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14/11/2005 | Atualizado 25/11/2005 às 9:13

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Ricardo Ramos

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), 64 anos, não altera o tom pausado de voz nem o jeito mineiro, de Juiz de Fora, quando dispara suas críticas. Com fala mansa, afirma: "Acho que Lula não assumiu a responsabilidade, porque essas coisas não escaparam completamente do controle dele. Ele sabe muito bem como foram feitas todas as alianças. Ele esteve presente em cada uma, sancionou cada uma, chancelou cada retribuição. E, na verdade, ele é o responsável pelos crimes".

Para Gabeira, militante das causas ambientais com duas passagens pelo PT, é "impossível" que Lula não soubesse dos repasses de recursos para o PTB, PP e PL. "É mentira", declara, apelando para a lógica. "Como é que ele ia fazer as negociações políticas sem saber que elas estavam respaldadas por um instrumento financeiro?".

Na sua opinião, se os líderes de partidos da base do governo revelassem quem recebeu o dinheiro do mensalão, as cassações no Congresso poderiam atingir até 150 parlamentares. Mas, prevê, o ex-ministro José Dirceu não escapará. Gabeira acredita que ele será cassado por cometer o pecado da arrogância. "Isso é imperdoável aqui no Congresso. E acho que vai influenciar negativamente na decisão", diz.

Apesar da crise política, o deputado vê "provas de maturidade democrática". "Nós tivemos denúncias muito sérias de corrupção, nós temos uma situação de instabilidade muito grande e, no entanto, essas denúncias e essa instabilidade estão sendo tratadas dentro do contexto da democracia", avalia. Gabeira ressalta o papel da internet como difusor de notícias e da participação política dos cidadãos. "A internet será o veículo dos veículos. E todos terão de utilizá-la para ficar mais bem informados", acredita.

Jornalista e escritor, Gabeira abandonou as redações, nos anos 60, para ingressar na luta armada contra a ditadura militar, luta que lhe rendeu dez anos de exílio após participar do seqüestro do embaixador norte-americano, Charles Elbrick. Após a anistia, escandalizou a esquerda brasileira com uma tanga de crochê e a defesa de uma radical revisão dos conceitos e práticas marxistas.

Respeitado na oposição e no governo por sua independência e seriedade, sustenta agora que a crise política embaralhou ainda mais polarizações como esquerda X direita ou conservador X progressista. "Perdemos a confiança não só no PT , como no PSDB também", comenta ele.

Segue sua entrevista ao Congresso em Foco.

Congresso em Foco - Desde a redemocratização, o PT tornou-se o principal pólo aglutinador da esquerda. Com o governo Lula, que preferiu alianças pragmáticas e o mensalão, a esquerda do país ficou órfã?
Fernando Gabeira
- Criou-se uma situação em que talvez não seja necessária a aglutinação só à esquerda. Há um leque de oportunidades de aglutinar no centro e às vezes até com setores da direita, dependendo das circunstâncias. Eu acho que a idéia de aglutinar em torno de um grande partido da esquerda é muito baseada numa concepção que considerava a classe operária como a líder do processo de transformação. Uma concepção que atribuía à classe operária um padrão messiânico, de demiurgo da história. Isso não só caiu com o muro de Berlim lá, mas caiu com o nosso muro de Berlim aqui. Então, acho que as possibilidades de adesão ficaram muito amplas. Não passam necessariamente por uma aglutinação em torno de um partido de esquerda, com os melhores partidos de esquerda, sobretudo porque o maior partido de esquerda se demonstrou com uma prática parecida com a dos partidos de direita.

Mas, de certo modo, o senhor se sente desconfortável de ter que fazer oposição a Lula ao lado do PSDB, PFL, por exemplo?
Sem dúvida, não é uma posição confortável. Tenho muitos amigos que estão ainda no PT, há muitos temas comuns que nós partilhamos. No entanto, considero que é o meu dever. E às vezes você realiza um dever independentemente de estar ou não incomodado. Acho que é o meu dever denunciar o que o PT representou. E o que me incomoda também é o fato de eles terem adotado um estilo típico da direita, o de desmentir tudo. Um cinismo completo. Incomoda-me porque fazer oposição contra a direita era mais fácil. Você tratar com o (ex-prefeito paulistano Paulo) Maluf era mais fácil. Agora, com eles, é mais difícil.

Em que a oposição do PV, do PDT e do PPS, partidos ditos independentes, difere da oposição do PSDB e do PFL?
Esse tipo de oposição não pode ser determinado claramente, porque só aparece em certos casos. Então, há momentos em que a oposição chamada conservadora decide pela obstrução, mas nós decidimos continuar votando. Há momentos em que elas votam contra o governo e nós votamos a favor. Depende muito. Essa distinção é difícil de ser feita porque quando há um caso comum, como aquele do Severino (Cavalcanti, ex-presidente da Câmara), nós estivemos juntos. Quando há um esforço comum, como por exemplo a necessidade de investigação, nós estivemos juntos. Eu acho que uma divisão talvez fique mais clara nas eleições. Aí a necessidade de diferenciação é mais evidente.

Quem o senhor deve apoiar nas eleições de 2006?
O espectro mostra que haverá um candidato do PT, certamente apoiado pelo PCdoB, vai ter um candidato do PSDB, apoiado pelos seus aliados, e talvez um espaço grande para a terceira via. Eu acho muito cedo ainda para dizer como esse espaço será preenchido, se for preenchido. Existe a possibilidade de não ser e existe a possibilidade de os dois pólos mais fortes se aproximarem dele com alguma proposta de coalizão. Então, no momento, a situação é muito incerta, se tivermos que fazer uma análise.

Quem seriam os possíveis candidatos dessa terceira via? Garotinho?
Eu não considero o Garotinho terceira via. A característica do candidato da terceira via seria representar uma oposição que não é a do PSDB, que foi derrotada em 2002, e nem a do PT, que foi de certa forma traída em 2002. Esse espaço que talvez possa não ser necessariamente cumprido por um político convencional. Pode haver a possibilidade de surgir aí alguém da sociedade que preencha esse espaço.

A história política brasileira mostra que, em momentos de crise, a tendência é a oposição conservadora vencer sobre a oposição tradicional...
Eu acho difícil dizer isso. Acho difícil você dizer hoje o que é uma oposição mais conservadora, uma oposição mais progressista. Esses termos foram muito embaralhados. O PT sempre se disse progressista, mas na verdade foi conservador em vários campos. Conservador na visão política do Estado, conservador na maneira como explora o Estado, na maneira como desviou o dinheiro do Estado, na política econômica. A visão de conservador e progressista é uma visão difícil de qualificar um ou outro. Acho que vai haver essa polarização capitaneada por dois partidos de centro-esquerda e que são do estado de São Paulo. Agora, como vão se ajuntar os aliados, não sei ainda.

O presidente Lula é verdadeiro ao dizer que não sabia do mensalão?
Não, ele não foi verdadeiro. Ele procurou utilizar os argumentos que o defendam, que defendam o PT da melhor forma possível. Ele está fazendo uma experiência de como ele poderia ser candidato à presidência na reeleição e de como ele trataria esses temas. Então, está fazendo um vestibular de candidato. E no vestibular de candidato de uma pessoa tão experiente como o Lula, ele vai ter que enfrentar acusações, vai ter que se defender de situações anteriores. E ele está fazendo esse aprendizado. Está vendo quais as mentiras que funcionam e quais não.

O senhor acredita que ele já assumiu a responsabilidade pela crise ou ainda falta se pronunciar?
Assumir a responsabilidade não significa dizer abstratamente que a responsabilidade é do presidente. Assumir a responsabilidade seria ele dizer onde estava em cada momento. O porquê de não ter visto aquilo ou quais são as causas históricas que levaram àquilo. E quais são as garantias de que não vai acontecer de novo. Então, a expressão assumir a responsabilidade tem uma dimensão infinitamente maior do que uma entrevista como aquela (no Roda Viva, na última segunda-feira), para jornalistas que não são necessariamente adversários, que não tinham poder de veto, num contexto horroroso, numa imagem horrorosa. Então, a entrevista dele, do ponto de vista televisivo, é um coisa de mandar o diretor para a Sibéria.

Então ele não assumiu?
Acho que não, porque essas coisas não escaparam completamente do controle. Ele sabe muito bem como foram feitas todas as alianças. Ele esteve presente em cada uma, sancionou cada uma, chancelou cada retribuição. E, na verdade, ele é o responsável pelos crimes.

Então dizer que ele não sabia é uma bravata?
É mentira. Como é que ele não sabia que estava sendo repassado dinheiro para o PTB, o PP e o PL? Isso é impossível que ele não soubesse. Como é que ele ia fazer as negociações políticas sem saber que elas estavam respaldadas por um instrumento financeiro? Ele ia se sentir traído (se não soubesse).

O senhor acredita em acordo para cassar Dirceu?
Eu acho que ele vai ser cassado. E acho que com uma votação bastante tranqüila. Acho que existe um pecado que ele cometeu, talvez maior que é a própria corrupção, que foi o pecado da arrogância. Isso é imperdoável aqui no Congresso. E acho que vai influenciar negativamente na decisão.

E quanto aos outros processos de cassação, há algum acordo?
Acho que não existe esse acordo. Mas acho que o número de cassados não será tão grande quanto poderia ser por duas razões. Primeiro porque, sobre alguns, não há indicações precisas. Pode ser que escapem um ou dois nesse processo. E, em segundo lugar, muita gente quer esse acordo porque está na mão dos líderes. E os líderes não revelam (essas pessoas). Se revelassem, os processos de cassação chegariam a cerca de 150 pessoas. Chegaria, se soubéssemos, pelos líderes, quem recebeu o dinheiro.

A despeito da crise política, o senhor acha que o país melhorou com o governo Lula?
Não, eu não acho que tenha melhorado. Eu acho que o país está dando provas de maturidade democrática. Nós tivemos denúncias muito sérias de corrupção, nós temos uma situação de instabilidade muito grande e, no entanto, essas denúncias e essa instabilidade estão sendo tratadas dentro do contexto da democracia. Com instrumentos estritamente democráticos. Isso mostra que nós estamos avançando. Não somos um país com uma democracia totalmente consolidada, mas ao longo desses 200 anos nós temos avançado. Ele (o país) está no seu caminho. E eu acho que fazer a democracia avançar agora significa apurar tudo dentro da lei, punir de uma forma legal, dando direito de defesa, e estudar uma forma social de controlar um governo sob suspeita.

Os controles sociais são frágeis?
São. Nós dizemos que a sociedade teria que participar, através da internet, acompanhando todos os contratos, e através de uma pressão sobre o governo para que ele cumpra uma promessa que ele fez, mais ou menos timidamente, de retirar os cargos de confiança do PT e ficar apenas com aqueles que são essenciais para governar. Esse é um princípio que o PT disse que aceita, mas falta levá-lo para a prática.

E no campo social?
No campo social, houve algum avanço no combate ao trabalho escravo. Há um grande trabalho de assistência por meio do Bolsa-Família. Eu acho que esse é um programa interessante. Mas, no meu entender, quando você examina o orçamento do governo nos programas sociais, houve muita ênfase no assistencialismo e pouca ênfase no estímulo à produção e ao trabalho das pessoas. Um exemplo disso é que o governo concentrou todo o dinheiro no Bolsa-Família e praticamente não desenvolveu a Secretaria de Economia Solidária, que ia ajudar as pessoas, mas de uma forma que ela tivesse o seu trabalho. Não quero dizer que o governo abandonou totalmente o social, mas a ênfase no assistencialismo é muito clara.

Essa ênfase no assistencialismo poderia capitanear votos?
Constantemente, uma das coisas que mais fortalece o trabalho assistencialista é que a população entende que o dinheiro que ela recebe é dado pelo sujeito. No Rio de Janeiro, a governadora Rosinha fazia campanha dizendo: "Eu dei para vocês o almoço a R$ 1". Então, fica na cabeça das pessoas que o dinheiro público que foi utilizado nesse projeto foi um dinheiro que ele tirou do próprio bolso e deu. Cria-se para essas populações um vínculo de agradecimento com o candidato que resulta em voto. Eu acho que o presidente, independentemente do que ele faça, e olha que ele já fez muita coisa errada, ele continua com uma parte da confiança dessas pessoas.

A solução seria um programa para acabar com essa relação de dependência?
Nem seria um programa, mas sim a própria visão do governo. Ele teria que pôr em equilíbrio as verbas sociais que ele tem - o equilíbrio do assistencialismo com o estímulo para a pessoa encontrar seu próprio trabalho.

Após anos lutando contra a ditadura, de ser protagonista da derrocada do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti e ter que fazer oposição ao governo Lula, o senhor se sente frustrado com o jogo democrático?
Não. Acontece que nós perdemos, com a eleição do Lula, uma grande oportunidade para iniciar um processo de transformação no Brasil. E essa oportunidade se dá historicamente, entre outras coisas, quando há muita legitimidade no governo. Quando as pessoas que entram no governo desfrutam de uma confiança bastante grande. Isso aconteceu no processo de ascensão da Suécia. Não quero dizer que os líderes de lá sejam perfeitos, mas havia uma confiança. E o fato de termos perdido essa confiança, não só o PT como no PSDB também, o fato de haver essa crise de legitimidade me preocupa muito. Dificilmente um governo poderá avançar muito no Brasil se ele não tiver esse respaldo perante a população. Eu não estou descrente no jogo democrático, mas eu acho que, do ponto de vista desse jogo, o PT cometeu um erro muito grande. Nos fez atrasar um pouco mais porque nos fez pecar contra a única coisa que os uruguaios consideram crucial, que é contra a esperança.

O governo Lula e o PT têm criticado a cobertura que a imprensa faz da crise política. Como jornalista, o senhor considera essas críticas pertinentes?
Na verdade, a imprensa está cumprindo seu papel com muita dificuldade e com a língua de fora. Porque, quando a crise surgiu, a imprensa tinha dificuldades de cobrir atentamente vários setores do país. Ela vivia uma crise financeira. Cada vez mais as reportagens são caras e cada vez mais a imprensa é acuada de um lado pela televisão e de outro pela internet. Então ela fez um grande esforço de cobrir o que estava acontecendo, mas também estabelecer um elo com os leitores que ela havia perdido e também com os leitores que ela veio a conquistar.

O senhor considera que o governo e a mídia devem ampliar sua participação e transparência na internet?
Eu acho que eles já estão nesse espaço. Todos os jornais têm uma presença grande online (na internet) e todos eles sabem que a audiência na internet vai crescer mais do que a audiência de quem compra um jornal de papel na banca. No momento, vivemos uma revolução técnica que condiciona todos os outros meios. Então a internet não é apenas mais um meio. Ela é um meio que sintetiza tudo. Você tem texto, foto, pode colocar um programa de rádio, de televisão. E a televisão é o meio dos meios. E ela representa uma revolução extraordinária. Tanto que, desde 1994, eu me dedico à internet, como ativista político. Toda a minha prestação de contas está no meu site (www.gabeira.com.br), que vai virar até um portal na semana que vem. Então, acho que a internet será o veículo dos veículos. E todos terão de utilizá-la para ficar mais bem informados. 

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