Jefferson: PTB "não tem que estar na base"

O deputado cassado Roberto Jefferson, presidente do PTB, afirmou em entrevista à Folha Online que o partido "pode apoiar a governabilidade, mas não tem que estar na base [de sustentação do governo]".  Jefferson também levanta dúvidas em relação a um novo comportamento político do governo Lula em relação ao Congresso Nacional a partir do próximo ano. "O prefácio do novo governo está igualzinho ao do passado", afirma.

Confira a entrevista de Roberto Jefferson

Folha - Como ficará a relação do PTB com o governo?
Roberto Jefferson - Entendo que o PTB pode apoiar a governabilidade, mas não tem que estar na base do governo. Governabilidade é compromisso nosso com a maioria do povo.

Mas farão isso sem compor o governo?
Não tem que indicar cargos. Deve ajudar a governar o Brasil, mas sem participar da base, efetivamente.

E quem será o interlocutor do PTB com o presidente Lula?
Vai ser o José Múcio, o líder na Câmara. O presidente Lula inclusive já o chamou para uma conversa.

E se a maioria do PTB quiser ser da base e reivindicar cargos?
Pelo que eu consultei, não há a vontade de participar. Temos três princípios que votamos na última convenção nacional: aumento de impostos, não, reforma da CLT ou aprofundamento da reforma previdenciária, só com plebiscito. Primeiro, perguntem ao povo. Depois pode até discutir.

Posso entender então que o PTB será oposição?
Não, não vai ser oposição. Se você disser: Roberto, você levaria o partido para a oposição? Eu criaria um brutal conflito com o líder e com o ministro Walfrido, que são governo. Para que eu vou implodir o partido? Vamos andando. O Múcio apoia a governabilidade e não coloca o PTB dentro do governo. Eu não quero o PTB dentro do governo.

O PTB já está no governo.
O Walfrido não é ministro do PTB. Ele é ministro do Lula. E tem a gentileza de dizer isso. Diz: "o meu PTB é o Partido do Turismo Brasileiro". Ele não fala pelo PTB.

Se o PTB ficar fora da base, entregará os cargos que tem hoje?
Não tem nenhum. Tem o Walfrido, que é ministro do Lula, não do PTB. E tem aquele vice-presidente da Caixa, que foi ele que nomeou, não o PTB. Todos os cargos que tínhamos entregamos em 2005: Eletrobrás, Correios, Delegacia do Trabalho, Eletronuclear.

O PTB tem consenso sobre a reforma política?
Alguns. Fidelidade partidária é fundamental. A maioria do partido é a favor da lista com financiamento público. O partido admite o voto distrital, ou distrital misto.

Se o presidente Lula chamar dirigentes partidários para discutir a reforma política, o interlocutor no PTB será o José Múcio?
O Lula não vai discutir isso. Não é problema dele. O problema é da sociedade.

O presidente Lula disse que conduzirá pessoalmente a articulação política. O sr. acha que mudará a relação com o Congresso?
Não. Penso que vai ser a mesma coisa do governo passado.

Pode haver risco de novo mensalão?
Não sei. Eu não quero julgar de forma negativa um governo ungido pelo mandato popular. Vamos aguardar.

Mas o senhor vê chances de mudanças?
Estou vendo é que começou com um discurso de conciliação intolerante com a imprensa. Se você quer conciliar, não pode pregar intolerância. Você veja: já está com aquela luta interna de ministros dizendo que acabou a era Palocci. O prefácio do novo governo está igualzinho ao do passado. Vamos ver o desdobramento.