Mesmo pertencendo ao mesmo partido do presidente da República, o presidente da Câmara dos Deputados,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), indiretamente criticou (1) hoje o Executivo no evento promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) que celebrou o Dia Mundial do Trabalho, no autódromo de Interlagos, em São Paulo. Era uma defesa ao deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, de quem a Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, suspeita de indícios de envolvimento no esquema de desvio de dinheiro do BNDES, desbaratado pela Operação Santa Tereza.
Chinaglia se referia à “espionagem” da Polícia Federal na semana passada na qual, segundo matéria do jornal
O Estado de S. Paulo, os responsáveis pelas investigações da operação espreitaram o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), quando espionavam um lobista nas dependências da Câmara. O tal lobista seria “amigo e assessor do deputado Paulinho da Força” e integrante da quadrilha que operava o esquema supracitado.
No discurso proferido hoje, o presidente da Câmara disse que, caso a PF quisesse realizar suas tarefas investigativas no interior da Casa, deveria comunicar previamente. “A Polícia Federal primeiro tem de cumprir o seu dever e depois, se quiser entrar, tem de comunicar antes", bradou o petista, acrescentando que nem mesmo durante os “anos de chumbo” da ditadura militar a PF entrou no Congresso sem autorização para investigar. “A ditadura nunca invadiu o Parlamento.”
Em seguida, Chinaglia abrandou o discurso e disse ter confiança em que, caso haja uma proibição expressa da Câmara à PF em relação a investigações em autorização prévia, o ministro Tarso Genro a acataria. "Ele disse que se houver a proibição ele vai aceitar. (...) Se alguém do povo quiser procurar um parlamentar para reivindicar, fazer uma denúncia, e ele se sentir vigiado, policiado por câmeras, pode não se sentir à vontade."
O deputado petista já havia
criticado a postura do ministro da Justiça, Tarso Genro, que defendeu os procedimentos de seus agentes nas investigações na Câmara. Genro alegou que “a privacidade dos gabinetes e a intimidade do plenário” não foram violadas (
leia), e que não é proibido filmar ou fotografar nos locais em que foi feito trabalho. Um agente da PF filmou a movimentação do lobista nos corredores da Casa.
Em relação às declarações do ministro, Chinaglia ponderou. “Sei que o ministro Tarso Genro é um democrata e ele está fazendo uma consideração do ponto de vista teórico do espaço público, mas tem conseqüência do ponto de vista do poder."
(Fábio Góis)