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Paulo José Cunha
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4/9/2017 | Atualizado 10/10/2021 às 16:36
[fotografo]Reprodução/Rede[/fotografo][/caption]O fogo não é considerado uma forma civilizada de protestar pelos danos que causam aos bens públicos e privados. E também por só atingir bens físicos, nunca chegando ao alvo real do protesto - a figura do dirigente indesejado. Numa imagem grosseira, nunca se viu nenhum presidente ou qualquer político alvo de protesto sendo incendiado durante uma de suas aparições em público. Primeiro, porque produziria uma imagem apavorante e repulsiva. Segundo, porque o protesto político não visa à eliminação do adversário, mas à sua conversão em objeto de ridículo.
Um parêntese, antes que me acusem de infidelidade aos fatos. Claro que estou, sim, me lembrando do coquetel molotov, uma das mais brilhantes criações da história moderna. Mas o molotov, bom que se diga, é uma arma, antes de ser instrumento de protesto, mesmo produzindo espetacular efeito visual. Foi inventado na Segunda Guerra, quando os russos atiraram de aviões bombas incendiárias sobre os finlandeses, em 1940. Questionado sobre a maldade, o primeiro-ministro russo Viatsheslav Mólotov saiu-se com uma explicação safada, a de que a missão era enviar alimentos aos finlandeses. Um militar finlandês rebateu: "Se vocês nos mandarem alimentos, nós preparamos um coquetel". Pouco tempo depois os finlandeses usavam as garrafas dos "alimentos" russos para a fabricação dos molotov.
O molotov, repita-se, não tem qualquer efeito moral. Sua finalidade é produzir um dano material e/ou físico no adversário. Não se enquadra, portanto, na categoria dos instrumentos de protesto, embora de custo baratíssimo e comprovada eficácia. Foi, portanto, uma grande, inestimável conquista do mundo moderno. Fechemos o parêntese.
No mundo pós-moderno, este em que vivemos, os protestos precisam e exigem forte efeito visual - afinal, vivemos a Civilização da Imagem. Ou alguém já se esqueceu do espetáculo produzido pelos aviões de Bin Laden mergulhando nas torres gêmeas naquele tenebroso 11 de setembro de 2001? Para ele, mais importante do que destruir a Casa da Moeda norte-americana, por exemplo, era produzir uma imagem-símbolo. E isso, apesar da carnificina que gerou o protesto e a repulsa do mundo inteiro, ele obteve com incrível êxito e a um custo relativamente baixo. Mais exatamente, ao preço de uma viagem aérea em qualquer companhia comercial.
[caption id="attachment_307372" align="alignright" width="300" caption=""Nos protestos da atualidade, buscam-se simultaneamente dois efeitos: uma imagem forte e uma sensação repulsiva""]
[fotografo]Mídia Ninja[/fotografo][/caption]De volta ao mundo atual, chegamos aos ovos e aos tomates. Convenhamos que o efeito de contundência de um ou de outro é relativamente pequeno. A história não registra nenhuma vítima de ataque por ovos ou tomates. Mas, nos protestos da atualidade, buscam-se simultaneamente dois efeitos: uma imagem forte e uma sensação repulsiva. Tanto um como outro atendem aos dois requisitos.
Ovos são um pouco mais caros, mas levam vantagem em relação aos tomates, por produzirem uma gosma que provoca imediato efeito de repugnância, mesmo considerando-se, curiosamente, que claras e gemas, se não estão podres, são duas substâncias inofensivas. Ovos, entretanto,têm uma desvantagem: a fragilidade. Difícil transportá-los sem o risco de uma melecância horrorosa, caso o manifestante, no caminho do protesto, dê um esbarrão em alguém ou em alguma coisa. Já o tomate, embora de mais fácil transporte, não causa um efeito tão contundente de repulsa ou repugnância. Mas ganha no quesito imagem e impacto visual, pela riqueza pictórica da cor vermelha que se destaca sobre qualquer fundo, principalmente o branco.
Ambos têm o grande e insubstituível efeito de não serem confundidos com armas de contundência ou de letalidade. São, simplesmente, instrumentos de protesto moral, de comprovada eficácia na imagem dos atingidos, sejam de que credo forem. Pessoalmente, agradam-me fortemente, até por não gerarem qualquer possibilidade de processo por danos físicos (talvez, no máximo, as despesas com a lavanderia). Mas, sim, por produzirem um insubstituível efeito de constrangimento no alvo que os recebe. O leitor pode até discordar, mas não vejo efeito algum quando atingem o alvo da cintura pra baixo. Convém, portanto, mirar no alvo da cintura para cima. O resultado é maravilhoso.
Uma última observação pessoal: embora o tomate seja mais barato e produza o já mencionado efeito visual mais forte, recomendo o ovo, apesar das igualmente mencionadas dificuldades de transporte, sobretudo pela facilidade com que sua forma oblonga se adapta à mão fechada, facilitando a pontaria.
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