O presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Jorge Mattoso, admitiu ontem que a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa deve ter sido executada dentro da própria instituição. A declaração foi feita por ele ao analisar cópia do extrato obtida pela CPI dos Bingos. "Se essa cópia for verdadeira, não pode ter sido emitido por um posto de auto-atendimento e nem da internet", afirmou, em encontro com os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR), Flávio Arns (PT-PR) e Wellington Salgado de Oliveira (PMDB-MG).
A declaração, reproduzida pelos senadores, foi confirmada pela assessoria de imprensa da Caixa. Os extratos divulgados na imprensa, segundo Mattoso, não são emitidos em caixas eletrônicos ou pela internet, mas no próprio banco. Na hora em que o documento foi expedido, às 20h58 da última quinta-feira, Francenildo estava na sede da Polícia Federal em Brasília e as agências da Caixa já estavam fechadas havia mais de três horas.
Mattoso informou aos senadores que a sindicância que apura o caso será concluída em 15 dias. Mesmo admitindo a possibilidade de a violação ter sido feita na Caixa, ele disse que, sem o documento original, é difícil chegar aos responsáveis pelo crime. Mattoso e a CPI pediram a cópia do extrato bancário à revista Época, que levantou o assunto. O presidente da Caixa disse aos senadores que é difícil rastrear as operações de consulta (saldo e extrato) e que o banco realiza mais de 200 milhões de operações diárias.
PF abre inquérito sobre quebra de sigilo de caseiro
A Polícia Federal inicia hoje as investigações para apurar os responsáveis pela violação ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. O delegado Rodrigo Carneiro Gomes será o responsável pelo caso.
A pedido do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a investigação também irá abranger a origem de depósitos de cerca de R$ 25 mil na conta dele na Caixa Econômica Federal. Anteontem, o Coaf enviou relatório à PF no qual identifica como movimentação atípica os créditos feitos na conta de Francenildo desde janeiro deste ano.
Parlamentares da base governista têm levantado a suspeita de que o caseiro teria recebido dinheiro para atacar Palocci na CPI dos Bingos. Nildo alega que o dinheiro foi depositado por um empresário de Teresina (PI), que seria seu pai biológico, em troca do silêncio sobre a paternidade.
Outros servidores públicos, também ligados ao Ministério da Fazenda, poderão ser chamados para depor. No curso dos interrogatórios, a PF planeja fazer buscas e apreender documentos em áreas de onde estariam os registros da suposta invasão da conta do caseiro. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pediu que o procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza Fernandes, destaque procuradores para acompanhar de perto das investigações da PF. Bastos disse a auxiliares que não pode haver dúvidas sobre a atuação da polícia no caso. O Ministério Público decidiu também abrir uma investigação própria para apurar o caso.
Ontem, o advogado Wlicio Chaveiro Nascimento, que representa o caseiro, entregou ao presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), documento no qual seu cliente autoriza a comissão a quebrar seus sigilos fiscal, bancário e telefônico.
Efraim disse que vai submeter o documento à CPI na reunião marcada para hoje. "O sigilo já foi completamente exposto, não tem mais nada a esconder", afirmou o advogado, referindo-se ao vazamento, na sexta-feira passada, do extrato bancário de Nildo.