Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Coletivo Legis-Ativo
Coletivo Legis-Ativo
Bruno Souza da Silva
Coletivo Legis-Ativo
IA, eleições e o desafio da violência política de gênero e raça
Carolina de Paula
CONGRESSO
16/7/2024 | Atualizado às 7:05
Nos dois gráficos que compõem a figura, acrescentei também o tamanho das bancadas dos partidos na Câmara para que se tenha dimensão do seu peso legislativo. Em relação à Frente Parlamentar Evangélica, destaco a pluralidade de sua composição. Ainda que prevaleça a presença de deputados associados a partidos de direita, há ainda membros oriundos do centro ou da esquerda. Isto torna difícil a tarefa de liderar essa frente parlamentar, principalmente sem controlar os mesmos recursos disponíveis às lideranças dos partidos e blocos partidários. Ratifica ainda a noção de que há diferenças consideráveis entre os evangélicos, que se refletem na preferência política de cada um, ainda que posições mais conservadoras sejam a tendência.
Por outro lado, a origem partidária dos parlamentares que assinaram o PL 1904/2024 é mais homogênea, sendo localizada ao centro (MDB, PSDB e PSD) e à direita (PL, Republicanos, União, PP e PRD) do espectro ideológico. O perfil se mantém se considerarmos as lideranças dos partidos ou blocos que aprovaram o REQ 1861/2024, que colocou a tramitação do referido projeto de lei em caráter de urgência: PL; Bloco União, PP, Federação PSDB e Cidadania, PDT, Avante, Solidariedade e PRD; e Bloco MDB, PSD, Republicanos e Podemos, com 95, 160 e 146 parlamentares, respectivamente.
Aparentemente, mais do que pertencer à religião evangélica, o que tem unido estes parlamentares são preferências políticas, sobretudo em pautas morais e de segurança pública, estas últimas com ênfase na repressão e punição de criminosos. Tal associação pode ser observada se considerarmos a tramitação da PEC 45/2023 (criminalização da posse e do porte de drogas) pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A proposta, já aprovada no Senado Federal, foi relatada pelo deputado Ricardo Salles (PL-SP) na CCJ. Seu parecer foi aprovado pelos membros da comissão filiados ao: PL, União Brasil, PP, MDB, PSD, Republicanos, Podemos e Cidadania. Além disso, votaram, sem sucesso, pela rejeição do parecer parlamentares dos seguintes partidos: PT, PCdoB, PSOL, Avante, PDT, PSB, PSDB, PV e Solidariedade. Ou seja, novamente há um alinhamento entre partidos de direita e alguns de centro, com liderança do PL, principal opositor do governo e atual partido de Jair Bolsonaro.
O alinhamento de preferências políticas desses parlamentares fica mais explícito ao se comparar o posicionamento deles frente a uma pauta mais ideológica e outra mais pragmática. A seguir apresento a votação da Câmara em duas ocasiões. A primeira trata da manutenção ou não do veto do presidente Lula às partes da Lei 14843/2024 que proibiam as saidinhas (saída temporária para visita à família e para cursar supletivo), pauta vinculada à segurança pública; e a segunda refere-se à regulamentação da reforma tributária, de conteúdo administrativo e econômico e menos associado a questões morais ou securitárias. Para facilitar a visualização mantive apenas os votos sim e não, excluindo abstenções e ausências.

O perfil de votação contra as saidinhas é semelhante ao encontrado anteriormente. PL, União Brasil, PP e Republicanos a favor de uma política de segurança pública mais punitiva e sendo acompanhado por alguns partidos de centro como PSD, MDB e PSDB. No entanto, o quadro se altera ao analisarmos a votação da regulamentação da reforma tributária, com o PL ficando praticamente isolado em relação aos seus parceiros anteriores e partidos como PSD, Republicanos e MDB adotando o lado apoiado por partidos de esquerda e, consequentemente, do governo (PT). Cabe sublinhar que os partidos que mudaram de comportamento nas situações aqui expostas (PSD, Republicanos, MDB e até mesmo União Brasil e PP) possuem ministérios no Executivo e parecem condicionar seu apoio à governabilidade ao tipo de pauta em questão.
Com isso eu não tenho a intenção de reduzir a importância atual dos evangélicos - sobretudo os neopentecostais - na política brasileira. Pelo contrário, o protagonismo deste setor é óbvio e, exatamente por isso, sua interpretação merece o devido cuidado. E o termo bancada evangélica não parece ajudar nesse esforço, uma vez que, por um lado, ele homogeneíza todos os evangélicos como fiadores da mesma pauta e, por outro, esconde que associada às demandas morais há também a agenda de política pública e que setores de outras religiões como a católica também se associam neste debate público. Aparentemente, o que temos hoje no Legislativo brasileiro são parlamentares alinhados ideologicamente e livres para atuar em suas pautas mais caras perante seus eleitores (moral e segurança pública), mas que, em casos de votações mais pragmáticas, retomam o comportamento de troca de apoio legislativo por ministério, abandonando seus parceiros de de preferência política e voltando a fazer parte do governo.
Temas
Eleições e território
Serviços públicos
Política global