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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Érika Kokay
15/7/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:34
![[fotografo] Marcello Casal Jr/Agência Brasil [/fotografo]   [fotografo] Marcello Casal Jr/Agência Brasil [/fotografo]](https://static.congressoemfoco.com.br/2020/07/969132-quilombinho---lounge-infantil-2968.jpg) 
 
 De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, o percentual de crianças e adolescentes fora da escola era de 4,7%. Em 1990, ano de criação do ECA, essa taxa era de 19,6%. Verifica-se, assim, um aumento do alcance na escolarização, embora ainda tenhamos muito que avançar na busca pela sua universalização com qualidade
O acesso à saúde também teve melhorias expressivas. Segundo o levantamento, entre 1990 e 2017, a taxa de mortalidade infantil caiu de 47,1 para 13,4 mortes para cada mil nascidos vivos. Houve, ainda, uma significativa evolução na luta contra a pobreza. Em 1991, o percentual de meninos e meninas vivendo em domicílios pobres era de 70%. Em 2015, esse índice havia caído para 34%.
No entanto, ainda enfrentamos uma série de desafios para que o ECA seja integralmente implementado. Um deles é exatamente a disputa de significado. Fundamentalistas punitivistas trabalham diuturnamente no parlamento e na sociedade para desconstruir o Estatuto e as medidas de socioeducação, com o único objetivo de endurecer as punições para crianças e adolescentes em conflito com a lei.
Via de regra os punitivistas ignoram toda a lógica de proteção integral do ECA. Não lutam pela efetivação de direitos, nem compreendem a mudança de paradigma da punição para a prevenção, proteção e reparação dos direitos violados. Para eles, a solução mágica para o complexo fenômeno da violência em nosso país são as grades.
O Brasil ainda convive com um grave quadro de vulnerabilidade social, principalmente, de crianças pobres, negras, indígenas e quilombolas. Sabemos que crianças e adolescentes são muito mais vítimas que algozes da violência e alguns números são bastante reveladores de que direitos básicos de crianças e adolescentes seguem sendo desrespeitados. Temos quase 2 milhões de crianças e adolescentes fora da escola e 9 mil vítimas por armas de fogo. A cada hora quatro meninas de até 13 anos são estupradas em nosso país. 2,4 milhões de crianças e adolescentes seguem exercendo o trabalho infantil, muitas vezes naturalizado quando se trata de crianças pobres e negras.
Associado a tudo isso, temos vivido nos últimos anos um processo acelerado de deterioração do ambiente democrático no Brasil que vai se refletir em retrocessos sociais e na retirada de direitos. Todos os avanços conquistados ao longo das últimas décadas estão ameaçados e uma das maiores dificuldades para a efetivação do ECA e dos direitos de crianças e adolescentes é justamente assegurar recursos suficientes para as políticas públicas.
Estamos sob a égide de uma emenda constitucional (EC 95) que congelou todos os gastos com políticas públicas pelos próximos 20 anos, a qual tem sido responsável pela piora dos indicadores de qualidade de vida, aumento da mortalidade infantil, retorno da fome e do aprofundamento das desigualdades.
É impossível falar em prioridade absoluta quando nos últimos três anos (2016 a 2019) nenhum orçamento autorizado para políticas públicas destinadas às crianças e adolescentes foi integralmente aplicado.
Por isso, sou autora de um projeto de lei (PLP 46/2015) que altera a Lei de Responsabilidade Fiscal para que sejam estabelecidas a obrigatoriedade de um plano de metas destinadas às crianças e adolescentes. Os gestores precisam prestar contas aos respectivos poderes legislativos e aqueles que não cumprirem objetivos que assegurem a efetividade dos direitos e a proteção especial terão que responder por crime de responsabilidade.
Num cenário de escalada do ódio e de ameaças ao Estado de Direito e à democracia, são inúmeros os desafios para que a letra da lei se efetive na realidade. Mas seguimos em frente, porque acreditamos que assegurar direitos de crianças e adolescentes não é uma escolha, mas um dever do Estado, da família e da sociedade.
Continua absolutamente atual a reflexão de Herbert de Souza, o Betinho, quando diz que "se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado. Essa que vejo na rua sem pai, sem mãe, sem casa, cama e comida, essa que vive a solidão das noites sem gente por perto, é um grito, é um espanto. Diante dela, o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a criança é o princípio sem fim e o seu fim é o fim de todos nós".
Leia mais artigos de Erika Kokay.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, o percentual de crianças e adolescentes fora da escola era de 4,7%. Em 1990, ano de criação do ECA, essa taxa era de 19,6%. Verifica-se, assim, um aumento do alcance na escolarização, embora ainda tenhamos muito que avançar na busca pela sua universalização com qualidade
O acesso à saúde também teve melhorias expressivas. Segundo o levantamento, entre 1990 e 2017, a taxa de mortalidade infantil caiu de 47,1 para 13,4 mortes para cada mil nascidos vivos. Houve, ainda, uma significativa evolução na luta contra a pobreza. Em 1991, o percentual de meninos e meninas vivendo em domicílios pobres era de 70%. Em 2015, esse índice havia caído para 34%.
No entanto, ainda enfrentamos uma série de desafios para que o ECA seja integralmente implementado. Um deles é exatamente a disputa de significado. Fundamentalistas punitivistas trabalham diuturnamente no parlamento e na sociedade para desconstruir o Estatuto e as medidas de socioeducação, com o único objetivo de endurecer as punições para crianças e adolescentes em conflito com a lei.
Via de regra os punitivistas ignoram toda a lógica de proteção integral do ECA. Não lutam pela efetivação de direitos, nem compreendem a mudança de paradigma da punição para a prevenção, proteção e reparação dos direitos violados. Para eles, a solução mágica para o complexo fenômeno da violência em nosso país são as grades.
O Brasil ainda convive com um grave quadro de vulnerabilidade social, principalmente, de crianças pobres, negras, indígenas e quilombolas. Sabemos que crianças e adolescentes são muito mais vítimas que algozes da violência e alguns números são bastante reveladores de que direitos básicos de crianças e adolescentes seguem sendo desrespeitados. Temos quase 2 milhões de crianças e adolescentes fora da escola e 9 mil vítimas por armas de fogo. A cada hora quatro meninas de até 13 anos são estupradas em nosso país. 2,4 milhões de crianças e adolescentes seguem exercendo o trabalho infantil, muitas vezes naturalizado quando se trata de crianças pobres e negras.
Associado a tudo isso, temos vivido nos últimos anos um processo acelerado de deterioração do ambiente democrático no Brasil que vai se refletir em retrocessos sociais e na retirada de direitos. Todos os avanços conquistados ao longo das últimas décadas estão ameaçados e uma das maiores dificuldades para a efetivação do ECA e dos direitos de crianças e adolescentes é justamente assegurar recursos suficientes para as políticas públicas.
Estamos sob a égide de uma emenda constitucional (EC 95) que congelou todos os gastos com políticas públicas pelos próximos 20 anos, a qual tem sido responsável pela piora dos indicadores de qualidade de vida, aumento da mortalidade infantil, retorno da fome e do aprofundamento das desigualdades.
É impossível falar em prioridade absoluta quando nos últimos três anos (2016 a 2019) nenhum orçamento autorizado para políticas públicas destinadas às crianças e adolescentes foi integralmente aplicado.
Por isso, sou autora de um projeto de lei (PLP 46/2015) que altera a Lei de Responsabilidade Fiscal para que sejam estabelecidas a obrigatoriedade de um plano de metas destinadas às crianças e adolescentes. Os gestores precisam prestar contas aos respectivos poderes legislativos e aqueles que não cumprirem objetivos que assegurem a efetividade dos direitos e a proteção especial terão que responder por crime de responsabilidade.
Num cenário de escalada do ódio e de ameaças ao Estado de Direito e à democracia, são inúmeros os desafios para que a letra da lei se efetive na realidade. Mas seguimos em frente, porque acreditamos que assegurar direitos de crianças e adolescentes não é uma escolha, mas um dever do Estado, da família e da sociedade.
Continua absolutamente atual a reflexão de Herbert de Souza, o Betinho, quando diz que "se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado. Essa que vejo na rua sem pai, sem mãe, sem casa, cama e comida, essa que vive a solidão das noites sem gente por perto, é um grito, é um espanto. Diante dela, o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a criança é o princípio sem fim e o seu fim é o fim de todos nós".
Leia mais artigos de Erika Kokay.

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