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13/8/2025 12:00
Vivemos um momento crucial da vida nacional, um daqueles períodos em que a história parece se acelerar, colocando à prova a resistência das instituições, a maturidade da democracia e a própria capacidade de discernimento da sociedade. O principal desafio, neste instante delicado, é não cair nas armadilhas cuidadosamente armadas pela extrema-direita, que age com um duplo propósito: estressar o ambiente político interno, provocando reações desproporcionais, e, ao mesmo tempo, justificar pressões e sanções externas sob o pretexto de supostos excessos das autoridades brasileiras. Essa estratégia, longe de ser improvisada, é meticulosamente planejada, executada com frieza e sustentada por um aparato de desinformação que transforma mentiras em verdades alternativas, distorcendo a realidade para servir a seus fins escusos.
A extrema-direita, em sua atuação, não se limita a simples oposição política. Ela opera como uma máquina de guerra psicológica, valendo-se de artifícios retóricos como falácias, partindo de premissas falsas para chegar a conclusões que, embora logicamente estruturadas, são profundamente desonestas. Suas narrativas são construídas não para esclarecer, mas para confundir; não para debater, mas para impor. E o mais perverso nisso tudo é que se apresentam como arautos da moralidade, defensores intransigentes de valores éticos, quando, na verdade, utilizam esses mesmos valores como máscaras, como armaduras que lhes permitem agir na sombra, dissimulando sua verdadeira natureza.
Compreender a essência desses atores é fundamental. No mundo, e especialmente na política, existem pessoas boas, ruins e verdadeiramente más - e essa é uma escolha de vida, um reflexo de caráter e de projeto de poder. Alguns líderes, como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Javier Milei, não são meramente ruins no sentido de incompetentes ou despreparados; são, antes de tudo, pessoas más, no sentido mais profundo da palavra.
Suas ações não são fruto de equívocos ou falhas de julgamento, mas de uma perversidade calculada, de uma vontade deliberada de destruir, dividir e dominar, de uma trajetória de vida construída sobre os alicerces do engano, da mistificação, e do egocentrismo. Os meios que escolhem, as pessoas que seguem e as visões de mundo que defendem revelam sua essência. E, nesse sentido, quem os segue, quem compactua com seus métodos e suas narrativas, também compartilha dessa mesma natureza. Não há neutralidade possível: quem marcha ao lado da extrema-direita, quem aplaude suas barbaridades, quem justifica suas violências, é, no mínimo, cúmplice de seu projeto de poder. É uma "seita" que aplica, na vida política, o terraplanismo: não há argumento razoável que os convença de que estão errados.
No caso brasileiro, a situação é ainda mais delicada. Um ex-presidente, derrotado nas urnas há três anos, ainda se recusa a reconhecer a legitimidade do processo democrático. Apoiado por um exército de seguidores fanáticos, muitos deles armados e organizados em milícias digitais, ele insiste em minar as instituições, desacreditar o sistema eleitoral e promover um clima de instabilidade permanente. Seus aliados não estão apenas nas ruas ou nas redes sociais; estão também em setores poderosos do sistema financeiro e do agronegócio, que veem em sua retórica de ódio e em seu projeto autoritário uma forma de garantir privilégios e evitar qualquer avanço social que ameace seus lucros. E também estão no Parlamento, enrolados em bandeiras verde-amarelas, mas adorando e prestando continência à bandeira de países liderados por políticos que seguem a mesma cartilha.
Cada vez que esse ex-presidente é punido por suas tentativas golpistas - seja com a imposição de tornozeleiras eletrônicas, seja com prisão domiciliar -, sua reação não é de arrependimento ou de submissão à lei, mas de revolta e mobilização. Sua punição não o enfraquece; ao contrário, serve como combustível para alimentar a narrativa de perseguição política, de vitimismo, que ele usa para radicalizar seus seguidores e justificar novas investidas contra a democracia. É um ciclo perverso: quanto mais a Justiça age, mais ele se apresenta como mártir, mais seus apoiadores se exaltam e mais o ambiente político se deteriora. E é exatamente isso que ele quer.
Não por acaso, esse ex-presidente é uma espécie de ventríloquo de Donald Trump, imitando-o em todos os aspectos. Trump, como se sabe, é o arquétipo do líder autoritário moderno: negacionista, desconfiado das instituições, propagador de fake news, governando não para o povo, mas para uma elite que enxerga o Estado como um instrumento de enriquecimento pessoal. Quando perdeu as eleições em 2020, Trump não apenas se recusou a aceitar o resultado, como incitou uma invasão ao Capitólio, num ato de clara insurreição. Embora condenado pela Justiça, só não foi preso porque o sistema político americano, em sua lentidão burocrática, permitiu que escapasse ileso durante o período em que esteve fora do poder. Bolsonaro, no Brasil, seguiu o mesmo roteiro, com a diferença de que aqui as instituições reagiram mais rapidamente, tornando-o inelegível por oito anos e garantindo que seu julgamento ocorra antes da eleição de 2026.
Mas a ameaça não acabou. Os aliados de Bolsonaro, liderados por seu filho Eduardo Bolsonaro, que deixou o mandato de deputado federal e foi conspirar contra o país nos Estados Unidos, pressionam o governo Trump a intervir nos assuntos internos do Brasil. Sua narrativa é a de que Bolsonaro seria uma vítima de perseguição política, assim como Trump teria sido (segundo sua própria versão distorcida dos fatos). E, infelizmente, essa campanha tem dado resultados. O governo americano já impôs tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, suspendeu o visto de oito dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal e sancionou o relator da ação contra Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes, utilizando a Lei Magnitsky - uma legislação criada para punir violadores de direitos humanos, mas que, neste caso, está sendo usada como instrumento de pressão política.
Todas essas medidas foram tomadas em retaliação às decisões judiciais brasileiras, especialmente após a imposição da tornozeleira eletrônica. Os bolsonaristas estão escalando para arrancar novas punições ao País e aos membros do STF após a prisão domiciliar do ex-presidente. A ideia é descumprir medidas cautelares para que eventuais novas punições da Justiça ao ex-presidente sejam respondidas com mais hostilidade por parte do governo Trump, que age não como um defensor da democracia, mas como um cúmplice e promotor do autoritarismo. O objetivo é claro: forçar o Brasil a anistiar Bolsonaro, livrá-lo de qualquer consequência jurídica e permitir que ele dispute as eleições de 2026. Trump quer, acima de tudo, um aliado submisso no Brasil, alguém que obedeça às suas ordens e sirva aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos, mesmo que isso signifique destruir a soberania nacional.
Diante desse cenário, o povo brasileiro, o governo e as instituições precisam agir com firmeza, mas também com extrema prudência. Não se pode ceder às pressões externas, mas também não se pode agir de forma impulsiva, dando pretextos para novas sanções. Como bem disse o ex-presidente José Sarney, quando estamos lidando com louco, todo cuidado é pouco. E Trump, assim como Bolsonaro, é imprevisível. Suas ações não seguem a lógica da diplomacia tradicional, mas os caprichos de um ego inflamado e de um projeto de poder que não respeita fronteiras nem soberanias.
O Brasil precisa, portanto, fortalecer suas alianças internacionais, buscar apoio em fóruns multilaterais, manter-se firme na defesa das instituições e expor, de forma clara, a interferência estrangeira em seus assuntos internos. Ao mesmo tempo, é fundamental que a Justiça continue agindo dentro da lei, sem se deixar intimidar por ameaças ou retaliações. A democracia não se negocia, a soberania não se vende e a lei não pode ser suspensa para atender aos interesses de um grupo político ou de uma potência estrangeira.
O momento é grave, mas também é uma oportunidade para que o Brasil reafirme seu compromisso com a democracia e com o Estado de Direito. A extrema-direita pode ser barulhenta, pode ser violenta, pode até conseguir algumas vitórias pontuais. Mas, no final, a história mostra que regimes baseados na mentira, na dissimulação e na força estão fadados ao fracasso. Cabe aos governantes agir com prudência para resolver esse impasse sem que isto custe, mais uma vez, o sangue e o suor do povo brasileiro
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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