Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
15/2/2006 | Atualizado às 23:47
Ricardo Ramos e Edson Sardinha
Em um cafezinho da Câmara, além de falar sobre política, o piauiense Sibá Machado contou ao Congresso em Foco, durante mais de uma hora de entrevista, detalhes de sua origem humilde e como ainda se sente constrangido diante da "altivez" de alguns dos colegas parlamentares.
Referindo-se ao líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), ele confidenciou: "O Mercadante nem me cumprimentava. Nas reuniões de bancada, tanto fazia para ele se eu estava lá ou não. Nem me notava", diz em relação ao líder do governo no Senado e colega de partido. Situação que, segundo ele, começou a mudar com a crise política. "Agora, ele até me cumprimenta", comemora. "Acho que foi porque eu passei no mestrado (em Economia, na Universidade Federal do Acre). Ele mandou até uns livros pra mim."
Aparentando - como ele mesmo diz - dez anos a menos do que os 48 que completou em janeiro, Sibá reclama da tradicional desconfiança dos senadores diante de quem chega à Casa na condição de suplente. "Acho que pelo menos em 2003 e 2004 isso aqui era uma geladeira. Entre eu estar em algum lugar e não estar e dizer alguma coisa e ficar calado ou coisa parecida era a mesma coisa", lembra o senador.
Ex-motorista de ônibus, ex-sindicalista, ex-trabalhador rural, o geógrafo Sibá Machado ganhou reconhecimento no PT ao dar a cara a tapa na defesa do governo Lula. Por meses, atuou nas CPIs dos Bingos, dos Correios e do Mensalão (já extinta), muitas vezes em batalhas solitárias contra a oposição.
Sétimo dos dez filhos de um casal de camponeses piauienses, Sibá começou a trabalhar aos 11 anos de idade na roça. Aos 20, mudou-se para São Paulo, onde foi motorista de ônibus. O Acre e a oportunidade de ingressar na vida política apareceram em sua vida em 1986, quando chegou ao estado, graças à Comissão Pastoral da Terra, da Igreja Católica, para trabalhar com os seringueiros. Entre os sindicalistas que o acolheram, estavam Marina Silva e Chico Mendes.
Veja, a seguir, os principais trechos da segunda parte da conversa com o senador Sibá Machado:
"Agora, Mercadante até me cumprimenta"
"O Mercadante nem me cumprimentava. Nas reuniões de bancada, tanto fazia para ele se eu estava lá ou não. Nem me notava. Mas eu não levo desaforo pra casa. Um dia cheguei nele e disse: se você não me der bom dia, eu também não darei. Agora, ele até me cumprimenta. Acho que foi porque eu passei no mestrado. Ele mandou até uns livros pra mim."
"O que é que estou fazendo aqui?"
"Eu chegava aqui e me achava um inútil. Eu não tinha nada para fazer aqui. 'O que é que estou fazendo aqui?' Só esperar o líder dizer: 'vota ali'. Aí eu vou lá e voto? Isso é um porre! Para quem está a fim disso, pode ser que a vida aqui seja maravilhosa. Mas eu vim para cá com vontade, com muita vontade para aprender, porque isso aqui é uma grande escola também. E venho de uma organização social, não venho aqui como um suplente para resolver um problema do Sibá Machado. Foi dada a mim uma missão pelo conjunto dos colegas lá do Acre. Então, a crise acabou me revelando - o lado ruim acaba prestando um serviço para alguém, não é? Pude me expor melhor na Casa e participar mais. Determinadas coisas que peço hoje são mais bem atendidas. Então, de 2005 para cá é completamente diferente de 2003 e 2004."
Com a cara a tapa
"Eu e a Ideli (Salvatti, líder do PT no Senado) viemos das guerras sindicais. Ela era dirigente sindical lá (em Santa Catarina) e eu também, lá no Acre. É difícil o sindicalismo viver momentos de paz e de tranqüilidade. Estamos sempre atrás de confusão, de conflito e tudo o mais. Talvez por essa coisa a gente traz um pouco dessa escola aqui para dentro. Aí nós somos considerados os mais jovens, a tal da inexperiência e quando a gente vem para cá trazemos um pouco o azedume de lá. Talvez pela naturalidade das coisas, quando a gente se viu, estava lá dentro. Eu particularmente quando vim me perceber, isso aqui estou falando do coração, o que eu era e o que estou fazendo foi quando me vi naquela capa da revista IstoÉ. 'Ah, tem gente me olhando!!!' Eu não me dava conta do que estava fazendo. E estava fazendo tão naturalmente, tão desprovido de qualquer coisa de que estou querendo aparecer, que quando me vi ali foi quando eu percebi que as pessoas estavam olhando para mim. Mas foi por isso, por força da escola sindical que fiz isso."
Desconforto no Senado
"Acho que pelo menos em 2003 e 2004 era uma geladeira isso aqui. Entre eu estar em algum lugar e não estar e dizer alguma coisa e ficar calado ou coisa parecida era a mesma coisa. Isso em qualquer lugar: no plenário, nas comissões, nas reuniões da bancada, nas reuniões com ministros. 'Quem é esse menino?' Eu tinha essa impressão. Nunca vi nada que provasse isso, mas é uma sensação que eu levava todo dia para casa. Ainda me sinto, digamos assim, 40% dessa sensação! (risos) E ainda acho que esta Casa trata muito mal os suplentes, por não terem passado por votação ou porque bancaram a campanha do titular ou são familiares do senador licenciado."
"Arroz com barata"
"Eu me lembro muito bem que, em 1968, teve um período lá em nossa casa que o que tinha que comer era um arroz estragado, que um comerciantezinho desses lá de bairro pobre mesmo deu para a gente. O arroz estava até infectado pelas baratas. Nós tivemos que comer naquele dia arroz com barata, com gosto de barata. Essa foi uma fase. E, depois quando cheguei para morar com o meu pai lá no Pará, em 1979, passei quase dois meses comendo apenas arroz: no café da manhã, no almoço e na janta. Eu trabalhava no roçado e chegava, com os nervos todos trêmulos, porque não tinha resistência para trabalhar."
Fazendo política
"Eu tenho um jeito que não sei nem explicar. Às vezes acho que não me conheço. Em alguns momentos não consigo expressar o que estou sentindo e pensando. Em alguns momentos, acho que surpreendo até a mim e as outras pessoas que estão comigo. Dizem: 'Mas saiu dessa cabeça essa coisa'. Geralmente esperam de mim uma coisa tão boa e não sai. Eu sou dessa forma, foi uma surpresa (fazer política). Foi um conjunto de situações, entrei para o sindicalismo, consegui me tornar uma nova expressão do sindicalismo no Acre. Acabei entrando para a militância do PT, e consegui trabalhar melhor a relação entre as forças políticas e as pessoas passaram a me respeitar, e eu respeito todo mundo. Tanto é assim que foi por duas vezes quase uma unanimidade a minha eleição para a presidência do PT do Acre. Então, para chegar à suplência do Senado, foi quase natural. 'Vamos dar a oportunidade para ele, já que a Marina pode ser ministra'. Para eles, era como se tivessem entregando uma faca amolada para uma criança."
Praça da Bandeira - Jardim Ângela
"Fui para São Paulo em 78. Fui motorista de ônibus, trabalhei numa empresa lá que acho que nem existe mais. No ano passado, resolvi fazer o trajeto que sempre fazia. Peguei um ônibus lá, mas já era outro nome, mudou tudo. Eu fazia o trajeto Praça da Bandeira (Centro) a um bairrozinho chamado Jardim Ângela (Zona Sul, na periferia de São Paulo)."
Cruzando com Lula
"Eu vim conhecer o Lula pessoalmente no final de 1986. Já estava no Acre, já estava incluído no sindicalismo e fui participar de uns eventos da CUT lá em São Paulo e foi lá que eu vi o Lula. Ele não sabe disso, não se lembra, mas chegamos a jogar sinuca juntos (risos)."
Acre
"Foi a Igreja Católica que me levou, a CPT (Comissão Pastoral da Terra), que me pagava um salário mínimo. Quando fui para o Acre, viajei com essa missão. Quando eu saí do Pará, morava com o meu pai. Nós tínhamos o nosso lote, e já era uma certa referência no lugar. E quem era para ir para lá era a minha esposa - e na época nós éramos apenas noivos. Então, quando escalaram ela para ir para o Acre, aí lembraram que eu estava quase casando com ela. Aí disseram: 'Então, vão os dois para lá'. Não era para eu ir. Era para ir ela e acabei indo na sacola."
Temas
PEC da Blindagem
Silvye Alves pede desculpas por voto a favor da PEC da Blindagem
PEC da Blindagem
Em vídeo, Pedro Campos diz que errou ao apoiar PEC da Blindagem
PEC da Blindagem
PEC da blindagem
Artistas brasileiros se posicionam contra a PEC da Blindagem