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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Marcio Rosa da Silva
14/2/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 17:29
Queremos uma sociedade em que haja o império da lei e da ordem. A ninguém que seja minimamente civilizado interessa o caos. Existe um grave problema, no entanto, quando se deseja o peso lei e da ordem para os outros e uma recusa em se submeter ao regramento a todos imposto. Parece que é o que foi visto nos episódios em que pessoas furaram a fila da vacinação.
Sem qualquer pudor, algumas pessoas, que não faziam parte dos grupos prioritários, deram um jeito de passar à frente dos que realmente precisavam. Também há notícia de que alguns líderes religiosos foram autuados realizando reuniões com muitas pessoas, mesmo onde havia decreto do poder público proibindo momentaneamente esse tipo de aglomeração. Alguns bares e restaurantes abriram, acintosamente, suas portas, desafiando o que é imposto a todos pela lei.
Como hoje em dia as redes sociais expõem quase tudo, não é difícil verificar que muitas pessoas que tiveram esse comportamento são aquelas que, quando acham conveniente, clamam com veemência pela aplicação exemplar da lei a quem elas julgam criminosos. Ou seja, a espada da lei é para os outros; para eles mesmos, leniência. A frase sempre repetida, e de autoria incerta, foi piorada: para mim, tudo; para os amigos, se sobrar; para os inimigos, a lei.
Para além da discussão do caráter criminoso das condutas acima, e são condutas criminosas, frise-se, elas revelam uma sociedade adoecida, sem o fundamento da solidariedade. Sem essa base, esse fundamento, não é possível construir uma sociedade fraterna, justa e livre. Falta a percepção de comunidade, de que fazemos parte do todo, de que não há vida possível apenas preservando interesses individuais em detrimento da vida comunitária. Empatia, compaixão e solidariedade, a preocupação e o cuidado com o outro, não existem para essas pessoas.
O cenário fica ainda pior quando líderes políticos com grande poder de decisão sobre a vida das pessoas são os protagonistas de tais violações. Propagação de tratamentos sem eficácia comprovada cientificamente, declarações contra vacinas (cuja eficácia tem comprovação científica), promoção de aglomerações, passeios sem máscara (o que além de ser uma violação da norma é um péssimo exemplo), pouco ou nenhum empenho em políticas públicas de combate à pandemia, entre outras, são práticas recorrentes de algumas figuras públicas no nosso país.
Sem contar a falta de empatia e solidariedade com vítimas fatais e seus familiares. Não é demais lembrar que maioria dessas figuras chegaram ao poder surfando em um discurso contra a corrupção e bradando pela aplicação implacável da lei e da ordem.
Aqui também parece que o desejo de aplicação firme da lei só vale para os outros, para quem não está do mesmo lado no espectro político, para quem não compartilha das mesmas ideologias. Não punir os autores dessas condutas é um péssimo sinal, uma disfuncionalidade das instituições, que compromete severamente o regime democrático de direito e adoece ainda mais a sociedade como um todo.
No momento em que mais de mil pessoas morrem por dia no Brasil, vítimas da covid-19, é bem atual a frase de John Donne: "Não perguntem por quem os sinos dobram; e por você que eles dobram". Como não há solidariedade de todos, que haja a aplicação da lei e da ordem para, rigorosamente, todos. Senão, sequer teremos condição de perguntar por quem os sinos dobram; daqui a pouco estarão dobrando, literalmente, por nós mesmos.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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