia uma pesquisa do Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas apontou o Brasil como o responsável por 40% de todos os conteúdos anti-vacina publicados no Telegram na América Latina e Caribe. O que torna o Brasil um dos maiores disseminadores de desinformações anti-vacina no mundo. O próprio estudo lembra que parte desse impacto se deve ao tamanho do país em relação aos outros do continente. Mas, também, que a origem do negacionismo vacinal remonta à época da pandemia, quando o descrédito das vacinas por autoridades sanitárias com apoio e incentivo escancarado do então presidente Jair Bolsonaro, puseram em dúvida a eficácia das vacinas até satanizando-as como causadoras de doenças, além de divulgarem medicamentos sem qualquer eficácia comprovada, como a cloroquina.

No oceano de mentiras digitais, o trabalho da imprensa mantém viva a busca pela verificação e pela responsabilidade pública.

No oceano de mentiras digitais, o trabalho da imprensa mantém viva a busca pela verificação e pela responsabilidade pública.Freepik

O conspiracionismo, postura muito própria dos segmentos de direita e extrema-direita, está na base das falsas convicções que se retroalimentam dentro das redes de contatos desses grupos, impermeabilizando seus integrantes contra qualquer evidência, mesmo científica, em sentido contrário. Há estudos acadêmicos provando que uma vez negacionista, sempre negacionista. Até porque, para se credenciar dentro de seus grupos de amigos, colegas, parentes e "irmãos" de igreja, o negacionista não pode vacilar em suas convicções sob pena de ser proscrito do grupo. Isso faz com que as falsas convicções se solidifiquem a ponto de se tornar pós-verdades irredutíveis.

O planeta e o gênero humano passam pela sua maior prova desde que convicções arraigadas, embora equivocadas mas tidas como verdades absolutas, como o terraplanismo, foram postas à prova. Foi preciso que Eratóstenes, um matemático e astrônomo grego que viveu três séculos antes de Cristo, de posse de um graveto e seus conhecimentos de geometria, além da observação dos movimentos do sol, da lua e do desaparecimento das velas dos barcos no horizonte, provasse a esfericidade da Terra. De certa forma, as convicções religiosas do passado, como as que justificaram a "caça às bruxas" na Idade Média e estavam na base dos massacres das cruzadas cristãs contra os "infiéis" maometanos, podem ser comparados ao negacionismo científico atual. E olha que em pleno século XXI ainda há milhares ou milhões de... terraplanistas! Por aqui, o "filósofo" de araque Olavo de Carvalho foi um deles, com milhares de seguidores. Por isso mesmo, a busca por um porto seguro para a verdade está no centro do debate.

A Inteligência Artificial baralhou as cartas de tal modo que é simplesmente impossível até para especialistas distinguir o falso do verdadeiro. Diante disso, enquanto não surgem mecanismos e/ou legislações capazes de impedir a disseminação da desinformação, o bom e velho jornalismo, com seus métodos tradicionais de checagem e re-checagem, ainda é um bom referencial na busca pela verdade. É pouco, sim. Muito pouco. Mas como se diz lá no meu Piauí, "é pouco mas é melhor do que diabo de nada".


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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