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Lydia Medeiros
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Governo Lula
19/9/2025 10:00
Lula escolheu uma estratégia arriscada para governos sem maioria parlamentar - enfrentar o Congresso. Depois da crise em torno da aprovação do IOF, em junho, a campanha nas redes sociais com o mote do "nós contra eles", ou #inimigosdopovo, fez sucesso e elevou a popularidade do presidente, que declinava. Lula apostou na antipolítica, que tanto criticou, mas não calculou o preço do conflito.
O presidente ganhou fôlego renovado com as sanções de Donald Trump ao Brasil, que isolaram o bolsonarismo, num falso clima de "união nacional". As relações com o Congresso, no entanto, são instáveis, movidas a desconfiança mútua. Isso ficou evidente nesta semana, quando o presidente da Câmara, Hugo Motta, esperava o apoio dos partidos do governo à aprovação da PEC da blindagem, o que acertara com Lula. Em troca, trataria de enterrar a ideia de uma anistia ampla aos condenados pela tentativa de golpe do 8 de janeiro, defendida pelos bolsonaristas. Deu errado.
A PEC da Blindagem foi aprovada com apoio de 12 petistas e outros aliados - além de manobras regimentais questionáveis para assegurar o voto secreto na autorização de abertura de processos contra parlamentares. Mas o discurso público do PT e do governo foi condenar a votação. Motta foi em frente. Colocou em pauta e aprovou com folga a urgência para a votação de um projeto de anistia que sequer é conhecido. O futuro da proposta está em negociação na Câmara, com o deputado Paulinho da Força no papel de relator, ou redator, porque o texto ainda não existe.
No Senado, a tendência hoje é de barrar os projetos - blindagem dos parlamentares e anistia ampla. É cedo para dizer que o Congresso não tomará qualquer medida em favor dos golpistas condenados, mas as relações com o governo ficaram ainda mais abaladas, e a previsibilidade, muito reduzida. Ao ponto do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, um aliado do Planalto, ter distribuído críticas a bolsonaristas e governistas.
Lula é hoje o favorito para a disputa ao Planalto de 2026, de acordo com as pesquisas. Segundo a Quaest, venceria sua sétima eleição presidencial em qualquer cenário de segundo turno. Mesmo com todas as rusgas com o Parlamento, vem aprovando os projetos essenciais à reeleição e que garantem um caixa robusto para gastar no ano que vem - ainda que as finanças públicas de 2027 estejam seriamente comprometidas, como admite o próprio governo. Além de programas sociais, aprovou medidas que abriram espaço no Orçamento sem comprometer as regras fiscais.
O principal projeto, a isenção de Imposto de Renda para ganhos até R$ 5 mil, está nas mãos de Arthur Lira, expoente do Centrão e visto pelos deputados como o presidente de fato da Câmara. O projeto tem apelo eleitoral e deverá ser aprovado. O custo é que pode subir - Lira está segurando o projeto há semanas, sob pretexto de refazer os cálculos do governo. Lula não tem qualquer controle sobre o bloco, como ficou claro nas votações desta semana. É refém desses partidos desde que optou por negociar com Lira, antes da posse, para que o então presidente da Câmara articulasse a aprovação da PEC da transição - cerca de R$ 150 bilhões.
Ao confiar num discurso antipolítico e se submeter ao Centrão, Lula seguirá navegando na incerteza até o fim do mandato. Um cenário agravado pela total imprevisibilidade do governo Trump, cujas decisões mal começaram a mostrar seus efeitos econômicos no Brasil. Por enquanto, as sondagens são favoráveis ao presidente, mas o risco político vai aumentar com o andamento da campanha eleitoral.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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