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Congresso em Foco
23/9/2025 18:08
A tragédia de Ícaro é uma das lendas mais icônicas da mitologia grega. Ele era filho de Dédalo, artesão ateniense acusado de traição pelo rei de Creta, e aprisionado no labirinto que ele próprio construiu. A pena foi imposta sobre pai e filho, que passaram anos construindo lentamente o instrumento que os traria à salvação.
Dédalo reuniu as penas das aves que voavam sobre o labirinto para fazer dois grandes pares de asas, um para ele e outro para Ícaro. Chegado o dia da fuga, alertou o filho: as asas eram frágeis, e não suportariam um voo muito alto e nem muito baixo.
Com os dois longe da ilha e em rumo à Anatólia, Ícaro se empolgou e tentou encostar no sol. O calor derreteu a cera de suas asas, e Dédalo nada pôde fazer ao ver seu filho despencando dos céus enquanto batia os braços em vão rumo à morte certa.
A lenda de Dédalo e Ícaro deu nome ao Mar Icário, próximo ao litoral da Turquia, e se tornou uma metáfora para quem tenta ir longe demais na busca por um objetivo, expondo-se a riscos que não precisava e enfrentando graves consequências por suas ações. Nesta semana, Ícaro ganhou um novo nome no Brasil: Eduardo Bolsonaro.
O vôo
Afastado no país desde março para articular sanções nos Estados Unidos contra autoridades brasileiras envolvidas no julgamento de seu pai e pressionar a aprovação de uma anistia aos réus de 8 de janeiro de 2023, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) viveu sua semana de ouro no início da segunda quinzena de dezembro.
Duas pautas defendidas por ele avançaram significativamente no Congresso Nacional. A PEC da Blindagem, que proíbe ações penais e pedidos de prisão contra parlamentares sem o aval da respectiva Casa legislativa, foi aprovada na Câmara dos Deputados.
A anistia, exigida há mais de um ano por seu bloco, teve o requerimento de urgência aprovado. O governo americano ainda deixou uma verdadeira dor de cabeça ao governo Lula ao criar complicações para o visto do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Não bastasse o acúmulo de vitórias, Eduardo Bolsonaro ainda consolidou um acordo junto aos demais parlamentares de oposição para evitar que as faltas decorrentes de sua ausência no país pudessem resultar em cassação. Na terça-feira (16), ele foi anunciado como novo líder da minoria, ato que, uma vez oficializado, poderia permitir o exercício virtual de seu mandato.
A queda
A semana de vôos rumo ao sol durou pouco para Eduardo Bolsonaro. Em apenas dois dias, todo o seu trabalho se reverteu em uma pilha de derrotas, algumas delas pondo em risco a sua própria permanência no cargo.
A PEC da Blindagem não vingou: a proposta enfrenta séria resistência do Senado, onde a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) já possui maioria favorável à sua rejeição. A anistia perdeu forma: seu relator, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), antecipou que só é possível trabalhar com mudanças de dosimetria, com uma redução limitada da pena de 27 anos de prisão imposta a Jair Bolsonaro.
Não bastasse o revés sobre suas pautas, a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos lhe rendeu, na segunda-feira (22), uma denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República por coação no curso do processo. No dia seguinte, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados recebeu a representação do PT pedindo a perda de seu mandato.
Na esfera administrativa, as asas de Eduardo continuaram a derreter. Sua escolha para a liderança da minoria foi barrada pela Mesa Diretora da Câmara, que reforçou não ter autorizado a mudança do deputado aos Estados Unidos. Com isso, a contagem regressiva para uma possível cassação regimental continua.
Não bastasse a onda de azar em Brasília, Eduardo Bolsonaro sofreu uma derrota em solo americano. Durante a sessão de abertura da Assembleia-Geral da ONU, o presidente Donald Trump relatou ter se encontrado brevemente com o presidente Lula, sentido uma "excelente química" e estar disposto a negociar um acordo para encerrar o tarifaço.
As asas de Eduardo Bolsonaro começaram a derreter, mas a queda não é rumo ao mar, e sim a um desconhecido que será revelado apenas no andar dos próximos capítulos.
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