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Ricardo de João Braga
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Bússola moral
13/8/2025 16:00
Em tempos de turbulência colossal, quando as ideias voam, a verdade rola pelo chão, pregadores sobem em qualquer palanque sob o Sol e roubam os fiéis no escuro da noite, quando tememos a conversa com o vizinho, o que o outro diz na fila do supermercado, em que a violência é exaltada, o consumismo tornou-se o valor maior da vida, em que tudo se negocia, se renega e se trai, em que a vida fluiu para dentro de uma tela e lá se estiola, a política alimenta-se em benefício próprio do desgoverno pessoal do eleitor. Diante disso é preciso que cada um resgate sua bússola moral.
Assusta-me ver que pessoas educadas, informadas, hoje preocupam-se muito, e tão somente, com moralidade e segurança pública. Miram a novela apologética, o cerceamento do politicamente correto, o terror da mudança de sexo. E acuados em seus valores ainda mais se fecham pelo medo do crime. Pensam como quem foge, vivem como quem se esconde. E tudo precisa soar legítimo. Assim, buscam a boca de um porta-voz capaz de apresentar ao mundo seu mal-estar.
Se tentasse julgar os outros pelos seus mal-estares cairia eu em incoerência, pois também os carrego. O mundo não é exatamente da forma como eu queria que fosse. Gostaria que tivesse mais disso, menos daquilo... O que eu posso analisar, entretanto, é a relação entre o mal-estar sentido e as soluções pregadas.
Nos últimos tempos dediquei parcela de minha energia a estudar e tentar entender a ascensão da extrema-direita. Há uma miríade de manifestações, desde libertários que aceitam criar um mercado de crianças em que alguém pode vender legitimamente seu filho pelo melhor lance, até os fundamentalistas religiosos da família tradicional. Desde os que gostariam que não existisse estado até aqueles que os desejam levantando muros nas fronteiras, atirando em imigrantes e construindo abrigos para salvar os últimos remanescentes da raça pura.
O que os unifica, contudo, é o profundo sentimento anti-igualitário que carregam. Para a extrema-direita as pessoas são desiguais e essa desigualdade não deve ser combatida, mas sim promovida. Cabe deixar muito claro que em 100% dos casos a desigualdade sempre favorece o falante, seja ele um desigual por ser homem, por ser branco, por ser da nacionalidade tal ou qual, da religião X ou Y. O mundo é desigual e não por coincidência o melhor lugar nessa classificação fica para o pregador da ideologia.
Se você sente mal-estar pelo mundo de hoje, cuidado ao aceitar as soluções. Se elas constroem um mundo desigual, isso é extrema-direita. Se você quer excluir alguém pelo seu gênero, pela sua orientação sexual, pela sua crença, pela sua cor, pela sua nacionalidade, pelos seus ancestrais, você é um desigualitário. E se você é um desigualitário, uma verdadeira solidariedade, uma verdadeira fraternidade lhe é impossível. Se alguém lhe vender exclusão em nome de alguma religião, atente que essa religião pode ser tudo, menos solidária, menos fraterna, e neste caso afirmar que seja cristã exige uma flexibilidade mental bastante exagerada.
Vende-se muita desigualdade hoje em dia. O truque consiste em lhe fazer acreditar que você estará sempre do lado positivamente privilegiado. Que nunca você sofrerá por ser minoria, por estar excluído. Os pregadores dessa solução atuam como equilibristas que buscam contentar um auditório sempre em ebulição. Quando a exclusão atinge um seguidor, a culpa é do atingido, não do sistema. E assim perpetuam-se...
Cuidado! Navegar no mundo de hoje exige uma bússola moral muito forte. As tentações abundam e vêm embaladas em mentiras doces. Mas se você pretende ser humano, não caia nas fraudes. O caminho fica mais difícil, mas sua escolha responderá claramente qual é a sua verdade.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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