Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Notícias >
  3. Sinal de alerta entre independentes do PMDB

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News

Sinal de alerta entre independentes do PMDB

Congresso em Foco

13/7/2005 23:48

A-A+
COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA
Sônia Mossri e Edson Sardinha


Com 74 anos bem vividos na política, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), teme que as incursões do Palácio do Planalto sobre parlamentares acabe impondo uma derrota aos que pregam a saída do governo na convenção nacional do partido, no próximo dia 12. Um dos poucos senadores do PMDB que defende a saída do partido do governo, ele avalia que a farta distribuição de cargos e verbas pode acabar comprando o apoio dos convencionais.

"Não sei se vai ser essa decisão, porque o governo está fazendo tanta promessa. Dos 23 senadores da bancada, 19 querem que não haja convenção. Na Câmara dos Deputados, mais de 40 não querem a convenção", afirmou.

Admirador confesso da figura do presidente Lula, o senador gaúcho é um crítico do governo federal, que, segundo ele, só se salva na política internacional. As críticas vão desde os critérios adotados para a formação do ministério até a apatia das políticas sociais, passando pela relação do Executivo com o Congresso.

"A cada votação, compra-se uma parte da bancada, com uma emenda daqui e outra dali. Sempre o troca-troca. Essa relação (com o Congresso) está igual à que havia no governo Fernando Henrique, diria até com menos categoria", observa.

Na tarde da última quinta-feira (2), Simon recebeu o Congresso em Foco no seu gabinete no Senado. Religioso, mostrou que é um homem de fé. Mesmo com toda a decepção que tem em relação aos dois primeiros anos do governo Lula, o senador gaúcho não esconde que ainda tem esperança que ocorram mudanças de rumo a partir da reforma ministerial.

"O Lula se cercou equivocadamente, mas não errou, nesse sentido, porque pôs pessoas que estavam o tempo todo com ele. Eram ótimas quando ele era presidente do partido. Essas pessoas não se adaptaram e não entenderam que sentar naquela cadeira era diferente. Não posso deixar de dizer que eu creio. Mas acho que ele vai fazer um remanejamento grande nesta reforma ministerial. Acredito nessa mudança", admitiu.

Em 2002, Simon lançou-se como pré-candidato do PMDB à presidência. Acabou preterido, de última hora, pela ala do partido que defendia o apoio à candidatura do tucano José Serra. Hoje, vê os seus antigos "inimigos íntimos", como os deputados Michel Temer (SP) e Geddel Vieira Lima (BA), defenderem o desembarque do governo para reforçar o projeto da candidatura própria em 2006.

E observa com curiosidade os movimentos do atual líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), ardoroso defensor da candidatura Serra há dois anos, para manter a aliança com o governo Lula. As divisões internas do PMDB não são nenhuma novidade.

No partido desde a sua fundação, Simon identifica o momento em que o velho MDB, como prefere chamar a sigla, começou a perder terreno. "O MDB foi um grande partido da história do Brasil até o dia em que o doutor Tancredo (Neves) morreu (em 1985). A partir daquele dia, o MDB passou a viver um drama interno do qual não saiu até hoje", considera.

Militante histórico da legenda, Simon é um dos quatro senadores do PMDB que se recusaram a assinar o pedido de adiamento da convenção, articulado pelo presidente do Senado, José Sarney (AP), e os ministros da Previdência Social, Amir Lando, e das Comunicações, Eunício Oliveira, principais defensores da permanência na base governista.


Congresso em Foco - Como membro histórico do PMDB, o senhor considera que vale a pena continuar no partido com essa briga toda? O seu lugar ainda é o PMDB?

Pedro Simon
- Eu nunca me fiz essa pergunta. Eu sou do PMDB, criei-me no PMDB e fundei o PMDB. Aliás, nem falo em PMDB, mas no velho MDB. Estamos, só para variar, numa hora complicada. Nós do MDB do Rio Grande do Sul, desde o início, defendíamos que o partido não deveria participar do governo Lula. Que deveria ter uma posição de independência ou aquilo que se chama de apoio crítico. Entendemos que o partido não deve ir para o lado do PSDB, do PFL e do PDT. A experiência mostra que, se o MDB se unir para formar uma oposição maciça, o governo estará, em pouco tempo, numa situação de instabilidade política.

"Nós do MDB do Rio Grande do Sul, desde o início, defendíamos que o partido não deveria participar
do governo Lula. Que deveria ter uma posição de independência ou aquilo que se chama de apoio crítico"

A tendência é que a convenção de 12 de dezembro aprove a posição de independência do partido. Só o anúncio disso já não cria uma instabilidade política?

Essa instabilidade é compreensível, o que não pode haver é uma oposição rancorosa ao governo. Não podemos ir para o lado do PSDB e do PFL porque estamos vivendo no Congresso Nacional uma situação surrealista. Estamos vendo o PSDB e o PFL fazerem um discurso quase igual ao que o PT fazia nos oito anos do governo Fernando Henrique. E o PT fazendo agora, no governo Lula, um discurso quase igual ao que o PSDB e o PFL faziam na administração anterior. Na questão da reforma da Previdência: o PT enlouqueceu contra a taxação dos inativos durante o governo FHC. Agora votou a favor, enquanto o PSDB e o PFL diziam achar um escândalo taxar os inativos. Na época do Fernando Henrique, eles eram a favor. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), está dizendo agora que o partido não votará o Orçamento enquanto não se der um reajuste justo para o trabalhador. E o PT defendendo que não dá pra dar um aumento justo para o trabalhador. Nesse contexto, que é falso, sinto-me à vontade por ter uma posição de independência crítica e votar a favor daquilo que o meu pensamento sempre defendeu e votar contra aquilo que sempre refutei.

"Não podemos ir para o lado do PSDB e do PFL porque estamos vivendo no Congresso Nacional uma situação surrealista. Estamos vendo o PSDB e o PFL fazerem um discurso quase igual ao que o PT fazia nos oito anos do governo Fernando Henrique. E o PT fazendo agora, no governo Lula, um discurso quase igual ao que o PSDB
e o PFL faziam na administração anterior"

Como o senhor avalia a posição de colegas de partido que insistem em continuar no governo como se o presidente Lula fosse implantar, a partir de agora, um governo de coalizão e que reivindicam mais verbas e cargos?

Eu fico triste. É uma falta de visão da realidade. Aliás, essas pessoas que defendem isso agora são as mesmas que, quando nós queríamos candidatura própria na última eleição - inclusive me apresentei como candidato e houve uma convenção apoiando a candidatura própria há quatro anos - simplesmente apoiaram o candidato Serra, para indicar a vice. E o que é mais estranho, eles sabiam que o Serra iria perder. Não havia quem não sabia que ele iria perder. Fizeram isso até em troca de alguns cargos para permanecer no poder mais quatro ou cinco meses. Muitos desses, como o senador Renan, que eram fanáticos da candidatura Serra, estão defendendo a tese de ficar com o PT. Outros que eram fanáticos pela candidatura Serra falam agora na importância de se lançar uma candidatura própria. A linguagem do MDB é muito dispersiva.

"Muitos desses (que defendem o PMDB no governo),
como o senador Renan (Calheiros), que eram fanáticos da candidatura Serra, estão defendendo a tese de ficar com o PT. Outros que eram fanáticos pela candidatura Serra falam agora na importância de se lançar uma candidatura própria. A linguagem do MDB é muito dispersiva"

Isso é característico do PMDB?

Não são muitos os que, como nós do MDB do Rio Grande do Sul, estão sempre na mesma posição. Se tu analisares com profundidade, todos os partidos estão vivendo situação complicada. O PT dá pena. Era um partido heróico e histórico, o partido da ética e da dignidade. O partido que era a contra-face de cada um no governo que a gente imaginou. Eu, por exemplo, tinha absoluta convicção de que estávamos vivendo uma fase nova. Hoje vejo o pessoal do PT sofrendo na hora de votar e votando coisas absolutamente contrárias àquilo que eles defendiam. Essa medida provisória que transforma em ministro o presidente do Banco Central é grotesca. O cidadão é ministro ou é presidente do Banco Central. No mundo inteiro tem ministro, secretário e presidente de banco. Agora, vamos dizer o ministro presidente do Banco Central? Em qual lugar do mundo existe isso? No entanto, metade do PT na Câmara votou a favor, mas ainda assim magoada.

"Todos os partidos estão vivendo situação complicada.
O PT dá pena. Era um partido heróico e histórico, o partido da ética e da dignidade. Hoje vejo o pessoal do PT sofrendo na hora de votar e votando coisas absolutamente contrárias àquilo que eles defendiam"

O PSDB não está num momento mais tranqüilo?

O PSDB sempre foi um partido também complicado. Por que o Serra vai assumir a prefeitura de São Paulo, mas não quer largar a presidência do partido? Porque o vice-presidente é de Minas Gerais. Há uma disputa que todo mundo sabe. Aliás, o PT e o PSDB são fundamentalmente partidos paulistas. Isso é uma coisa que vai ter de ser analisada na época da eleição. Tivemos duas disputas entre o Lula e o Fernando Henrique, ambos de São Paulo. A situação se repetiu quando Lula ganhou de Serra. Agora falam num confronto entre Lula e Alckmin. São Paulo de novo. Há comentários e uma insatisfação dentro do próprio PSDB mineiro e nordestino nesse sentido.

"O PT e o PSDB são fundamentalmente partidos paulistas. Isso é uma coisa que vai ter de ser analisada na
época da eleição"

Qualquer que seja o resultado da convenção, o PMDB sairá inevitavelmente rachado. Como o partido vai sobreviver a uma convenção em que a maioria deve votar pelo desembarque do governo?

Não sei se vai ser essa decisão, porque o governo está fazendo tanta promessa. Dos 23 senadores da bancada, 19 querem que não haja convenção. Na Câmara dos Deputados, mais de 40 não querem a convenção.

"O governo está fazendo tanta promessa. Dos 23 senadores da bancada, 19 querem que não haja convenção. Na Câmara dos Deputados, mais de 40 não querem a convenção"

Nos últimos 15 anos, o PMDB sempre se dividiu entre apoiar ou não o governo. Desta vez, há algum componente novo nessa disputa?

O MDB foi um grande partido da história do Brasil até o dia em que o doutor Tancredo (Neves) morreu (em 1985). A partir daquele dia, o MDB passou a viver um drama interno do qual não saiu até hoje. Se o Tancredo tivesse sido presidente, teríamos tido um governo do MDB - acho que um bom governo. Mas, bem ou mal, um governo do MDB. O Sarney foi um governo de todos. Ao ser de todos, não foi de ninguém. O MDB ficou num drama se era ou não governo. Quando terminou a gestão Sarney não era mais a hora do doutor Ulysses (Guimarães). Ele perdeu a vez quando a emenda das "Diretas Já" caiu. Se aquela emenda tivesse sido aprovada, o Dr. Ulysses ganhava brincando. Depois dos cinco anos de Sarney, o doutor Ulysses teve um desgaste tremendo exatamente por estar com um pé no governo e outro na oposição. Vieram então os governos Collor e Itamar, que era do MDB e queria governar conosco, mas aí já estava na presidência do partido o Quércia, que preferiu ser candidato de oposição. O governo Itamar não foi um fracasso, foi excepcional e, diga-se de passagem, lançou o Plano Real.


Mas quem se valeu do Real foi um tucano, o então ministro Fernando Henrique...

Fernando Henrique, que na época não se elegia nem senador por São Paulo - já falava em ser candidato a deputado federal -, acabou herdando os feitos do governo Itamar e se elegendo presidente. O MDB saiu com Quércia e foi outro fiasco. Em 2002, queríamos ter candidatura própria, mas o grupo a favor de Fernando Henrique não deixou. Embora eu quisesse ser candidato e não tenham me deixado, reconheço que a luta entre PSDB e PT tinha de ser travada naquele instante. Agora é diferente. Até o momento, Lula não disse a que veio. E o PSDB não tem direito de firmar candidato porque ainda não se fez uma radiografia do governo Fernando Henrique. Se o PSDB tiver chance de ganhar, aí se fará essa radiografia. Muita gente no MDB acha que há uma chance para a terceira candidatura e que o partido poderá apresentá-la.

"Fernando Henrique, que na época não se elegia nem senador por São Paulo - já falava em ser candidato a deputado federal -, acabou herdando os feitos do
governo Itamar e se elegendo presidente"

O senhor continua se dando bem com o presidente Lula?

Continuo gostando muito dele.


Quais foram os maiores erros que o presidente cometeu ao se sentar naquela cadeira?

Muito pouca gente não tinha certeza de que o Lula faria um grande governo. A campanha dele foi tão bonita, o final foi tão épico, que todos tinham a convicção absoluta de um grande governo. Pra mim, ele começou a se equivocar quando formou o governo. O que ele fez? Em primeiro lugar, aumentou o número de ministérios de 18 para mais de 30. Escolheu para ministros 19 candidatos que haviam perdido as eleições. Em Santa Catarina, o PT pôs um candidato só para firmar nome na partida, sem nenhuma chance, já que a briga lá sempre foi entre o candidato do Esperidião Amin (PP) e o PMDB. Então, transformam o candidato do PT em Santa Catarina (José Fritsch) em ministro da Pesca. Quem é ele? Um criador de suínos. Muitas pessoas estão fazendo a experiência de aproveitar detritos de suínos para criar peixe em cativeiro. É muito bacana, mas não tem lógica nomear um homem que está fazendo isso ministro da Pesca de um país que tem sete mil quilômetros de costa marítima.

"(Lula) começou a se equivocar quando formou o governo. O que ele fez? Em primeiro lugar, aumentou o número de ministérios de 18 para mais de 30"

O governo tem recebido muitas críticas por causa da área social. O governo também errou aí?

O presidente atravancou ministérios. Na área social, criou as pastas das Cidades, da Mulher e da Fome, por exemplo. Esses ministérios entraram em conflito com os tradicionais e deu no que deu. Depois, ele lançou com toda publicidade o Fome Zero, um programa que o homem da publicidade dele levou ao máximo. Foi um dos programas mais bonitos que já teve, que, de tão espetacular, o cidadão que passava fome imaginava que, na segunda-feira, teria uma cesta de alimentos em frente à sua casa. Ficou só no programa, de onde não saiu até agora. Acho que o Lula é um grande líder. Em nível internacional, dou nota dez para ele. Muito melhor dos que os outros, diria que não teve presidente como ele. Veja o entendimento que governo está fazendo com a China, a Índia, a África do Sul e a postura que ele tem em relação à América Latina. O Fernando Henrique era burguês, viajava para a França, falava na América Latina meio forçado.

"O presidente atravancou ministérios. Na área social,
criou as pastas das Cidades, da Mulher e da Fome,
por exemplo. Esses ministérios entraram em conflito
com os tradicionais e deu no que deu"

O presidente Lula continua refém da postura tradicionalmente centralizadora do PT?

Em nível internacional, nota dez para Lula. Em nível interno, ele não é o que poderíamos chamar de um tocador de obra. Ele é um líder, um presidente. Mas o governo não anda. Há questões singelas, que não têm maiores significados, que são reveladoras. Fernando Henrique passou oito anos querendo comprar um avião. Ele dizia que chegava a Paris e não podia baixar o avião no Charles de Gaulle porque a aeronave largava muita fumaça e fazia um barulho enorme e que tinha de descer, por isso, no setor da carga. Fernando Henrique queria, mas a assessoria dele não deixou, argumentando que o Brasil não poderia comprar um avião, que era muito ruim para o governo, mal como estava, comprar um avião. E ele não comprou. Lula comprou no primeiro ano. Será que não teve alguém que dissesse para ele que essa compra era equivocada? Agora, Lula saiu do Alvorada para reformar o Palácio. Por que, com tanta coisa para fazer, o governo do PT vai reformar um palácio? Ele adora a Granja do Torto, então, por que não fica lá? São coisas pequenas, mas que revelam que ele não tem um conjunto de pessoas para coordenar, decidir e organizar.

"Fernando Henrique queria (comprar um avião),
mas a assessoria dele não deixou, argumentando
que era muito ruim para o governo, mal como estava, comprar um avião. E ele não comprou. Lula comprou
no primeiro ano. Será que não teve alguém que
dissesse para ele que essa compra era equivocada?"

Que avaliação o senhor faz entre a relação política do governo com os partidos?

Nos primeiros dias, a gente imaginava que o PT e o Lula teriam uma argumentação, que mudariam a realidade brasileira. Que o PT, partido sério e responsável, iria sentar à mesa e dialogar com o MDB e os outros partidos. Mas foi igual ou pior em relação ao Fernando Henrique. A cada votação, compra-se uma parte da bancada, com uma emenda daqui e outra dali. Sempre o troca-troca. Essa relação está igual à que havia no governo Fernando Henrique, diria até com menos categoria. É um troca-troca como o que aconteceu agora na Câmara, quando os deputados só aceitaram voltar a votar depois que as emendas foram liberadas no Diário Oficial. Ou seja, não há intenção de valorizar os partidos. O Renan (Calheiros, líder do PMDB no Senado) tinha apoiado o Serra e o governo foi buscá-lo, mexeu nos partidos pelo meio, inchou o PTB e dobrou o PL. O PT está agindo por meio daquilo que tem de mais triste e dramático na política brasileira, que é o troca-troca.

"(A relação do governo com os partidos políticos) foi igual ou pior em relação ao Fernando Henrique. A cada votação, compra-se uma parte da bancada, com uma emenda daqui e outra dali. Sempre o troca-troca"

O senhor é um homem bastante religioso. Ainda tem esperança no atual governo?

Não vi nada de pessoal no Lula que eu possa dizer que ele está nisso. O Lula se cercou equivocadamente, mas não errou, nesse sentido, porque pôs pessoas que estavam o tempo todo com ele. Eram ótimas quando ele era presidente do partido. Essas pessoas não se adaptaram e não entenderam que sentar naquela cadeira era diferente. Não posso deixar de dizer que eu creio. Mas acho que ele vai fazer um remanejamento grande nesta reforma ministerial. Acredito nessa mudança.


Como o senhor vê essa disputa que houve ao longo do ano entre o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), pela presidência da Casa?


É uma página triste. Sarney não precisava entrar nessa. Um ex-presidente da República é um candidato natural à presidência do Senado se não houvesse o impedimento da Constituição. Se não fosse isso, ninguém o tiraria dali, porque ele faz um bom trabalho. Mas mudar a Constituição? A proibição da reeleição, com a possibilidade da rotatividade no cargo, é uma das poucas coisas boas que a ditadura militar fez. Antes, parlamentares vinham e ficavam oito ou nove anos na presidência, eternizando-se como deuses.


Mas a estratégia do líder do partido no Senado de paralisar a votação na Câmara também não é estranha?


Eu concordo contigo. Mas só digo que o Renan está no direito dele de disputar a presidência. O Sarney é que não tem direito de mudar a Constituição para continuar na presidência. Decidido isso, o resto seria conseqüência. Se o Sarney tivesse desistido e não tivesse colocado todo o governo nessa briga, o Renan não seria candidato, aí ele mesmo (Sarney) indicaria outro nome da bancada.


Há quem diga que Sarney tem mais poder hoje do que quando foi presidente da República. Talvez a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) ganhe até um ministério. Não é uma situação inusitada?


Isso começou quando ele foi eleito presidente do Senado pela primeira vez. O Fernando Henrique veio aqui e o fez presidente. Quem estava com a eleição ganha e terno novo era o Íris Rezende (PMDB-GO). O Íris até chegou tarde naquele dia, já na hora da votação. Ele olhou o painel e arregalou os olhos para ver que o Sarney havia vencido a eleição. Há dois anos, Renan tinha maioria na bancada. Lula, então, veio, conversou e acertou com ele. Resultado: Sarney de novo presidente. O Sarney tem um estilo envolvente.


Os governistas do PMDB acham que dificilmente vão conseguir adiar essa convenção. Eles estão até buscando argumentos jurídicos para isso. O senhor acha que o governo vai tentar alguma jogada até o dia 12?

Não me surpreenderei com isso. O MDB do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e de São Paulo manterá uma posição firme na convenção. Agora, quando vejo que, no Senado, apenas quatro senadores ficaram a favor e 19 contra a convenção e, na Câmara, 60% da bancada são contrários à convenção, não me surpreenderei se forem derrotados os que querem se afastar do governo.

"Quando vejo que, no Senado, apenas quatro senadores ficaram a favor e 19 contra a convenção e, na Câmara,
60% da bancada são contrários à convenção, não me surpreenderei se forem derrotados os que querem se afastar do governo"

Qualquer que seja a decisão da convenção, o senhor acredita que haverá uma debandada no partido? Isso não definiria melhor quem é quem no PMDB?

Não saberia responder. Mas acho que não haverá uma ruptura nesse sentido. O pessoal do MDB vai sair para onde? Os lugares dos outros partidos nos estados estão todos ocupados, como em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Há os deputados que vão sair, mas as grandes lideranças não vão sair.


Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Temas

Reportagem

LEIA MAIS

Equação complicada

Dívidas em troca de apoio

A nova cara do PFL

NOTÍCIAS MAIS LIDAS
1

REAÇÃO AO TARIFAÇO

Leia a íntegra do artigo de Lula no New York Times em resposta a Trump

2

VÍDEO

Valdemar Costa Neto admite "planejamento de golpe", mas nega crime

3

TRAMA GOLPISTA

Quem são os próximos a serem julgados por tentativa de golpe no STF?

4

TRANSPARÊNCIA

Dino pede que PF investigue desvios em emendas de nove municípios

5

VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Filha de Edson Fachin é alvo de hostilidade na UFPR, onde é diretora

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES