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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Carlos Lungarzo
6/12/2018 7:30
"Nós não temos medo das críticas nem de fazer autocrítica, porque a verdade está de nosso lado, e as massas básicas, os trabalhadores e os camponeses, estão de nosso lado." (Mao Ze Dong, principal fundador e ditador da República Popular China, 1957)
(Nota do autor: se tudo anda tão bem, por que precisam fazer autocrítica?) Em março de 2018, publiquei no Congresso em Foco o artigo "PT: Autocrítica ou Castigo?". O artigo visava apenas mostrar solidariedade ao PT contra o linchamento moral da direita e da "esquerda", que não deixavam passar um dia sem exigir autocrítica, retratação, arrependimento, e assim em diante. O artigo passou despercebido durante mais de oito meses, até que o pesquisador Breno Altman publicou um texto semelhante, porém mais preciso e expressivo, na Folha de S.Paulo. Por causa disso, alguns críticos dele me colocaram no mesmo "paredão", e tornaram-me também o foco de suas diatribes.
Quanto à chapa do PT, quero salientar que, apesar de apoiar Fernando Haddad em todo momento, fiquei desiludido quanto ele pareceu submeter-se parcialmente às exigências de "autocrítica" de diversos grupos. Embora sua negativa tivesse significado perder a metade de seus votos, mesmo assim acho que teria sido melhor mostrar ao povo que existem candidatos que não se curvam a qualquer chantagem. Esse seria um passo importante para a educação do eleitor, embora seus resultados talvez demorassem várias gerações para serem percebidos. Assim aconteceu em alguns países da Europa onde ainda hoje há um esquerda respeitável e mais que centenária.
Voltando as críticas, penso que para diferenciar entre direita e esquerda é necessário encontrar algum ponto de discrepância entre ambas. Mas, em que se diferencia a exigência contínua, implacável, reiterativa da "esquerda", da exigência de autocritica cobrada pela direita ??
Ás vezes, a "esquerda" enfeita sua pretensão de humilhação do PT, aduzindo que este partido deve renunciar a sua prédica reformista, não revolucionária, assistencialista, e traidora do proletariado. Sem querer ser derrotista, penso que isto talvez seja um pouco ambicioso para o clima catastrófico que se vive atualmente. Que partido no mundo está, neste momento, em condições de oferecer revolução, socialismo e poder popular? Aliás, no Brasil, quem tem o poder de oferecer um leve horizonte de democracia nesta orgia de corrupção, acomodo, hipocrisia, venalidade e barbárie em que se debatem todos os poderes públicos? Quando alguém cobra de alguém que faça o impossível, é duvidoso que a proposta seja bem intencionada.
Em outros aspectos, percebo que a "esquerda" e a direita coincidem em fazer críticas moralistas, e que ambas ignoram, na mesma medida, as aberrações jurídicas sofridas pelo PT. Os direitos humanos devem aplicar-se a todos, mesmo aos partidos nazistas (caso eles fossem perseguidos, o que certamente não aconteceu nem acontecerá nunca no Brasil). A alegria da "esquerda" frente as violações aos direitos humanos dos "petralhas" impedem diferenciá-la da direita. Vejamos o que ambas admitem com absoluta naturalidade e coincidência.
Julgamentos e sentenças sem provas nem indícios. Delações arrancadas por pressão. Sadismo e histeria de juízes/as e promotores/as. Repúdio pela lei internacional. Fraudes eleitorais comprovados. Cobertura, proteção e até promoção de corruptos de outros partidos, cujos líderes estão em liberdade e ocupam cargos no governo. Relativização da noção de inocência. Infrações aos tratados assinados através da ONU. Rejeição sistemática de habeas corpus sem fundamentação. Imposição de sentenças em julgamentos cujos autos não foram lidos pelos juízes. Violação de sigilo pessoal. Vazamento de informação altamente sensível adquirida de maneira criminosa. Empecilhos ao cuidado médicos dos prisioneiros. Transformação de candidatos em reféns. E muitos outros, os quais seria entediante citar.
Aliás, o fato de que pessoas ou grupos que já foram de esquerda (e talvez ainda sejam partidários de uma esquerda simbólica) defendam grupos de direita, torna ainda a situação mais confusa. Chamar "progressistas" a coronéis prepotentes e ressentidos, ou a falsos ecologistas cujo "verde" está nas notas de dólar, só contribui a borrar ainda mais a linha divisória. Uma prova incontestável é que mais de metade dos votos destes "esquerdistas" caíram no colo de capitão no segundo turno.
Afinal, onde, por favor, será que posso encontrar as supostas cobranças de "esquerda" contra o PT???
Tradição de Crítica e Autocrítica de Longa Data
Outra crítica feita pelos propagandistas do slogan "use e abuse de autocrítica" é a de que eu e outros petralhas ignoramos a tradição de longa data da esquerda que, segundo isto, teria usado sempre a crítica e a autocrítica. Tudo bem, vou procurar essa tradição.
Os mecanismos de busca na Internet sobre assuntos ligados ao socialismo, anarquismo ou marxismo (neste último caso foram MEW, MIA, MEIA e MEGA) não registram nenhuma palavra semelhante a autocrítica até 1927. Não aparecem aí autocritique, Selbstkritik, ???????????, self-criticism, nem autocrítica em nenhum trabalho publicado entre 1820 e 1926. Comprovar isto pode tomar menos de uma hora. Veja, por exemplo, em MIA:
www.marxists.org/portugues
Foi Stalin quem tornou popular esse novo conceito. A partir dos 16 anos foi aluno de um seminário de teologia de Tiflis onde, a despeito de sua repulsa pela religião, esteve em contato com as práticas de confissão e de penitência, que possivelmente estimularam sua criação do conceito de crítica e autocrítica, que adoptou como metodologia política mais de vinte anos depois. Finalmente, aumentando a confusão, "derivou" esses conceitos da misteriosa e esotérica dialética de Hegel. (Aqui sim é Hegel e não Engels; não me confundam com o procurador do Powerpoint!).
No 15º Congresso do Partido Comunista (12/1927) divulgou essa metodologia, que era utilizada para desestabilizar os dirigentes através das críticas e cobranças dos operários, e também para inculcar o hábito da delação. Tudo a ver com os valores de nossa Escola sem Partido!! Ele escreveu vários artigos analisando os riscos de vulgarizar a autocrítica. O primeiro foi em 26/06/1928:
www.marxists.org/reference/archive/stalin/works/1928/06/26.htm
Stalin manteve seu estilo mesurado nos escritos teóricos, mas todos sabem que a aplicação do método da Kritica e Somacritica era um interrogatório policial, onde o "autocrítico" sofria geralmente constrangimento psicológico. O filme A Confissão, de 1970 (Costa-Gavras), e A Vida dos Outros, de 2007 (von Donnersmarck), são excelentes retratos desse método.
Nas outras tendências do marxismo da época, por exemplo, o trotskismo, a referência a autocrítica é pouco frequente e sempre num estilo amigável. Tanto na obra de Trotsky, como a de outro grande do marxismo (Antonio Gramsci), a noção de autocrítica aparece poucas vezes e sempre está referida a uma reflexão destinada a que os militantes encontrem espontaneamente erros em seus projetos. Nunca foi usada como uma metodologia para forçar decisões alheias, para punir desobediência partidária, nem, muito menos, como recurso de desmoralização e posterior castigo.
Já os anarquistas foram inimigos capitais da autocrítica, que sempre consideraram um processo burocrático e policial, cuja finalidade era impedir a discussão democrática espontânea.
Do mesmo autor:
> O mistério das urnas eletrônicas
> Pérez Esquivel contra a Inquisição Tropical
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