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9/7/2019 | Atualizado 10/10/2021 às 15:52
Com "média" tendência pró-ambientalista foram considerados outros 17 (21%) senadores. Portanto, 32 senadores (40% do total) seriam tendentes a apoiar propostas com viés socioambiental. Número superior ao potencial máximo da bancada socioambiental identificada na Câmara (33%). Mas suficiente para influenciar em votações polêmicas ou adversas, e sobretudo para coibir retrocessos socioambientais constitucionais (PECs).
Identificamos 33 senadores (40%) clara ou tendencialmente alinhados com posicionamentos "não-ambientalistas"[5] e outros 16 senadores (20%), sem tendência identificada.
Indicativos complementares de tendência(s)
Os membros signatários da Frente Parlamentar Mista Ambientalista[6] no Senado são nove: Elmano Ferrer (Podemos-PI), Fabiano Contarato (Rede-ES), Humberto Costa (PT-PE), Izalci Lucas (PSDB-DF), Paulo Rocha (PT-PA), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Eliziane Gama (Podemos-MA), Flávio Arns (Rede-PR) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
A Frente Parlamentar Agropecuária no Senado nesta legislatura conta com 36 parlamentares signatários (sete dos quais estão identificados com potencial alinhamento socioambiental)[7].
Merece destaque a ampla adesão à iniciativa do presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Fabiano Contarato, de instalação do Junho Verde, que propôs um calendário com atividades ambientais no Senado, inclusive com a perspectiva de proposição e aprovação de iniciativas legislativas socioambientais. Essa iniciativa contou com assinatura de outros 34 senadores[8].
Doze[9] senadores da atual legislatura assinaram a proposta da PEC 13/2015[10], que altera o art. 5º da Constituição Federal, para nele inserir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Tal medida reforça a tese constitucional da "proibição de retrocesso em matéria socioambiental", pois, pela doutrina constitucional e jurisprudência em ascensão no STF, ela se aplica aos direitos considerados "Fundamentais" (cláusula pétrea constitucional) arrolados no artigo 5º.
Dos 12 senadores que assinaram a PEC 13/2015, que eleva o meio ambiente ecologicamente equilibrado ao patamar de direito fundamental, e dos 35 que assinaram a proposta de Resolução que cria o Junho Verde no Senado, oito[11] assinaram a PEC 80/2019[12], de autoria do senador Flávio Bolsonaro que enfraquece o conceito de função social da propriedade, pilar fundamental de todo Direito Ambiental.
Diante do exposto nos parece que:
1 - Há ambiente no Senado relativamente melhor do que na Câmara para debates e, dependendo do contexto e proposta, aprovação de novas iniciativas legais de caráter socioambiental, inclusive que aumentem o enforcement.
2 - Há ambiente relativamente mais favorável no Senado (do que na Câmara) para bloqueio ou mitigação de ameaças mais graves de retrocesso à legislação socioambiental.
3 - Há ambiente bem mais favorável no Senado do que na Câmara para a aprovação de medidas que valorizem ou incentivem políticas públicas ou atividades econômicas sustentáveis privadas ou até mesmo que reforcem o controle de atividades ilegais que afetem o meio ambiente;
4 - Para rejeitar propostas de alteração na constituição (PEC) contrárias às conquistas e direitos socioambientais, é preciso conquistar, pelo menos, mais 18 votos, dentro da própria base potencialmente ambientalista (considerando uma votação com quórum de 100% no Plenário nas duas votações).
5 - Para aprovação de proposta de emenda constitucional será necessário conquistar todos os votos dos potenciais aliados (15+17 = 32) e pelo menos mais 15 dentre os ainda indefinidos, ou converter votos dos caracterizados como não-ambientalistas.
Ponderações finais
Essa análise de tendências obviamente corresponde à leitura de um momento específico no Senado que teve uma grande renovação nas eleições de 2018. No total, das 54 vagas abertas este ano, 46 são ocupadas por novos nomes - renovação de mais de 85%[13]. Portanto, essa análise de tendências deve ser ponderada por um conjunto de fatores de ordem conjuntural (temperatura e pressão do momento) e as idiossincrasias do parlamento, além obviamente do mérito (complexidade, gravidade, clareza, relevância e controvérsia) das matérias.
O Senado terá desafios importantes no campo socioambiental no próximo semestre que poderão confirmar (ou não) as tendências aqui apontadas. Dentre essas iniciativas importantes destaco o recebimento, após a provável aprovação na Câmara dos Deputados ainda no início do próximo semestre, do Projeto de Lei Geral de Licenciamento Ambiental (PL 3729 de 2004). Trata-se de um dos principais instrumentos de controle e gestão ambiental, foco de muita pressão e interesse da bancada ruralista e do próprio governo federal, que infelizmente o considera como um obstáculo ao desenvolvimento econômico do País. Será com certeza o principal debate ambiental desta legislatura e merece toda nossa atenção.
Mas também tramitam projetos que apontam retrocessos inaceitáveis bem preocupantes como o projeto de lei dos senadores Flávio Bolsonaro e Marcio Bittar (PL 2362 de 2019) que propõe o fim da figura da Reserva Legal florestal nos imóveis rurais e que pode, se aprovado, colocar em risco de desmatamento mais de 167 milhões de hectares de vegetação nativa em todos os Biomas do Brasil[14]. Outra iniciativa que merecerá atenção é a PEC 80/2019[15], de Flávio Bolsonaro, que reduz a força do conceito de função social da propriedade rural.
Também merece destaque a iniciativa do presidente da Comissão de Meio Ambiente, Fabiano Contarato, de adotar como foco prioritário de fiscalização do colegiado este ano a adoção da Política de Clima e do Acordo de Paris, com a perspectiva de realização de um evento de avaliação na COP do Clima no Chile, no final do ano.
Essa avaliação ganha uma importância ainda maior agora que a União Europeia assinou o acordo com o Mercosul e estabeleceu ressalvas e condicionantes relativas à permanência do Brasil no Acordo de Paris e ao esforço de cumprimento das metas. A efetividade de iniciativas como essa é que vão consolidar o papel de racionalidade e equilíbrio que o Senado pode exercer em face das graves ameaças e retrocessos que vem sendo promovidos pelo governo federal.
[1] Advocacy é aqui compreendido "como o processo organizado e planejado de informar e influenciar tomadores de decisão, por meio de conscientização e engajamento de outros atores da sociedade, tendo como objetivo promover mudança (ou manutenção) de uma política pública de interesse amplo, baseada em evidências concretas." Veja artigo em: http://www.cause.net.br/ainda-e-necessario-esclarecer-conceitos-lobby-x-advocacy/
[2] https://www.congressoemfoco.com.br/eleicoes/movimentos-de-renovacao-politica-elegem-mais-de-30-deputados-e-senadores/
[3] https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/05/29/mp-que-altera-codigo-florestal-perdera-validade-diz-davi-alcolumbre
[4] http://bit.ly/SenadoAcordoCodigoFlorestal
[5] Consideramos tendência "não-ambientalista" o apoio a medidas de flexibilização em leis, padrões, programas ou políticas de controle ambiental, nem sempre por propósito anti-ambiental, mas um posicionamento mais "liberal", "desenvolvimentista", contra burocratização, supostamente por maior eficiência na gestão pública.
[6] https://www.camara.leg.br/internet/deputado/frenteDetalhe.asp?id=54012
[7] https://www.camara.leg.br/internet/deputado/frenteDetalhe.asp?id=53910
[8] Vejam a lista completa de adesão de senadores no link https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/137065.
[9] São eles: Roberto Rocha (PSB-MA), Antonio Anastasia (PSDB-MG), Dário Berger (MDB-SC), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Elmano Férrer (PTB-PI), Humberto Costa (PT-PE), Maria do Carmo Alves (DEM-SE), Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Randolfe Rodrigues (Psol-AP), Reguffe (sem partido-DF), Sérgio Petecão (PSD-AC).
[10] https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/119756
[11] São eles os senadores Otto Alencar (PSD-BA), Alvaro Dias (Podemos-PR), Antonio Anastasia (PSDB-MG), Styvenson Valentim (Podemos-RN), Elmano Ferrer (Podemos-PI), Jorge Kajuru (PSB-GO), Roberto Rocha (PSDB-MA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).
[12] https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/136894
[13] https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/10/08/eleicoes-senado-tem-a-maior-renovacao-da-sua-historia
[14] https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/04/23/projeto-acaba-com-a-reserva-florestal-obrigatoria-em-propriedades-rurais
[15] https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/136894
> O desmonte ambiental na CâmaraTags
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