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Trump e a direita radical ideológica (parte 1)

Ricardo de João Braga

Ricardo de João Braga

1/11/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 16:46

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Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019. Foto: Shealah Craighead/White House Photo via Flickr

Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019. Foto: Shealah Craighead/White House Photo via Flickr

Nos anos recentes muitas discussões jornalísticas e acadêmicas buscaram compreender a ascensão do movimento político de direita radical e ideológica que ganhou amplo espaço mundo afora. Fascismo, populismo, nacional-populismo, radicalismo de direita (eu prefiro aqui o tratamento mais neutro de direita radical ideológica) foram termos utilizados no trato de fenômenos como as vitórias eleitorais e os governos de Donald Trump (EUA), Jair Bolsonaro (Brasil), Viktor Orbán (Hungria), Matteo Salvini (Itália), Jaroslaw Kaczynski (Polônia) e a ascensão de partidos como o Alternativa para Alemanha, Frente Nacional (França), o Movimento Cinco Estrelas (Itália) e o Partido da Liberdade (Áustria), entre outros. >Trump e a direita radical ideológica (parte 2)

Devido à novidade do fenômeno, a reflexão tem se focado sobretudo nas causas da ascensão da direita radical ideológica. Todo o sucesso em conquistar o governo via eleições e o risco que o movimento trouxe para a sustentabilidade da democracia foram aprofundados de forma interessante, rica e importante. Contudo, uma lacuna (talvez apenas desconhecimento deste autor) ainda permanece, qual seja, a discussão de como, após conquistado o poder, esse grupo efetivamente governa.

A eleição presidencial norte-americana, na qual Trump passará por praticamente um plebiscito, ilumina este ponto ainda obscuro da engrenagem do poder. Afinal, como se diz na fórmula maquiavélica clássica, o político deve atuar com vistas à conquista e à manutenção do poder, e Trump agora submete-se ao teste da manutenção.

Embora o presidente norte-americano repise suas estratégias comunicativas que o levaram ao sucesso na eleição de 2016, o elemento "governo" vai também a julgamento na próxima quarta-feira. Será que um governo de direita radical ideológica conseguiu fazer a "América grande de novo"? Ou foram apenas promessas de campanha?

Obras de referência

Hoje, falaremos das causas que levaram esses movimentos a "chegar lá". Amanhã, na parte 2, avançaremos sobre as expectativas e as entregas desses governos, com ênfase no Brasil.

Quem tiver interesse em se aprofundar no assunto tem já rica reflexão disponível. Yascha Mounk, O povo contra a democracia (Companhia das Letras); Giuliano da Empoli, Os engenheiros do caos (Vestígio); Roger Eatwell e Matthew Goodwin, Nacional-populismo (Record); Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, Como as democracias morrem (Zahar);  Benjamin R. Teitelbaum, War for eternity (Dey St.); Marcos Nobre, Ponto final (Todavia), e Esther Solano, com vários trabalhos disponíveis na internet, ajudam a compreender o fenômeno para além dos chavões e discursos de combate partidário. Aqui eles são nossa principal referência.

A economia e o medo do futuro

Os movimentos de direita radical ideológica não foram simples acidentes ou apenas uma jogada fortuita de gente ruim ou mal-intencionada. Acidentes de percurso, como as estreitas margens de vitória de Trump em vários estados dos EUA e a facada em Bolsonaro, contam, mas há questões de fundo que produzem condições propícias para a ascensão da direita radical ideológica. Os problemas sobre os quais essas propostas políticas ergueram-se precisam ser compreendidos e atacados. De fato, concordemos ou não, Trumps e Bolsonaros venderam-se como soluções para problemas. E venceram eleições.

A ascensão da direita radical ideológica deve-se, sem apontar uma hierarquia de importância, aos crescentes riscos econômicos que as famílias vêm sofrendo nas últimas décadas, o que causa uma espraiada sensação de insegurança. Tal movimento tem direta relação com o fim da era de ouro do capitalismo pós-guerra e a ascensão do neoliberalismo a partir dos anos 1970, o qual fragilizou as estruturas de solidariedade pública mundo afora.

Relacionada ao ponto anterior, há uma crescente e espraiada sensação de fracasso da sociedade, sobretudo entre aqueles mais negativamente atingidos pelas mudanças na economia e na cultura - englobadas no conceito aqui catártico de globalização. Esses veem a sociedade em degradação. Por um lado, tais grupos ostentam expectativas negativas quanto à própria vida futura assim como para a próxima geração. Por outro, a ideia de corrupção ganha seu mais largo uso: não é apenas apropriação privada de recursos públicos, mas sim a corrupção em sentido religioso ou fisiológico, o decaimento de um corpo, de um ser, de uma instituição, a corrupção da sociedade humana.

Importante destacar, os temerosos da corrupção não são majoritariamente os mais pobres e os desempregados. O principal grupo de apoio aos movimentos de direita constitui-se daqueles que têm condições razoáveis de vida e temem intensamente perdê-las, em geral pessoas com baixa ou mediana escolaridade.

A questão étnica

Elemento importante, sobretudo para as sociedades centrais e mais ricas, são as profundas mudanças étnicas do tempo recente.

Elas são vistas como perigosas a valores e identidades nacionais, à história comum do povo, um ataque às crenças de passado e vida compartilhada. Como apontam Eatwell e Goodwin, não se trata simplesmente de racismo. Há racistas que apoiam a direita radical ideológica, mas há um outro contingente amplo de apoiadores que não se considera  racista e não pode ser enquadrado em seus padrões.

Trata-se de gente preocupada, legitimamente para os autores, em defender os padrões que estruturaram sua sociedade, cidadãos que se fazem perguntas como: o imigrante recém-chegado deve ter os mesmos direitos e receber os mesmos benefícios sociais de quem paga impostos há muito tempo? Também nesse contexto afloram os inimigos, reais ou imaginários. É um caldo cultural, entrelaçando narrativas.

Redes sociais de ódio

Outro componente são os novos canais de descontentamento, especificamente do fluxo de raiva. Da Empoli enfatiza que a comunicação "de muitos para muitos" (nas palavras de Mounk) permitiu criar arenas no ambiente das redes sociais virtuais onde o ódio humano, que extravasa uma pletora de descontentamentos, passou a ser a energia dominante.

O declínio da Igreja Católica e dos partidos de massa de esquerda, ao longo dos últimos 200 anos, deixou órfã a expressão do ódio, pois não há mais instituições que garantam a redenção do mundo e assim aplaquem o desconforto do homem. Os movimentos políticos contestatórios apropriaram-se desse mecanismo.

As fake news, por exemplo, ganham espaço propício nesse mundo, onde não há controle e verificação externos das informações, e os produtores e receptores de teorias conspiratórias ganham oportunidade para se encontrarem e retroalimentarem.

Crise de representação

Um último ponto, por fim, remete à crise da representação democrática e dos governos. É inegável que os sistemas políticos democráticos não atendem as expectativas da maioria da população.

Como dito, o neoliberalismo diminuiu as condições para a sociedade atender suas necessidades de forma generalizada. Além disso, os políticos e as elites encontram-se cada vez mais distantes do cidadão comum devido à burocratização das instituições, à profissionalização da política e ao olhar ensimesmado do sistema político. As lealdades partidárias das décadas anteriores simplesmente "sumiram", e o cidadão desconfia do sistema político.

No caso brasileiro, parêntesis importantes, o disparate do encastelamento do sistema político choca ainda mais. Citem-se apenas as "não-cassações" mais absurdas, pois todo dinheiro escondido, todo comportamento imoral e ilegal encontra explicação e guarida no corporativismo dos políticos eleitos. "Noves fora" os serviços públicos medíocres e a economia débil...

A direita radical ideológica

A direita radical ideológica ataca instituições e regras da democracia liberal representativa, mas acalenta imagens da democracia direta, sob a lógica de que o povo deve "reconquistar" seu direito de autogovernar-se.

Como fica claro sobretudo nas obras de Mounk e Levitsky & Ziblatt, a lógica da direita promete mas não entrega, pois não se conhece democracia liberal representativa que sucumba e transforme-se em democracia direta. Ao contrário, o caminho proposto pela direita radical é a autocracia.

Contudo, a força propulsora da democracia é uma imagem presente nos movimentos radicais ideológicos de direita - o discurso é dar poder ao povo comum, e isso move as pessoas.

A direita radical ideológica não é formada por homens maus que tomaram o poder dos homens bons. A conclusão responsável aponta que o sistema político, social e econômico hoje em vigor apresenta profundos problemas, e que há um descontentamento legítimo na sociedade.

Se está sendo mal atendido pela direita radical ideológica, muitos creem que sim, este autor inclusive, mas o problema é real e não há caminhos simples para sua superação.

A conquista do poder pela direita radical ideológica demonstra, antes de tudo, que mudanças profundas são necessárias, e a alternativa aos Trumps e Bolsonaros de plantão ainda precisa ser criada, pois uma volta ao passado não é solução.

* Ricardo de João Braga, economista e doutor em Ciência Política, é coautor do Farol Político, análise semanal de cenários produzida pela Unidade de Inteligência do Congresso em Foco.

Veja também, do mesmo autor:

> Trump, Bolsonaro e a autocrítica que a esquerda precisa fazer > Bolsonaro e a requalificação de governos passados

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