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Paulo José Cunha
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14/9/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 16:57
Pois chegamos a um ponto de saturação dos diagnósticos sobre Bolsonaro. Já sabemos tudo de ruim sobre ele. E com fartura de provas. Racista, homofóbico, desonesto (ele e a família), violento, defensor da tortura e um monte de etcetera. Só que esse tipo de análise não é capaz de fazer cócegas em qualquer um de seus apoiadores. Nem de sensibilizar os que ainda estão indecisos. Para os primeiros, tudo o que se diz contra Bolsonaro é mentira de comunistas que não querem deixar o homem trabalhar. E para os indecisos, tudo não passa de um discurso cansativo que não tem poder algum para fazer frente à avassaladora avalanche de informações pró-Bolsonaro que correm pelas redes sociais.
O aparelhamento do estado
A ninguém têm passado despercebidas as ações bolsonaristas de aparelhamento do estado. Na frente ambiental, o desmonte ou ações de descrédito de instituições como o CMBIOS, FUNAI, INCRA e INPE mostra claramente de que lado o governo está. E a quem serve.
A Saúde, em plena pandemia, foi entregue a um monte de militares desqualificados para as funções. Quanto mais para enfrentar uma doença que desafia a ciência e os governos de todo o mundo. Na Educação, não é preciso dizer coisa alguma, basta ver a fumaça fedorenta do desastre deixado pelos dois ministros que antecederam o atual, que não só não se iguala aos antecessores porque até hoje não disse a que veio.
No judiciário, como bem aponta o blogueiro Edmar Oliveira no artigo "Tá tudo dominado", Bolsonaro "acena com nomeações e favorece juízes sem escrúpulo", a ponto de um juiz desconhecido proibir a todo-poderosa Rede Globo de dar qualquer notícia sobre o processo contra o filho Flávio Bolsonaro pelas "rachadinhas". E fica tudo por isso mesmo.
Há mil formas de populismo. Bolsonaro prefere todas.
Quase mil anos antes de Cristo, Salomão, o rei, reservava um dia da semana para fazer concessões ao populismo resolvendo pendências de família e perdoando dívidas. Ou seja: populismo é praga antiga.
Jânio Quadros mandava salpicarem polvilho no paletó para parecer que tinha caspa, uma dermatite "do povo". Amazonino Mendes (AM) comia jaraqui com farinha nas casas dos pescadores pobres. Torquato Neto dizia que "há mil formas de fazer e de cantar músicas. Gilberto Gil prefere todas". Para garantir a decolagem rumo ao segundo mandato, Bolsonaro faz a mesma coisa, só que em relação ao populismo.
Usa todo o arsenal disponível. Ignora as recomendações de distanciamento social e posa ao lado de apoiadores. Coloca crianças no colo. Usa chapéu de nordestino. Come hot dog na rua. Muda o nome do Bolsa-Família para Renda Brasil. Faz o diabo para parecer que é gente "do povão". E tem obtido bons resultados. Muito bons. Saiu das cordas e, só com a elevação oportuna do auxílio emergencial dos R$ 200 originais para R$ 600, alavancou uma boa subida na popularidade, porque o povo brasileiro ainda confunde dinheiro público com doação pessoal. "Foi Bolsonaro quem me deu, eita hôme bom!".
A oposição, que não pode fazer nem recomendar nada parecido, apenas observa e xinga. Falta alguém para dizer, como o poeta Turiba escreveu quando o roqueiro Sting andava pela Amazônia com o índio Raoni. "Ou a gente se raoni ou a gente se sting". Se a falta de visão e de espírito cívico dos líderes da esquerda e centro-esquerda para construir uma alternativa viável contra Bolsonaro pode custar a perda de uma eleição, para os brasileiros o risco é um pouco maior. O risco é perder um país inteiro para uma aventura autoritária que pode nos levar sabe-se lá para onde. A última aventura dessas durou 21 anos e um sem número de desaparecidos, torturados e mortos.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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